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Folha Informativa 13-10-2019
Domingo XXVIII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Sabemos agradecer?
Na vossa relação, e amanhã na vida matrimonial, é importante ter viva a consciência de que a outra pessoa é um dom de Deus, e aos dons de Deus diz-se “obrigado”.
E nesta atitude interior dizer-se obrigado mutuamente, por cada coisa.
Não é uma palavra gentil a usar com os estranhos, para ser educado.
É preciso saber-se dizer “obrigado” para avançar bem em conjunto na vida matrimonial.
Papa Francisco, Catequese sobre Matrimónio,14 de Fevereiro de 2012
Reconhecer os dons de Deus
Dehonianos (resumo)
A leitura convida-nos, antes de mais, a tomar consciência de que é de Deus – desse Deus que tem um projecto de salvação para o homem – que recebemos a vida plena.
É em Deus que eu coloco a minha esperança de vida plena, ou há outros deuses que me seduzem, que dirigem a minha vida e que são a minha esperança de realização e de felicidade?
A proposta de salvação que Deus faz destina-se a todos os homens e mulheres, sem excepção. O nosso Deus não é um Deus dos “bonzinhos”, dos bem comportados, dos brancos, dos politicamente correctos ou dos que têm o nome no livro de registos da paróquia… O nosso Deus é o Deus que oferece a vida a todos e que a todos ama como filhos; o que é decisivo é aceitar a sua oferta de salvação e acolher o seu dom. Daqui resultam duas coisas importantes: a primeira é que não basta ser baptizado (e depois prescindir d’Ele e viver à margem das suas propostas); a segunda é que não podemos marginalizar ou excluir qualquer irmão nosso.
O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens, sem excepção, mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.
É preciso que nos apercebamos que tudo é dom do amor de Deus e não uma conquista nossa ou a recompensa pelos nossos méritos ou pelas nossas boas obras. Estou consciente de que é de Deus que recebo tudo e manifesto-Lhe a minha gratidão pela sua presença, pelos seus dons, pelo seu amor?
O acento do episódio de hoje é posto – mais do que no episódio da cura em si – no facto de que, dos dez leprosos curados, só um tenha voltado para trás para agradecer a Jesus e no facto de este ser um samaritano.
Lucas está interessado em mostrar que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido…
E avisa que, com frequência, são os hereges, os marginais, os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus.
Aqueles que recebem de Deus carismas para pôr ao serviço dos irmãos sentem-se apenas instrumentos de Deus e procuram dirigir os olhares e a gratidão dos irmãos para Deus, ou estão preocupados em sublinhar os seus méritos e em concentrar em si próprios a gratidão que brota dos corações daqueles a quem servem?
Curiosamente, os dez “leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece “no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a acção libertadora de Jesus não é uma acção mágica, caída repentinamente do céu, mas um processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efectiva transformação do coração.
Assim, a nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando somos baptizados, ou fazemos a primeira comunhão ou nos crismamos; mas é uma caminhada progressiva, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida nova.
Tomar consciência
P. Dennis Clark, In Catholic Exchange
Algumas feridas no nosso espírito são tão profundas que parecem estar além de qualquer cura. Mas Jesus assegura-nos que não é assim.
O Evangelho deste Domingo mostra-nos por onde começar: nomear as nossas feridas claramente e especificamente.
É o que dizem os leprosos: “Estamos a decompor-nos, Senhor. Cura-nos.”
Alguma vez chegámos a ser tão claros e específicos? Raramente.
O que é mau porque, a não ser que demos nome às nossas feridas e as assumamos como nossas, nunca seremos capazes de as entregar integralmente a Deus para que Ele as cure. Nunca estaremos prontos a trabalhar com Deus nesse longo e lento processo pelo qual somos tratados.
Deus quer que cada um de nós esteja curado e feliz. Porque havemos então de desperdiçar mais tempo? Porque não optamos antes por olhar cuidadosamente para dentro de nós, ver as feridas escondidas desde há muito, nomeá-las claramente, assumi-las e então entregá-las a Deus?
Não há dúvida de que esta atenção às nossas feridas pode entristecer-nos.
E entregar integralmente as dores e as feridas a Deus demorará muito tempo.
Elas fazem tanto parte de nós que é difícil deixá-las partir!
Mas a recompensa é uma vida inteiramente nova.
«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos», diz Cristo.
Folha Informativa 06-10-2019
Domingo XXVII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Fizemos o que devíamos fazer
A vocação do cristão é «servir», nunca «servir-se de».
Gratuitamente recebestes, gratuitamente dai.
A vida cristã é uma vida de gratuidade.
Quando temos necessidade de algo espiritual ou de uma graça, dizemos: “farei jejum, uma penitência, uma novena…”.
Tudo isto está bem, mas fiquemos atentos: isto não é para “pagar” a graça, para “comprar” a graça; isto serve para alargar o teu coração para que chegue a graça.
Papa Francisco, Serviço e gratuidade,11 de Junho de 2019
Fé, entre fragilidade humana e força de Deus
Enzo Bianchi, In “Monastero di Bose”
A fé, que deve ser entendida em primeiro lugar como adesão, só pode estar presente onde existe uma relação pessoal e concreta com Jesus.
A fé não é um conceito de ordem intelectual, não é colocada antes de tudo numa doutrina ou numa verdade, muito menos em fórmulas, nos dogmas. A fé não é, antes de tudo, um “crer que” (por exemplo, que Deus exista), mas é um acto de confiança no Senhor.
Trata-se de aderir a Ele, de a Ele se ligar, de colocar n’Ele a confiança até ao abandono a Ele numa relação vital, pessoalíssima. A fé é reconhecer que da parte do ser humano há fragilidade, portanto não é possível ter fé-confiança em si próprio.
É verdade que a fé é um acto que se situa na fronteira entre fragilidade humana e força que vem de Deus, força que torna possível precisamente o acto de fé.
Não nos esqueçamos que a incredulidade ou a pouca fé denunciadas por Jesus caracterizam a situação do discípulo, não de quem não encontra ou não escuta Jesus.
Os apóstolos estão conscientes de ter uma fé pequena: gostariam de ser gigantes da fé, mas Jesus faz-lhes compreender que a fé, ainda que pequena, se é adesão real a Ele, é suficiente para alimentar a relação com Ele e acolher a salvação. É verdade, a nossa fé é sempre de curto prazo, mas basta ter em nós a semente desta adesão ao poder do amor de Deus operante em Jesus Cristo.
Crer significa, em última análise, seguir Jesus: e quando se O segue, caminha-se atrás d’Ele, muitas vezes vacilando, mas acolhendo a acção com que Ele nos reergue e nos apoia, para que possamos estar sempre onde Ele está.
Nós, cristãos, devemos olhar com frequência para o pequeno grão de mostarda, tê-lo na palma da mão, ter consciência de quanto é minúsculo; mas deveremos também vê-lo com semente semeada, morta debaixo da terra, germinada e crescida, até se tornar grande como uma planta que dá abrigo às aves do céu – imagem usada por Jesus para descrever o Reino de Deus – e, por isso, surpreender-nos. Assim é a nossa fé, pequeníssima, talvez; mas não temamos, porque se a fé existe, é suficiente, porque é mais forte de toda a nossa outra atitude. A fé é a fé: sempre, mesmo se pequena, é adesão a uma relação, é obediência.
A resposta de Jesus aos apóstolos prossegue com uma parábola que lhes diz particularmente respeito, enquanto enviados a trabalhar no campo, na vinha cujo proprietário é Deus.
Jesus adverte-os para o risco de confiarem em si próprios, porque esse é o pecado que se opõe radicalmente à fé.
Isto poderá acontecer também aos enviados que, conscientes de terem feito pontualmente a vontade de Deus, desejariam ser reconhecidos, premiados.
No seguimento de Jesus não se reivindica nada, não se pretendem reconhecimentos, não se esperam prémios, porque nem sequer a tarefa realizada se torna garantia ou mérito. O que se faz pelo Senhor, faz-se gratuitamente e bem, por amor e na liberdade, não para ter um prémio…