A página da Paróquia de São Francisco Xavier vai apresentar diariamente textos para reflexão neste período conturbado da pandemia.
O texto de hoje é de D. Tolentino Mendonça.
A Quaresma
D. Tolentino Mendonça
Todos os grandes acontecimentos da nossa vida requerem uma preparação. E quanto mais significativos eles são, mais uma preparação, um caminho eles pedem de nós. É verdade que o inesperado, a surpresa, também têm o seu lugar, mas se queremos tomar uma grande decisão, o nosso coração e a nossa vida têm de preparar-se para isso. Preparação é Quaresma.
A Quaresma é um tempo de mobilização interior, de uma forma muito simples porque tem de ser, porque também é de uma forma muito objectiva, de uma forma muito concreta que eu tenho de me por aberto àquilo que Deus pode fazer em mim. A espiritualidade não é uma zona de conforto, é um caminho, é o desafio, é o desafio a uma estrada que nós temos de abraçar.
Um dos meios que nos são dados, é a oração.Temos de nos tornar mulheres e homens para quem a oração é relevante, existe, cabe no nosso horário, está no nosso dia-a-dia uma oração que seja pessoal e também comunitária. Precisamos intensificar a oração. E intensificar a oração quer dizer apenas isto: intensificar a relação com Deus. Porque a oração é sobretudo isso: relação. Não é cumprir um rito, não é dizer muitas palavras, mas é uma coisa de coração a coração, é sentir que a nossa vida, em cada dia, está diante do olhar de Deus, é sentir que é no diálogo com esse olhar que a nossa vida se constrói, que a nossa vida, dia-a-dia, responde às suas próprias expectativas.
Nesse sentido, somos chamados a um esforço de rezar mais, até porque a grande transformação da nossa vida é um dom de Deus, não é apenas um exercício de auto-correção, mas é, sobretudo, acolher o dom de Deus que nos transforma. Nós somos transformados pelo Espírito, não apenas pela nossa vontade. Somos transformados pelo Espírito e por isso é que aquilo que a nós nos parece impossível, Deus pode tornar possível em nós.
Mas precisamos abrir o nosso coração a essa chegada de Deus, a essa vinda de Deus à nossa vida, através da oração. Tal como o ferro só se dobra a altas temperaturas, e fica como que mole, nós também só atingimos graus de amor, de esperança, de fé nas altas temperaturas da oração – que não tem de ser uma oração especial…
Deus está perto da nossa boca e do nosso coração. Cada um de nós há de encontrar a sua própria oração, o seu próprio caminho, o seu modo de rezar, o seu modo de relacionar-se com Deus, de dizer: “Senhor, eu estou aqui. Senhor, vem. Senhor ajuda-me.”