A página da Paróquia de São Francisco Xavier vai apresentar diariamente textos para reflexão neste período conturbado da pandemia.
O texto de hoje é do Conselho Pontifício de Cultura.
A Boa Nova do Evangelho para as culturas
Conselho Pontifício de Cultura
A história do Povo de Deus começa por uma adesão de fé que é também uma ruptura cultural para culminar na Cruz de Cristo, também uma ruptura, elevação da terra, mas simultaneamente centro de atracção que dirige a história do mundo para o alto e congrega na unidade os filhos de Deus dispersos: «Quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12, 32).
A ruptura cultural pela qual se inaugura a vocação de Abraão, «Pai dos crentes», traduz aquilo que ocorre no mais profundo do coração do homem quando Deus irrompe na sua existência, para Se revelar e propor-lhe o empenho de todo o seu ser.
Abraão é espiritualmente e culturalmente desenraizado para ser, na fé, plantado por Deus na Terra Prometida.
Esta ruptura sublinha a fundamental diferença de natureza entre a fé e a cultura.
Ao contrário dos ídolos que são o produto de uma cultura, o Deus de Abraão é o Totalmente Outro.
É pela Revelação que Ele entra na vida de Abraão.
O tempo cíclico das religiões antigas teve o seu fim: com Abraão e o povo judeu começa um novo tempo que se torna a história dos homens em marcha para Deus. Não é mais um povo que fabrica para si um deus, é Deus que dá origem ao seu Povo, tornando-o Povo de Deus.
A cultura bíblica ocupa um lugar único: cultura do Povo de Deus, no coração do qual Ele se encarnou.
A Promessa feita a Abraão culmina na glorificação de Cristo crucificado.
O Pai dos crentes, aspirando pelo cumprimento da Promessa, anuncia o sacrifício do Filho de Deus sobre o madeiro da Cruz.
No Cristo que vem recapitular o conjunto da criação, o Amor de Deus chama todos os homens a partilhar da condição de filhos.
O Deus Totalmente Outro se manifesta em Jesus Cristo como Totalmente Nosso: «O Verbo do Eterno Pai, tomando a fraqueza da carne humana, se tornou semelhante aos homens» (Dei Verbum, n. 13).
A fé também tem o poder de atingir o coração de toda a cultura, para purificá-la, fecundá-la, enriquecê-la e dar-lhe a possibilidade de se desenvolver à medida sem medida do amor de Cristo.
Cristo cria uma cultura cujos dois constitutivos fundamentais são, a um título totalmente novo, a pessoa e o amor.
O amor redentor de Cristo revela, para além dos limites naturais das pessoas, o seu valor profundo, que desabrocha sob o regime da Graça, Dom de Deus.
Cristo é a fonte desta civilização do amor, da qual os homens carregam a nostalgia, depois da queda original no jardim do Éden, e que S. João Paulo II, depois de S. Paulo VI, não cessa de nos convocar a realizar concretamente com todos os homens de boa vontade.
Porque o compromisso fundamental do Evangelho, isto é do Cristo e da Igreja, com o homem na sua humanidade, é criador de cultura no seu fundamento mesmo.
Ao viver o Evangelho, dois milénios de história o testemunham, a Igreja esclarece o sentido e o valor da vida, alarga os horizontes da razão e fortalece os fundamentos da moral humana.
A fé cristã autenticamente vivida revela em toda a sua profundidade a dignidade da pessoa e a sublimidade da sua vocação (cf. Redemptor Hominis, n. 10).
Desde as origens, o Cristianismo distingue-se pela inteligência da fé e pela audácia da razão.
Testemunham-no pioneiros como S. Justino e S. Clemente de Alexandria, Orígenes, os Padres Capadócios, o encontro entre o pensamento platónico e neoplatónico e S. Agostinho, depois a integração da filosofia de Aristóteles efectuada por S. Tomás, sem esquecer S. Anselmo, S. Alberto Magno e S. Boaventura, até à época contemporânea ilustrada por Newman e Rosmini, Edith Stein e Vladimir Soloviev, Pavel Florensky e Vladimir Lossky evocados pelo Papa S. João Paulo II na sua encíclica Fides et Ratio.
«O encontro da fé com as diversas culturas deu vida a uma nova realidade», ela criou assim uma cultura original, nos contextos mais diversos.