XXX Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO

Benjamin Vautier, Mulher reza junto a leito de morte

Filho de David, Jesus, tem piedade de mim!.

Façamos hoje esta oração. E perguntemo-nos: Como está a minha oração?”.

É corajosa, tem a boa insistência de Bartimeu, sabe “alcançar” o Senhor que passa, ou contenta-se em dar-Lhe uma saudação formal de vez em quando, quando me lembro? A minha oração expõe o meu coração diante do Senhor? Apresento-Lhe a história e os rostos da minha vida? Ou é anémica, superficial, constituída por rituais sem afeto nem coração?

Quando a fé está viva, a oração é sentida: não mendiga tostões, não se reduz às necessidades do momento. A Jesus, que tudo pode, deve ser pedido tudo, com a minha insistência perante Ele.

Ele não vê a hora de derramar a sua graça e alegria nos nossos corações, mas infelizmente somos nós que mantemos a distância, talvez por timidez, ou preguiça ou incredulidade.

Papa Francisco, 2021

 

Liberta-nos da escuridão e dá-nos um olhar de luz

Ermes Ronchi, 2015

Václav Mánes, Jesus curando o homem cego

Um retrato traçado com três dramáticas pinceladas: cego, mendigo, só. Um mendigo cego: o último da fila, um náufrago da vida, um farrapo confinado à escuridão na margem de uma estrada de Jericó.

Depois, imprevistamente, tudo se desencadeia: passa Jesus e reacende-se o motor da vida, sopra um vento de futuro.
Com o Senhor há sempre um “depois”.
E Bartimeu começa a gritar: Jesus, tem piedade. Não há grito mais evangélico, não há prece mais humana e ardente: piedade dos meus olhos apagados, desta vida perdida.
Mas a multidão ergue um muro ao seu grito: cala-te! O grito de dor está fora de todo o lugar.

É terrível pensar que diante de Deus o sofrimento esteja fora de lugar, que a dor esteja fora do programa. E, todavia, para muitos de nós é assim, desde sempre, porque os pobres perturbam, mostram-nos o rosto negro e duro da vida, esse lugar onde nunca queremos estar e onde tememos cair.
Em vez disso, o cego sente que um outro mundo é possível, e que a sua chave tem-na Jesus. Com efeito, o rabi escuta e responde, escuta e relança.
E assim se liberta toda a energia da vida.

Notemos como cada gesto daqui em diante parece excessivo, exagerado: Bartimeu não fala, grita; não despe a capa, atira-a; não se levanta do chão mas salta.
A fé é isto: um excesso, dos mais ilógicos e belos. Algo que multiplica a vida: «Vim para que tenhais o cêntuplo nesta vida». Acreditar faz bem. Cristo cura toda a existência.

Jesus cura o ser humano, antes de curar o cego. Porque alguém se aproxima d’Ele. Alguém O toca, mesmo que só com a voz. E então emerge do seu naufrágio humano: o último começa a redescobrir-se um como os outros, começa a viver porque foi chamado com amor.

A cura de Bartimeu desencadeia-se quando «salta» e deixa todo o amparo para se precipitar, sem ver, para aquela voz que o chama: guiado, orientado apenas pela palavra de Cristo que então ressoa no ar.

Também nós, cristãos, nos orientamos na vida como o cego de Jericó, sem ver, apenas seguindo o eco da Palavra de Deus, que continua a semear olhos novos, olhos de luz sobre a Terra.

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