A página da Paróquia de São Francisco Xavier vai apresentar diariamente textos para reflexão neste período conturbado da pandemia.
O texto de hoje é de uma homilia do Papa Francisco.

Jesus repreende aqueles que param

Papa Francisco, 12 Março 2018, Capela de Santa Marta

Os galileus acolheram Jesus porque tinham ouvido falar sobre os numerosos milagres que Ele tinha feito em outros lugares e pensaram: «Ele vai fazer de igual modo connosco, far-nos-á bem: que venha, far-nos-á bem a todos”. Assim, quando aquele funcionário do rei na Galileia se aproximou pedindo ajuda para o filho doente, parece que Jesus perde a paciência, a ponto de lhe dizer: «Se não virdes milagres e prodígios, não credes» (Jo 4; 48-50). Em síntese, Ele repreende o facto de que o principal sinal é o prodígio e que com isto todos estão contentes e só desta forma acreditam.

Contudo, diz o Senhor, «não ides a outras partes, não caminheis para outros sítios: onde está a vossa fé?». Porque, ver um milagre, um prodígio e dizer “Tu tens o poder, Tu és Deus” é sem dúvida um acto de fé, mas muito pequenino. Aliás, observando Jesus é evidente que este homem tem um grande poder, mas ali começa a fé e depois deve ir em frente: onde está o teu desejo de Deus? Porque a fé é isto: ter o desejo de encontrar Deus, de O encontrar, de estar com Ele, de ser feliz com Ele.

A primeira leitura ajuda-nos a entender o que faz o Senhor, qual é o grande milagre do Senhor. Na realidade o que Jesus fez é um início, é um sinal; mas qual é o milagre? Em que devemos acreditar, sem ver sinais? É o Senhor que o explica: «Pois Eu vou criar novos céus, e uma nova terra; (…) serão experimentadas a alegria e a felicidade eterna daquilo que vou criar. Pois vou criar uma Jerusalém destinada à alegria, e o seu povo ao júbilo». Portanto, o Senhor estimula em nós este desejo de alegria, esta alegria de estarmos com Ele. E Jesus repreende aqueles que param — “sim, acredito” — e não vão em frente.

Assim, quando o Senhor passa na nossa vida e faz um milagre em cada um de nós, todos sabemos o que o Senhor fez na nossa vida, mas não é tudo: este é o convite a ir em frente, a continuar a caminhar, a procurar o rosto de Deus, diz o salmo, a procurar esta alegria.
O sinal é o início e compreende-se que Jesus é um pouco impaciente — não quero dizer que se chateia, mas é impaciente — quando vê que as pessoas param ao primeiro passo.

A mim acontece reflectir sobre o que pensa Jesus, o que sente Jesus em relação aos cristãos que não caminham, que não vão além, que param ao primeiro passo, à primeira graça recebida.
Em síntese, o que pensa Jesus diante de um cristão que diz: «Sim, estou bem sucedido, levo em frente uma boa vida cristã, vou a missa aos domingos, confesso-me todos os meses, faço algumas obras de caridade, tudo bem e paro ali? Porque há muitos cristãos parados que não caminham, cristãos estagnados nas coisas do dia-a-dia — bons, bons! — mas não crescem, permanecem pequeninos.
São «cristãos estacionados», que se estacionam, cristãos engaiolados que não sabem voar sonhando a beleza para a qual o Senhor nos chama.

Eis que, cada um de nós pode questionar-se: Como é o meu desejo? Sinto-me satisfeito no desejo com a vida que levo em diante ou procuro levar por diante, mesmo com dificuldade, com algumas provações, cada vez mais, mais, mais, porque o Senhor é este mais, mais, mais?

E é esta alegria, este gozar juntos e espera-nos com isto. Portanto, é bom perguntar-se: «Procuro o Senhor deste modo ou tenho medo ou sou medíocre?». Há a tentação de responder: «estou satisfeito com isto…», precisamente como aquele homem que vai ao banquete, que se sacia com as entradas e depois volta para casa: estulto, tu não sabes que o melhor vem depois! E não faz sentido dizer que «para mim as entradas são suficientes».

Preservar o próprio desejo, despertá-lo, significa não se instalar demasiado, ir um pouco em frente, arriscar.
Pois o verdadeiro cristão arrisca, sai da segurança. E se é isto o que nos espera, então será oportuno perguntar se caminho rumo a isto ou permaneço assim, tíbio, sem força. E ainda, qual é a medida do meu desejo: as entradas ou o banquete inteiro?

Peçamos ao Senhor a graça da magnanimidade, de arriscar, de ir em frente: que o Senhor nos dê esta graça.