Nós vos anunciamos a Boa-Nova de que a promessa feita aos nossos pais, a cumpriu Deus para nós, seus filhos, ao ressuscitar Jesus” (Actos 13, 32-33). Este vibrante anúncio de S. Paulo, durante a sua primeira viagem apostólica, ressoa também hoje aos nossos ouvidos e ecoa nos nossos corações.

No mundo de hoje, somos testemunhas de sofrimentos indizíveis e de guerras atrozes, na Ucrânia e noutras partes do mundo, e só a morte sacrificial de Jesus Cristo na Cruz e a sua ressurreição gloriosa podem trazer-nos luz e libertar-nos do desânimo e de um pessimismo sem remédio.

Por entre as angústias e perplexidades do nosso tempo, é-nos dada a graça de professar a fé no valor infinito do sacrifício de Cristo, consumado no termo da mais dolorosa Paixão, e na definitiva vitória sobre o mal e sobre a morte, alcançada pelo poder de Deus na ressurreição de Cristo.

Hoje, Domingo de Páscoa, agradecemos a Deus esta luz e esta certeza de fé que nos foi dada, e com as palavras da Sequência Pascal cantamos com alegria:
“Sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos:
Ó Rei vitorioso,
tende piedade de nós”.

A ressurreição de Jesus não é uma afirmação marginal no Credo cristão: “é a verdade culminante da nossa fé em Cristo, acreditada e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada como parte essencial do mistério pascal, ao mesmo tempo que a cruz” (Catecismo da Igreja Católica, n. 638).

Não é uma ilusão, uma alucinação colectiva ou uma piedosa ficção dos evangelistas: o mistério da ressurreição de Cristo “é um acontecimento real, com manifestações historicamente verificadas, como atesta o Novo Testamento. Já S. Paulo, por volta do ano 56, pôde escrever aos Coríntios: «Transmiti-vos, em primeiro lugar, o mesmo que havia recebido: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras: a seguir, apareceu a Pedro, depois aos Doze» (1 Coríntios 15, 3-4). O Apóstolo fala aqui da tradição viva da ressurreição, de que tinha tomado conhecimento após a sua conversão, às portas de Damasco” (Catecismo da Igreja Católica, n. 639).

Às santas mulheres que se dirigem ao sepulcro e o encontram vazio, é feita esta pergunta, que logo se transforma em jubilosa notícia: “Por que motivo procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou” (Lucas 24, 5-6).
“O sepulcro vazio constitui, para todos, um sinal essencial. A descoberta do facto pelos discípulos foi o primeiro passo para o reconhecimento do facto da ressurreição” (Catecismo da Igreja Católica, n. 640). Depois das mulheres e de S. Pedro, “o discípulo que Jesus amava (João 20, 2) afirma que, ao entrar no sepulcro vazio e ao descobrir «os lençóis no chão» (20, 6), «viu e acreditou» (20, 8)); o que supõe que ele terá verificado, pelo estado em que ficou o sepulcro vazio, que a ausência do corpo de Jesus não podia ter sido obra humana e que Jesus não tinha simplesmente regressado a uma vida terrena, como fora o caso de Lázaro” (Catecismo da Igreja Católica, n. 640).

Vieram depois as aparições. “Maria Madalena e as santas mulheres, que vinham para acabar de embalsamar o corpo de Jesus, sepultado à pressa por causa do início do «Sábado», no fim da tarde de Sexta-feira Santa, foram as primeiras pessoas a encontrar-se com o Ressuscitado. Assim, as mulheres foram as primeiras mensageiras da ressurreição de Cristo para os próprios Apóstolos. Em seguida, foi a eles que Jesus apareceu: primeiro a Pedro, depois aos Doze. Pedro, incumbido de consolidar a fé dos seus irmãos, vê, portanto, o Ressuscitado antes deles e é com base no seu testemunho que a comunidade exclama: «Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão» (Lucas 24, 34.36)” (Catecismo da Igreja Católica, n. 641).

“Tudo quanto aconteceu nestes dias pascais empenha cada um dos Apóstolos – e muito particularmente Pedro – na construção da era nova, que começa na manhã do dia de Páscoa. Como testemunhas do Ressuscitado, eles são as pedras do alicerce da sua Igreja. A fé da primeira comunidade dos crentes está fundada no testemunho de homens concretos, conhecidos dos cristãos e, a maior parte, vivendo ainda entre eles.

Estas «testemunhas da ressurreição de Cristo» são, em primeiro lugar, Pedro e os Doze. Mas há outros: Paulo fala claramente de mais de quinhentas pessoas às quais Jesus apareceu em conjunto, além de Tiago e de todos os Apóstolos” (Catecismo da Igreja Católica, n. 642).

Na nossa vida corrente, com as suas sombras e luzes, também nós somos portadores desta mensagem que a tudo dá sentido, mesmo àquelas dores mais profundas, que, de tantos modos e em todos os tempos, atingem a humanidade. Mas, o “Homem das Dores” (Isaías 53, 3) é hoje e para sempre o Ressuscitado, o Glorificado.

Que a sua vitória nos faça vencedores – antes de mais dos nossos pecados – e também portadores, onde quer que estejamos, de uma alegria que não passa e de uma esperança que não morre, e que nos levará à acção e à transformação deste mundo, pela graça de Cristo.
Nesta certeza, desejo a todos os paroquianos de S. Francisco Xavier uma Páscoa santa, feliz e luminosa!

Com amizade no Senhor ressuscitado

Cónego José Manuel Santos Ferreira