Saudação aos Paroquianos de S. Francisco Xavier
Estimados Paroquianos de S. Francisco Xavier
É com grande alegria que recebo, por nomeação de Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca, a missão de Pároco de S. Francisco Xavier, e todos saúdo com profunda amizade no Senhor.
É bem conhecida a vivência comunitária dos paroquianos de S. Francisco Xavier, até há pouco meses sob a dedicada e incansável condução pastoral do Sr. Pe. António Colimão, a quem exprimo a minha grande e sincera admiração sacerdotal, reforçada ainda pela situação de enfermidade em que se encontra. Em razão da sua doença, a Paróquia esteve ultimamente sob os cuidados pastorais do Sr. Pe. Valter Malaquias, a quem, em nome de todos, saúdo e agradeço cordialmente.
Dos paroquianos de S. Francisco Xavier são igualmente bem conhecidos o seu sentido eclesial, a sua abertura à multiforme vida da Igreja, na vasta dimensão urbana e diocesana em que a Paróquia se insere, e ainda o seu anseio apostólico e evangelizador, na esteira da extraordinária figura de sacerdote e missionário que foi S. Francisco Xavier, padroeiro da Paróquia e também seu modelo e intercessor junto da Santíssima Trindade, como agora confiadamente o quero invocar.
S. Francisco Xavier, rogai por nós!
Como qualquer outra comunidade cristã, a Paróquia de S. Francisco Xavier enfrenta grandes desafios, que consistem essencialmente na construção da comunhão fraterna e eclesial, segundo o vínculo humano e sobrenatural da caridade de Cristo, e no anúncio do Evangelho, que o mesmo Cristo, nosso Senhor, nos mandou realizar, na obediência dócil ao sopro do Espírito Santo.
Para a celebração dos santos mistérios e congregação dos fiéis foi edificada e consagrada a Igreja Paroquial, onde nos reunimos como Ecclesia Dei, Igreja de Deus, assembleia santa e convocada pela Palavra do Pai, que é o seu Verbo invisível e eterno, e que, na plenitude dos tempos, Se fez homem, pelo poder do Espírito Santo, no seio da Virgem Maria.
Em vista da construção deste templo, destinado ao culto divino e em especial à celebração da Eucaristia, inúmeros paroquianos e muitas outras pessoas têm dedicado incontáveis horas de trabalho e de esforço generoso, bem como partilharam – e continuam a fazê-lo – generosos donativos, que só Deus verdadeiramente conhece e só Ele poderá recompensar.
Com a ajuda de Deus e a intercessão da Virgem Santa Maria, Mãe da Igreja, esta multiforme dedicação deverá prosseguir, para satisfazer os graves compromissos assumidos, com total confiança na Providência divina, que não deixará de conduzir-nos, neste âmbito como em todos os âmbitos da vida paroquial. Assim sejamos dóceis às suas inspirações.
Caríssimos paroquianos:
Todos sabeis que eu sou também pároco de Santa Maria de Belém, onde tenho o coração – não o posso esconder – há quase 22 anos, mas também já o tenho aqui convosco, ou seja, já vos começo a ter no meu coração, e assim acontecerá a partir de hoje cada vez mais, e tal é possível porque os bens espirituais não ocupam espaço e, quando se repartem, não diminuem, ao contrário dos materiais, mas aumentam e expandem-se ainda mais.
Por isso posso dizer-vos com sinceridade: já todos estais no meu coração. Se for necessário pedirei a Deus que dilate o meu coração – como diz o Salmo 118[1] – mas, sinceramente, creio que já recebi essa graça, e a todos já sinto como irmãos muito amados em Cristo.
No vasto horizonte que o Evangelho abre diante de nós, penso também nos que ainda não se aproximaram do Senhor, nos que estão mais longe e ainda não são filhos da sua Igreja ou dela se afastaram: a esses também os tenho no coração, como acredito fará cada um de vós, tocado pela misericórdia de Cristo.
Ao vosso serviço estaremos, a partir deste momento, o Sr. Pe. Marcos Martins, jovem sacerdote recentemente ordenado, de quem tanto temos a esperar, que estará connosco como Vigário Paroquial, e eu próprio, como Pároco. Queremos servir-vos no exercício do nosso ministério sacerdotal, que mais não deseja do que a conversão a Cristo, na sua Igreja, e em consequência a santificação, a felicidade e a salvação eterna de todos os homens.
Nesta hora em que assumo a missão de vosso pároco, quero garantir-vos que, na minha oração, vos terei presentes a todos, desde as crianças mais pequeninas aos idosos e doentes, passando pelos jovens, os casais, as famílias, os que vivem sós, os mais esquecidos.
Conto também com a vossa dedicada colaboração fraterna, com a vossa generosidade, criatividade, espírito de iniciativa, e com a vossa oração. É natural que os cristãos esperem muito dos seus sacerdotes. Mas não vos esqueçais de rezar por nós!
Quando S. Francisco Xavier chegou a Portugal, vindo de Roma, tendo demorado três meses na viagem, e depois dos primeiros contactos com a sociedade portuguesa, com outros sacerdotes, com a Corte e até com o Rei, e enquanto ia sendo preparada a sua viagem para a Índia, que só ocorreria cerca de um ano depois, o grande missionário escreveu uma carta a Santo Inácio, com data de 23 de Julho de 1540, em que relata os pedidos de serviço sacerdotal, em especial de pregação, que já lhe tinham sido feitos, e as expectativas que nele eram depositadas. Sem haver, naturalmente, qualquer comparação entre a situação de S. Francisco Xavier e a minha, a não ser que sou pároco da Paróquia que lhe é dedicada, permito-me terminar com estas mesmas palavras com que o santo concluiu esta sua primeira carta:
“O que pedimos muito e muito a Nosso Senhor é que aumente a fé dos que têm alguma consideração por nós e de nós esperam alguma coisa. Pela boa opinião em que nos têm, confiamos muito em Deus Nosso Senhor que Ele nos dará sabedoria e graça para os podermos consolar e dizer o que for necessário e útil para a salvação das almas. Não pela nossa virtude mas pela fé dos que desejam ouvir-nos”[2].
Com a sincera amizade no Senhor, do
Cón. José Manuel dos Santos Ferreira
Pároco de S. Francisco Xavier
[1] Salmo 119 (119), 32.
[2] In Cartas e Escritos de S. Francisco Xavier, introdução de Mário Martins, SJ, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1952, p. 8.