XXXIII Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO

Angelica Kauffman, Jesus e a Samaritana

Cada cristão tem a grave responsabilidade de ser testemunha consciente, ativa e comprometida do projeto de salvação de Deus.

Na espera do Senhor, façamos frutificar os dons que Deus nos deu.

É com o nosso coração que Jesus continua a amar os publicanos e os pecadores do nosso tempo.

É com as nossas palavras que Jesus continua a consolar os que estão tristes e desanimados.

É com os nossos braços abertos que Jesus continua a acolher os migrantes e refugiados que fogem da miséria e da degradação.

É com as nossas mãos que Jesus continua a quebrar as cadeias que prendem os escravizados e oprimidos.

É com os nossos pés que Jesus continua a ir ao encontro de cada irmão que está sozinho e abandonado.

É com a nossa solidariedade que Jesus continua a alimentar as multidões famintas do mundo e a dar medicamentos e cultura àqueles que nada têm, particularmente os mais pobres, como recordamos neste Dia Mundial dos Pobres.

Manuel Barbosa, scj

 

A oração do pobre eleva-se até Deus

Papa Francisco, Dia Mundial dos pobres, 2024

Giotto, A pregação de S. Francisco de Assis aos pássaros

No ano dedicado à oração, em vista do Jubileu Ordinário de 2025, esta expressão da sabedoria bíblica é ainda mais oportuna.
A esperança cristã inclui a certeza de que a nossa oração chega à presença de Deus; não uma oração qualquer, mas a oração do pobre.

No seu caminho, o profeta Ben Sirá descobre uma das realidades fundamentais da revelação, ou seja, o facto de os pobres terem um lugar privilegiado no coração de Deus, a tal ponto que, perante o seu sofrimento, Deus se “impacienta” enquanto não lhes faz justiça: “A oração do humilde penetrará as nuvens, e não se consolará, enquanto ela não chegar até Deus. Ele não se afastará, enquanto o Altíssimo não olhar, não fizer justiça aos justos e restabelecer a equidade. O Senhor não tardará nem terá paciência com os opressores”.

Ninguém está excluído do coração de Deus, uma vez que, diante d’Ele, todos somos pobres e necessitados. Somos todos mendigos, pois sem Deus não seríamos nada.
E, no entanto, quantas vezes vivemos como se fôssemos os donos da vida ou como se tivéssemos de a conquistar!
A mentalidade mundana pede que sejamos alguém, que nos tornemos famosos, independentemente de tudo e de todos, quebrando as regras sociais para alcançar a riqueza.
Que triste ilusão! A felicidade não se adquire espezinhando os direitos e a dignidade dos outros.

A violência causada pelas guerras mostra quanta arrogância move aqueles que se consideram poderosos aos olhos dos homens, enquanto aos olhos de Deus são miseráveis. Quantos novos pobres produz esta má política das armas, quantas vítimas inocentes!
Contudo, não podemos recuar.

A pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé.
A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se, principalmente, numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária.

Tudo isto requer um coração humilde, que tenha a coragem de se tornar mendigo. Um coração pronto a reconhecer-se pobre e necessitado. Existe, efetivamente, uma correspondência entre pobreza, humildade e confiança.
O homem humilde não tem nada de que se vangloriar nem nada a reclamar, sabe que não pode contar consigo próprio, mas acredita firmemente que pode recorrer ao amor misericordioso de Deus, diante do qual se encontra como o filho pródigo que regressa a casa arrependido para receber o abraço do pai.
O pobre, sem nada em que se apoiar, recebe a força de Deus e coloca n’Ele toda a sua confiança. Com efeito, a humildade gera a confiança de que Deus nunca nos abandonará e não nos deixará sem resposta.

Aos pobres que habitam as nossas cidades e fazem parte das nossas comunidades, recomendo que não percam esta certeza: Deus está atento a cada um de vós e está perto de vós. Ele não se esquece de vós, nem nunca o poderia fazer. Todos nós fazemos orações que parecem não ter resposta. Por vezes, pedimos para sermos libertados de uma miséria que nos faz sofrer e nos humilha, e Deus parece não ouvir a nossa invocação. Mas o silêncio de Deus não significa distração face ao nosso sofrimento; pelo contrário, contém uma palavra que pede para ser acolhida com confiança, abandonando-nos a Ele e à sua vontade. Da pobreza, portanto, pode brotar o canto da mais genuína esperança.
Os pobres têm ainda muito para ensinar, porque numa cultura que colocou a riqueza em primeiro lugar e que sacrifica muitas vezes a dignidade das pessoas no altar dos bens materiais, eles remam contra a corrente, tornando claro que o essencial da vida é outra coisa.

Madre Teresa de Calcutá, uma mulher que deu a vida pelos pobres, quando falou na Assembleia Geral da ONU, a 26 de outubro de 1985, mostrando a todos as contas do terço que trazia sempre na mão, disse: “Sou apenas uma pobre freira que reza. Ao rezar, Jesus põe o seu amor no meu coração e eu vou dá-lo a todos os pobres que encontro no meu caminho. Rezai vós também! Rezai, e sereis capazes de ver os pobres que tendes ao vosso lado. Talvez no mesmo andar da vossa casa. Talvez até nas vossas próprias casas há quem espera pelo vosso amor. Rezai, e abrir-se-ão os vossos olhos e encher-se-á de amor o vosso coração”.

No caminho para o Ano Santo, exorto todos a fazerem-se peregrinos da esperança, dando sinais concretos de um futuro melhor. Não nos esqueçamos de guardar «os pequenos detalhes do amor»: parar, aproximar-se, dar um pouco de atenção, um sorriso, uma carícia, uma palavra de conforto… Estes gestos não podem ser improvisados; exigem uma fidelidade quotidiana, muitas vezes escondida e silenciosa, mas fortalecida pela oração.

 

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