A oração no quotidiano de São Francisco Xavier

Cón. José Manuel dos Santos Ferreira, Pároco de São Francisco Xavier

Ao aproximar-se a festa de São Francisco Xavier, nosso Padroeiro, proponho que tomemos consciência da importância da oração na vida do grande Missionário, que, também nesta dimensão da sua vida espiritual e apostólica, pode ser para nós um grande exemplo e um admirável modelo.

Antes de mais, tenhamos em conta a importância que reconhecia à oração que pedia aos outros, e como se apoiava nela por entre as grandes provações pelas quais passou:

“Ainda na Europa, todas as viagens de Francisco Xavier foram acompanhadas por múltiplos perigos e recheadas de dificuldades, como o próprio referiu nas suas cartas. Entre as dificuldades vividas por Xavier destacam se as tormentas, mas também as doenças e ainda as dificuldades, melhor, os fracassos frequentes da sua atividade evangelizadora. Nesse sentido, Francisco Xavier fez numerosos apelos aos seus companheiros, incluindo ao Geral Inácio de Loyola, para que os mesmos se lembrassem dele nas suas orações, assim como aos recém-convertidos.

Outras vezes, Francisco Xavier agradecia aos seus companheiros as orações destes, às quais atribuiu a sua salvação em momentos difíceis, como escreveu em uma carta de 27 de janeiro de 1545, onde dizia que «dos perigos que Deus Nosso Senhor me tem guardado, creio, sem duvidar, que foi por vossas orações e dos da Companhia»”.

A oração, que ele próprio vivia e ensinava a viver, enchia os seus dias:
“A leitura dos seus escritos, assim como das suas biografias, permite nos estabelecer com bastante rigor o papel fundamental desempenhado pela oração no quotidiano de S. Francisco Xavier.

Mal acordava, de madrugada, fazia a sua meditação, rezava o breviário, celebrava a Santa Missa e depois ia de casa em casa com um crucifixo e seu intérprete, ou um ou mais meninos que sabiam bem as orações, e inteirava-se se havia algum defunto para aí de imediato se dirigir em oração.
Estes trabalhos ocupavam a sua manhã até às 10-11 horas (segundo a instrução de Malaca de 1545 duraria uma hora e meia).

Depois o Padre dirigia-se com o famoso sino pelo povoado para chamar os meninos e também crescidos para a doutrina cristã e ensinava-lhes durante uma hora as verdades da fé e as orações traduzidas para as línguas locais, exortando-os à penitência.

Como tinha feito aos alunos de Paris, fazia repetir uma ou mais vezes as orações aos seus ouvintes, primeiro através de uma acompanhante para que as entendessem melhor e logo todos juntos, até as saberem de cor.

À tarde dedicava uma outra hora a ensinar o Catecismo.
Uma vez por semana reunia todos os adultos (geralmente as mulheres ao Sábado e os Homens ao Domingo) durante duas horas, para realizar o culto religioso e a instrução. Mandava-os repetir as verdades e orações do seu catecismo tâmil [língua falada, entre outras regiões, no Sul da Índia e em Malaca] e declarava os com a ajuda dum intérprete.

No final fazia uma exortação onde lhes explicava o Evangelho ou as verdades do Catecismo ou as orações.
Após terminar a sua instrução do povo, deixava uma cópia do seu catecismo em folhas de palmeira, e aos que sabiam escrever convidava também a copiar as orações e a aprendê-las de memória e recitá-las todos os dias. Além disso, designava um local em cada sítio para continuar seu trabalho e reunia as pessoas ao Domingo para as orações.

Quando regressava ao povoado, não deixava, apesar da fadiga, de testar se pelo menos os meninos sabiam as orações.
Finalmente, tinha grande preocupação em que os recém-convertidos realizassem as suas orações em privado”.
(Textos extraídos do artigo de Maria Cristina Osswald, “A Oração em S. Francisco Xavier”, publicado em Via Spiritus 14 (2007), pp. 10-11 e 13-14, acessível em https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/6119.pdf).

Celebrar São Francisco Xavier deverá ser também para nós (com palavras do Papa Francisco), uma oportunidade para “redescobrir o grande valor e a necessidade absoluta da oração”.

Convido cada um a atualizar e renovar o seu programa diário de oração, para viver com intensidade o Advento que hoje começa e para celebrar com verdade o próximo Natal.