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Folha Informativa 13-10-2019

Domingo XXVIII do Tempo Comum (PDF)     TEXTO

Sabemos agradecer?

O leproso agradecido, Jorge Cocco

Na vossa relação, e amanhã na vida matrimonial, é importante ter viva a consciência de que a outra pessoa é um dom de Deus, e aos dons de Deus diz-se “obrigado”.

E nesta atitude interior dizer-se obrigado mutuamente, por cada coisa.

Não é uma palavra gentil a usar com os estranhos, para ser educado.

É preciso saber-se dizer “obrigado” para avançar bem em conjunto na vida matrimonial.

Papa Francisco, Catequese sobre Matrimónio,14 de Fevereiro de 2012

 

 

 

Reconhecer os dons de Deus

Dehonianos (resumo)

Os dez leprosos, Don Detrick

A leitura convida-nos, antes de mais, a tomar consciência de que é de Deus – desse Deus que tem um projecto de salvação para o homem – que recebemos a vida plena.
É em Deus que eu coloco a minha esperança de vida plena, ou há outros deuses que me seduzem, que dirigem a minha vida e que são a minha esperança de realização e de felicidade?

A proposta de salvação que Deus faz destina-se a todos os homens e mulheres, sem excepção. O nosso Deus não é um Deus dos “bonzinhos”, dos bem comportados, dos brancos, dos politicamente correctos ou dos que têm o nome no livro de registos da paróquia… O nosso Deus é o Deus que oferece a vida a todos e que a todos ama como filhos; o que é decisivo é aceitar a sua oferta de salvação e acolher o seu dom. Daqui resultam duas coisas importantes: a primeira é que não basta ser baptizado (e depois prescindir d’Ele e viver à margem das suas propostas); a segunda é que não podemos marginalizar ou excluir qualquer irmão nosso.
O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens, sem excepção, mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.

É preciso que nos apercebamos que tudo é dom do amor de Deus e não uma conquista nossa ou a recompensa pelos nossos méritos ou pelas nossas boas obras. Estou consciente de que é de Deus que recebo tudo e manifesto-Lhe a minha gratidão pela sua presença, pelos seus dons, pelo seu amor?

O acento do episódio de hoje é posto – mais do que no episódio da cura em si – no facto de que, dos dez leprosos curados, só um tenha voltado para trás para agradecer a Jesus e no facto de este ser um samaritano.
Lucas está interessado em mostrar que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido…
E avisa que, com frequência, são os hereges, os marginais, os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus.

Aqueles que recebem de Deus carismas para pôr ao serviço dos irmãos sentem-se apenas instrumentos de Deus e procuram dirigir os olhares e a gratidão dos irmãos para Deus, ou estão preocupados em sublinhar os seus méritos e em concentrar em si próprios a gratidão que brota dos corações daqueles a quem servem?

Curiosamente, os dez “leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece “no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a acção libertadora de Jesus não é uma acção mágica, caída repentinamente do céu, mas um processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efectiva transformação do coração.
Assim, a nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando somos baptizados, ou fazemos a primeira comunhão ou nos crismamos; mas é uma caminhada progressiva, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida nova.

 

Tomar consciência

P. Dennis Clark, In Catholic Exchange

Algumas feridas no nosso espírito são tão profundas que parecem estar além de qualquer cura. Mas Jesus assegura-nos que não é assim.

O Evangelho deste Domingo mostra-nos por onde começar: nomear as nossas feridas claramente e especificamente.
É o que dizem os leprosos: “Estamos a decompor-nos, Senhor. Cura-nos.”
Alguma vez chegámos a ser tão claros e específicos? Raramente.
O que é mau porque, a não ser que demos nome às nossas feridas e as assumamos como nossas, nunca seremos capazes de as entregar integralmente a Deus para que Ele as cure. Nunca estaremos prontos a trabalhar com Deus nesse longo e lento processo pelo qual somos tratados.

Deus quer que cada um de nós esteja curado e feliz. Porque havemos então de desperdiçar mais tempo? Porque não optamos antes por olhar cuidadosamente para dentro de nós, ver as feridas escondidas desde há muito, nomeá-las claramente, assumi-las e então entregá-las a Deus?

Não há dúvida de que esta atenção às nossas feridas pode entristecer-nos.
E entregar integralmente as dores e as feridas a Deus demorará muito tempo.
Elas fazem tanto parte de nós que é difícil deixá-las partir!
Mas a recompensa é uma vida inteiramente nova.
«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos», diz Cristo.

 

Folha Informativa 06-10-2019

Domingo XXVII do Tempo Comum (PDF)     TEXTO

Fizemos o que devíamos fazer

Vincent Van Gogh, Grão de mostarda

A vocação do cristão é «servir», nunca «servir-se de».

Gratuitamente recebestes, gratuitamente dai.

A vida cristã é uma vida de gratuidade.

Quando temos necessidade de algo espiritual ou de uma graça, dizemos: “farei jejum, uma penitência, uma novena…”.

Tudo isto está bem, mas fiquemos atentos: isto não é para “pagar” a graça, para “comprar” a graça; isto serve para alargar o teu coração para que chegue a graça.

Papa Francisco, Serviço e gratuidade,11 de Junho de 2019

 

 

Fé, entre fragilidade humana e força de Deus

Enzo Bianchi, In “Monastero di Bose”

A fé, que deve ser entendida em primeiro lugar como adesão, só pode estar presente onde existe uma relação pessoal e concreta com Jesus.

A fé não é um conceito de ordem intelectual, não é colocada antes de tudo numa doutrina ou numa verdade, muito menos em fórmulas, nos dogmas. A fé não é, antes de tudo, um “crer que” (por exemplo, que Deus exista), mas é um acto de confiança no Senhor.

Trata-se de aderir a Ele, de a Ele se ligar, de colocar n’Ele a confiança até ao abandono a Ele numa relação vital, pessoalíssima. A fé é reconhecer que da parte do ser humano há fragilidade, portanto não é possível ter fé-confiança em si próprio.

É verdade que a fé é um acto que se situa na fronteira entre fragilidade humana e força que vem de Deus, força que torna possível precisamente o acto de fé.
Não nos esqueçamos que a incredulidade ou a pouca fé denunciadas por Jesus caracterizam a situação do discípulo, não de quem não encontra ou não escuta Jesus.

Os apóstolos estão conscientes de ter uma fé pequena: gostariam de ser gigantes da fé, mas Jesus faz-lhes compreender que a fé, ainda que pequena, se é adesão real a Ele, é suficiente para alimentar a relação com Ele e acolher a salvação. É verdade, a nossa fé é sempre de curto prazo, mas basta ter em nós a semente desta adesão ao poder do amor de Deus operante em Jesus Cristo.

Crer significa, em última análise, seguir Jesus: e quando se O segue, caminha-se atrás d’Ele, muitas vezes vacilando, mas acolhendo a acção com que Ele nos reergue e nos apoia, para que possamos estar sempre onde Ele está.

Nós, cristãos, devemos olhar com frequência para o pequeno grão de mostarda, tê-lo na palma da mão, ter consciência de quanto é minúsculo; mas deveremos também vê-lo com semente semeada, morta debaixo da terra, germinada e crescida, até se tornar grande como uma planta que dá abrigo às aves do céu – imagem usada por Jesus para descrever o Reino de Deus – e, por isso, surpreender-nos. Assim é a nossa fé, pequeníssima, talvez; mas não temamos, porque se a fé existe, é suficiente, porque é mais forte de toda a nossa outra atitude. A fé é a fé: sempre, mesmo se pequena, é adesão a uma relação, é obediência.

A resposta de Jesus aos apóstolos prossegue com uma parábola que lhes diz particularmente respeito, enquanto enviados a trabalhar no campo, na vinha cujo proprietário é Deus.

Jesus adverte-os para o risco de confiarem em si próprios, porque esse é o pecado que se opõe radicalmente à fé.
Isto poderá acontecer também aos enviados que, conscientes de terem feito pontualmente a vontade de Deus, desejariam ser reconhecidos, premiados.

No seguimento de Jesus não se reivindica nada, não se pretendem reconhecimentos, não se esperam prémios, porque nem sequer a tarefa realizada se torna garantia ou mérito. O que se faz pelo Senhor, faz-se gratuitamente e bem, por amor e na liberdade, não para ter um prémio…