XXXIV Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Amando, não interessa pensar no que porventura receberemos. O que interessa pensar é no que damos. No que arrancamos de nós, como expressão da nossa dependência.
Se para o efeito tivermos de enfrentar as circunstâncias ou a opinião dos outros, e ficar sozinhos num mundo hostil, tanto melhor. Mais autêntico então se revela em nós o amor de Deus. Pois quem apenas O ama só na prosperidade, verdadeiramente não é a Deus que ama; é a si que ama. Daí vem que tantos se aproximem e se afastem da Igreja, conforme a direção do vento.
O Reino de Deus não é deste mundo; mas é com os padrões do mundo que eles o avaliam. Querem unicamente pão para as suas digestões – e, por conseguinte, querem o Reino de Deus, se imaginam que ele, direta ou indiretamente, lho assegura; mas logo o aborrecem, se concluem que, afinal, ele é, como de facto é, coisa do espírito e não do estômago.»
D. António dos Reis Rodrigues, A semente lançada à terra – Breves notas de espiritualidade
O olhar da cruz
Hoje o nosso Rei olha-nos da cruz como uma “brasa ardente”.
Cabe-nos escolher sermos espetadores ou envolvidos. Vemos as crises de hoje, o declínio da fé, a falta de participação…
E que fazemos? Limitamo-nos a fazer teorias, limitamo-nos a criticar, ou arregaçamos as mangas, comprometemo-nos na vida, passamos do “se” das desculpas ao “sim” da oração e do serviço?
Falamos todos os dias do que está errado no mundo e também na Igreja. Mas depois fazemos alguma coisa? Metemos as mãos na massa, como o nosso Deus pregado no madeiro, ou ficamos a olhar com as mãos nos bolsos?
Hoje, enquanto Jesus, despido na cruz, tira todo o véu sobre Deus e destrói toda a falsa imagem da sua realeza, olhemos para Ele a fim de encontrar a coragem de olhar para nós mesmos, percorrer os caminhos da confidência e da intercessão e fazer-nos servos para reinarmos com Ele.
“Lembra-Te, Senhor, lembra-Te”: façamos esta oração com maior frequência!
Papa Francisco, 2022
Advento, tempo de oração e de esperança
Monsenhor André Sampaio de Oliveira
Ressoa na Liturgia da Igreja o convite a anunciar a feliz notícia: “Deus vem!”
Duas palavras apenas anunciam a todos os corações a esperança que renova a vida do homem e lhe abre horizontes de uma vida em plenitude. Duas palavras apenas são luz que ilumina o nosso caminho, que aquece os nossos corações e nos abre ao amor de Deus e ao nosso próximo.
Advento, em latim “Adventus”, significa “vinda”. Em que consiste, então, a vinda do Senhor? Será que esta vinda também nos envolve e responsabiliza?
Caminhar em Tempo de Advento é olhar para o nascimento de Cristo, há mais de dois mil anos; é apontar para a Sua última vinda gloriosa; mas é também estarmos vigilantes e atentos às Suas vindas, no hoje das nossas vidas.
Preparar o Natal é olhar para a vinda de Cristo. Ele já veio. Nasceu num lugar concreto, num país concreto e transformou a nossa história e a nossa vida. Naquela pequena povoação da Judeia, em Belém, nasceu Jesus, filho de Maria, e esse Menino iniciou um caminho do qual todos nós somos herdeiros. Olhar para esse acontecimento que marca a história é sermos introduzidos na história da Salvação, no projeto de Deus que vem até nós, de uma forma muito especial, em Seu Filho Jesus.
No Advento também preparamos a última vinda do Senhor. Ele há-de vir na Sua Glória, no final dos tempos. O Advento é um tempo favorável para a redescoberta de uma esperança não vaga nem ilusória, mas certa e confiável, porque está “ancorada” em Cristo, Deus feito homem, rochedo da nossa salvação.
Com esta confiança construímos, agora, o nosso presente e olhamos para o futuro com olhos de esperança, com os olhos de Deus.
Mas “Deus vem!”
Ele vem agora, no hoje das nossas vidas.
Advento é, por isso, tempo de vigilância e de oração, tempo de perceber e experimentar a presença de Deus, a sua visita constante às nossas vidas. Deus vem agora a nós de muitas maneiras, através dos acontecimentos e das pessoas. Seja, pois, este tempo um estímulo para estarmos com os olhos e os corações bem abertos, vigilantes e atentos à descoberta da presença de Deus nas nossas vidas, na Igreja e na Sociedade, na família, no trabalho, na escola, na dor e na alegria.
Veio, virá e vem sempre. Não é um simples movimento constante de aproximação, mas revela-nos quem é Deus: um Deus que continuamente se aproxima do homem, o resgata e recria. Não é um Deus ausente e desinteressado da nossa vida, mas é um Pai que vela por nós, com amor e carinho.
O advento será, assim, um tempo para reconhecermos Deus tão próximo, que nos impele a agir, a reagir, a dar resposta ao Seu amor, a saborear a alegria da nossa filiação divina.