A página da Paróquia de São Francisco Xavier vai apresentar diariamente textos para reflexão neste período conturbado da pandemia.
O texto de hoje é do Papa Francisco.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje
Papa Francisco
Hoje passamos a analisar a segunda parte do “Pai-Nosso”, aquela na qual apresentamos a Deus as nossas necessidades. Esta segunda parte começa com uma palavra que perfuma de dia-a-dia: o pão.
A oração de Jesus parte de uma pergunta, que é muito semelhante à imploração de um mendigo: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje!”. Esta oração provém de uma evidência que muitas vezes esquecemos, ou seja, que não somos criaturas auto-suficientes, e que todos os dias precisamos de nos alimentar.
As Escrituras mostram-nos que para muitas pessoas o encontro com Jesus se realizou a partir de uma pergunta. Jesus não pede invocações requintadas, aliás, toda a existência humana, com os seus problemas mais concretos e diários, se pode tornar prece. Nos Evangelhos encontramos uma multidão de mendigos que suplicam libertação e salvação. Há quem pede o pão, quem pede a cura; alguns a purificação, outros a vista; ou que uma pessoa querida possa reviver… Jesus nunca fica indiferente face a estes pedidos e padecimentos.
Por conseguinte, Jesus ensina a pedir ao Pai o pão de cada dia. E ensina-nos a fazê-lo juntamente com muitos homens e mulheres para os quais esta prece é um grito — muitas vezes abafado — que acompanha a ansiedade de todos os dias.
Quantas mães e quantos pais, ainda hoje, vão dormir com o tormento de não ter no dia seguinte o pão suficiente para os próprios filhos! Imaginemos esta oração recitada não na segurança de um apartamento confortável, mas na precariedade de um ambiente ao qual se adapta, onde falta o necessário para viver. As palavras de Jesus assumem uma força nova. A oração cristã começa por este nível. Não é um exercício para ascetas; parte da realidade, do coração e da carne de pessoas que vivem em necessidade, ou que partilham a condição de quem não dispõe do necessário para viver. Nem sequer os místicos cristãos mais elevados podem prescindir da simplicidade deste pedido. “Pai, faz com que para nós e para todos, hoje, haja o pão necessário”. E “pão” significa água, medicamentos, casa, trabalho… Pedir o necessário para viver.
O pão que o cristão pede na oração não é o “meu” pão mas o “nosso”. Assim quer Jesus. Ensina-nos a pedi-lo não só para nós mesmos, mas para a inteira fraternidade do mundo. Se não se rezar deste modo, o “Pai-Nosso” deixa de ser uma oração cristã. Se Deus é o nosso Pai, como nos podemos apresentar a Ele sem nos darmos a mão? Todos nós. E se roubarmos uns aos outros o pão que Ele nos concede, como podemos dizer que somos seus filhos?
Esta prece contém uma atitude de empatia, uma atitude de solidariedade. Na minha fome sinto a fome das multidões, e então rezarei a Deus enquanto o pedido delas não for ouvido. Assim Jesus educa a sua comunidade, a sua Igreja, a apresentar a Deus as necessidades de todos: “Todos somos Vossos filhos, tende piedade de nós!”.
E agora far-nos-á bem pensar por alguns momentos nas crianças famintas. Pensemos nas crianças que vivem em países em guerra: nas crianças famintas do Iémen, nas crianças famintas na Síria, nas crianças famintas em muitos países onde não há pão, no Sudão do Sul. Pensemos nestas crianças e pensando nelas recitemos juntos, em voz alta, a prece: “Pai, o pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Todos juntos.
O pão que pedimos ao Senhor na oração é o mesmo que um dia nos acusará. Repreender-nos-á o pouco hábito de o repartir com quem está próximo, o pouco hábito de o repartir. Era um pão oferecido à humanidade, e ao contrário foi comido só por alguns: o amor não pode suportar isto. O nosso amor não o pode suportar; nem sequer o amor de Deus pode suportar este egoísmo de não repartir o pão.
Certa vez havia uma grande multidão diante de Jesus; eram pessoas que tinham fome. Jesus perguntou se havia entre eles quem tivesse alguma coisa, e viu que só uma criança estava disposta a partilhar aquilo de que dispunha: cinco pães e dois peixes. Jesus multiplicou aquele gesto generoso (cf. Jo 6, 9). Aquele menino tinha compreendido a lição do “Pai-Nosso”: que os alimentos não são propriedade individual — convençamo-nos disto: os alimentos não são propriedade individual — mas providência a partilhar, com a graça de Deus.
O verdadeiro milagre realizado por Jesus naquele dia não foi tanto a multiplicação — que foi verdadeira — mas a partilha: dai-me o que tendes e eu farei o milagre. Ele mesmo, multiplicando aquele pão oferecido, antecipou a oferenda de Si no Pão eucarístico. Com efeito, só a Eucaristia é capaz de saciar a fome de infinito e o desejo de Deus que anima cada homem, até na busca do pão de cada dia.