A página da Paróquia de São Francisco Xavier vai apresentar diariamente textos para reflexão neste período conturbado da pandemia.
O texto de hoje é de S. João Crisóstomo.
Eu sou o Pão da Vida
S. João Crisóstomo
Isto é o meu Corpo, dado por vós em sacrifício. Este cálice é a nova aliança no meu Sangue”.
O que se passa aqui? Como pode Jesus dar o seu Corpo e o seu Sangue? Fazendo do pão o seu Corpo e do vinho o seu Sangue, antecipa a sua morte, aceita-a no mais fundo de si mesmo, transforma-a num acto de amor. Aquilo que, visto de fora, é de uma violência brutal – a crucifixão – torna-se, visto de dentro, o acto de um amor que se dá totalmente.
Foi essa a transformação verdadeira que se realizou no Cenáculo e que visava pôr em prática um processo de transformações cujo termo final é a transformação do mundo, até que Deus seja tudo em todos (cf. 1Cor 15, 28).
Desde sempre que, de uma maneira ou de outra, todos os homens esperam no seu coração que se dê uma mudança, uma transformação do mundo. Aqui se realiza o único acto central de transformação capaz de renovar verdadeiramente o mundo: a violência transforma-se em amor e, desta maneira, a morte transforma-se em vida. Dado que este acto transforma a morte em amor, a morte como tal já foi ultrapassada no mais fundo de si mesma, a ressurreição já está presente nela. A morte foi, por assim dizer, abençoada no seu próprio coração, de tal maneira que não pode ter a última palavra.
Esta primeira transformação fundamental, a transformação da violência em amor, da morte em vida, gera outras transformações. O pão e o vinho transformam-se no seu Corpo e no seu Sangue. Mas a transformação não deve ficar por aí; antes, é nesse ponto que deve iniciar-se plenamente. O Corpo e o Sangue de Cristo são-nos dados a fim de que nós próprios sejamos também transformados. Também nós devemos tornar-nos o Corpo de Cristo, consanguíneos com Ele.
Todos nós comemos o único pão, o que significa que, entre nós, nos tornamos um só. A adoração torna-se assim, como dissemos, união. Deus deixou de estar apenas diante de nós, como o Totalmente Diferente. Está dentro de nós, e nós estamos nele. A sua dinâmica penetra em nós e quer, a partir de nós, propagar-se aos outros e estender-se a todo o mundo, para que o seu amor se torne realmente a medida dominante do mundo.