Valorizar o sentido espiritual do Natal
Todos os anos, durante a Missa da Noite de Natal, São Lucas anuncia-nos o Nascimento de Jesus no Evangelho do Natal:
Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. Este primeiro recenseamento efetuou-se quando Quirino era governador da Síria. Todos se foram recensear, cada um à sua cidade. José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe. Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos e guardavam de noite os rebanhos. O Anjo do Senhor aproximou-se deles e a glória do Senhor cercou-os de luz; e eles tiveram grande medo. Disse-lhes o Anjo:
«Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura».
Imediatamente juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados» (Lucas 2, 1-13).
S. Lucas enquadra o nascimento de Jesus na história do mundo. Quando Jesus nasceu, havia paz no mundo inteiro, ou pelo menos no Império Romano.
O imperador Augusto tinha conseguido instaurar nos seus enormes domínios um longo período de paz, conhecido como a Pax Augusta, embora à custa de muitas guerras, muitas violências, muito sangue derramado.
No entanto, a Pax Augusta era apenas uma aparência e uma ilusão. Basta pensar que, na época do nascimento de Jesus, estava no poder, na Palestina, Herodes, o Grande, que era um ditador astuto e brutal.
Mas é precisamente no final do seu reinado que nasce Aquele que é o único capaz de trazer a verdadeira paz ao mundo. No presépio de Belém, nasce o Filho de Deus, Jesus, que traz a paz profunda aos corações.
Estaremos preparados para O acolher, para aprender com Ele, para viver como Ele?
Neste Natal, queremos pedir a Deus a paz para os povos em guerra, e em especial para as famílias que vêm a sua existência destroçada, e para as crianças, vítimas inocentes de uma violência cega.
Há poucos dias, mesmo com grande dificuldade de falar, devido a um problema respiratório, o Papa Francisco não quis deixar de fazer este apelo: “Continuemos a rezar pela grave situação em Israel e na Palestina. Paz, por favor, paz… Espero que a trégua em curso em Gaza continue, para que todos os reféns sejam libertados e ainda seja permitido o acesso à necessária ajuda humanitária.”
Mas não omitiu ainda um pensamento para a Ucrânia que sofre: “Não esqueçamos, falando de paz, do querido povo ucraniano, que sofre tanto, ainda em guerra” (Vatican News).
Vamos colocar estas intenções, e tantas outras, no altar das nossas missas de Natal.
Na Terra Santa, os patriarcas e chefes das diversas comunidades igrejas da Terra Santa emitiram recentemente um comunicado conjunto, no qual exortavam os cristãos a concentrarem-se mais no significado espiritual do Natal.
Não poderemos também nós acolher esta exortação, naturalmente sem esquecer a dimensão festiva deste tempo, com tantas e tão belas tradições familiares, ao mesmo tempo que cultivamos a solidariedade e o espírito de partilha, neste Natal de 2023?
A todos os paroquianos
apresenta sinceros votos de Feliz Natal
O Cónego José Manuel dos Santos Ferreira
Prior de São Francisco Xavier