A página da Paróquia de São Francisco Xavier vai apresentar diariamente textos para reflexão neste período conturbado da pandemia.
O texto de hoje é do Papa Francisco.

A paz que faz sorrir o coração

Papa Francisco

A paz é o «grande dom de Jesus», o «dom de despedida» deixado aos discípulos — «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz» — e o tesouro precioso que distingue o cristão. É a paz verdadeira, não a banal tranquilidade, mas a paz «profunda», que «faz sorrir o coração» até «durante todas as provações, dificuldades, “tribulações”» que se encontram na vida.

Viver em paz no coração, na consciência, viver em paz na família, na comunidade, viver em paz», relacionando-o imediatamente com outra realidade que parece contrastante, a das tribulações. Devemos entrar no reino de Deus através de muitas tribulações..

Perante tantos sofrimentos, onde está a paz de Jesus?. O Senhor Jesus revela a Ananias o mistério de Paulo e diz-lhe: “Ele deverá sofrer muito por mim”. Mostrar-lhe-ei estes sofrimentos.
Eis, então, a dúvida: «Mas a paz de Jesus e estas tribulações que parecem ser caminho para entrar no reino de Deus: como podem estar relacionadas estas duas coisas?
Não se trata só de uma co-presença mas é ainda mais.
Com efeito, esta vida de perseguição, de tribulação que parece ser uma existência sem paz, ao contrário, é uma bem-aventurança.
Diz isto o próprio Jesus, que termina as bem-aventuranças com estas palavras: «Felizes sereis quando disserem mal de vós, vos insultarem, vos perseguirem». Portanto, a paz de Jesus, caminha com esta vida de perseguição, de tribulação. Mas qual paz?

Trata-se de uma paz que está muito abaixo de todas as coisas, é muito profunda. Uma paz que ninguém pode tirar, uma paz que é um dom, como o mar que na profundidade é tranquilo e na superfície tem ondas. E viver em paz com Jesus é ter esta experiência dentro, que permanece durante todas as provações, dificuldades, tribulações.

Nesta perspectiva, compreende-se como os santos no momento do martírio não perderam a paz: Pensai em Felicidade, Perpétua, nestas jovens, Inês. Dizem as testemunhas que iam para o martírio como “se fossem para as núpcias”. Mas, sofriam…. Ou ainda o «velho Policarpo» que no fogo dizia: «Não, não, não… não me pregueis: não fugirei».

Esta paz, a paz de Jesus, é um dom e não a podemos obter por meios humanos, indo a um médico que nos dê a paz ou tomando tranquilizantes. Isto é muito diferente: é o Espírito Santo dentro de nós e este Espírito Santo concede-nos a fortaleza.

Na semana passada tive a possibilidade de ir visitar um doente, um homem que trabalhou muito, que trabalhava bem, a sua vida estava bem, tudo corria bem, e de repente, em três dias, uma doença grave que não sabemos como acabará. Mas ele estava em paz. Confidenciou-me: “Estou assim, o Senhor saberá. Vossa Santidade reze por mim”.
Um cristão é isto, um homem ao qual todos os planos e projectos são alterados pela doença, mas no qual a paz permanece sempre.

Porque a paz, a de Jesus, nos ensina a ir em frente na vida. Ensina-nos a suportar. Suportar é uma palavra cujo significado não compreendemos bem, mas que é muito cristã, significa carregar sobre os ombros. Isto é: carregar nos ombros a vida, as dificuldades, o trabalho, tudo, sem perder a paz. E mais: carregar nos ombros e ter a coragem de ir em frente. Mas só se entende isto quando temos o Espírito Santo dentro que nos concede a paz de Jesus.

De facto, acontece que os homens, no actual modo de viver, muitas vezes se encontram num estado de nervosismo explosivo: “O que acontecerá, o que devo fazer, estou atarefado…”».
Em certos casos, pode-se fazer tudo, carregar-se de compromissos mas sem perder a paz. Porque se tudo isto me fizer perder a paz, alguma coisa não funciona. Mas se pudermos fazer tudo sem perder a paz, tudo está a correr bem.

Por conseguinte, é preciso pedir ao Senhor este dom da paz. Foi Ele que no-lo prometeu: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz, mas não como aquela que o mundo dá».
Uma promessa que explica a própria natureza do dom: O mundo oferece outra paz: está tranquilo, tens dinheiro no banco, nada te falta, podes ir em frente, fica tranquilo. Ao contrário, a paz de Jesus vai além, vai até às dificuldades mais graves e permanece lá. É a paz que a coragem de ir em frente te dá, a paz que te faz sorrir o coração.

De resto, a pessoa que vive esta paz nunca perde o sentido do humor. Sabe rir de si mesma, dos outros, aliás da própria sombra, ri-se de tudo… Este sentido de humor, explicou, está muito próximo da graça de Deus.