Domingo dentro da Oitava do Natal (PDF) TEXTO

Guido Galli, Maria, Regina Pacis

Os progressos técnico-científicos, que permitem exercer um controle – até agora inédito – sobre a realidade, colocam nas mãos do homem um vasto leque de possibilidades, algumas das quais podem constituir um risco para a sobrevivência humana e um perigo para a casa comum.

Os progressos notáveis das novas tecnologias da informação, sobretudo na esfera digital, apresentam oportunidades entusiasmantes mas também graves riscos, com sérias implicações na prossecução da justiça e da harmonia entre os povos.

Por isso torna-se necessário interrogar-nos sobre algumas questões urgentes: quais serão as consequências, a médio e longo prazo, das novas tecnologias digitais? E que impacto terão elas
sobre a vida dos indivíduos e da sociedade, sobre a estabilidade e a paz?

Papa Francisco, excertos da mensagem do Dia Mundial da Paz, 2024

A Sagrada Família: Deus primeiro

Dehonianos, comentário à liturgia

Fra Bartolomeo, Apresentação do menino no Templo

Lucas apresenta-nos uma família – a Sagrada Família – em que Deus é a referência fundamental. Por quatro vezes, Lucas refere, a propósito da família de Jesus, o cumprimento da Lei de Moisés, da Lei do Senhor ou da Palavra do Senhor.

A família de Jesus, Maria e José escuta a Palavra de Deus e constrói a sua existência ao ritmo dela e dos desafios de Deus. Maria e José sabiam que uma família que escuta a Palavra de Deus e que procura responder aos desafios postos por ela, tem um projeto de vida com sentido; e sabiam que uma família que se deixa guiar pela Palavra de Deus constrói-se sobre a rocha firme dos valores eternos.

Que importância é que Deus assume na vida das nossas famílias? Procuramos que cada membro cresça numa progressiva sensibilidade à Palavra e aos desafios de Deus? Encontramos tempo para reunir a família à volta da Palavra de Deus e para a partilhar em família?

Quando numa família Deus “conta”, os valores de Deus passam a ser, para todos os membros, as marcas que definem o sentido da existência.
O espaço familiar torna-se a escola onde se aprende o amor, a solidariedade, a partilha, o serviço, o diálogo, o respeito, o cuidado, o perdão, a fraternidade universal, o cuidado da criação, a atenção aos mais frágeis, o sentido do compromisso, do sacrifício, da entrega e da doação…
São esses valores – os valores de Deus – que procuramos cultivar na nossa comunidade familiar?

Nas nossas famílias cristãs há normalmente uma legítima preocupação com o proporcionar a cada criança condições ótimas de vida, de educação, de acesso à instrução e aos cuidados essenciais…
Haverá sempre uma preocupação semelhante no que diz respeito à formação para a fé e em proporcionar aos filhos uma verdadeira educação para a vida cristã e para os valores de Jesus Cristo?
Preocupam-se em ser os primeiros catequistas dos próprios filhos, transmitindo-lhes os valores do Evangelho? Em acompanhar a caminhada catequética dos filhos, em inseri-los numa comunidade de fé?

Simeão e Ana, os dois anciãos que acolhem Jesus no Templo de Jerusalém, não são pessoas desiludidas da vida, que vivem voltadas para o passado, sonhando com um tempo ideal que já não volta; são pessoas voltadas para o futuro, atentas ao Deus libertador que vem ao seu encontro, que sabem ler os sinais de Deus naquele menino que chega e que testemunham diante dos seus conterrâneos a presença salvadora e redentora de Deus no meio do seu Povo.
É preciso que os mais velhos não vivam voltados para o passado, refugiados numa realidade que aliena, transformados em “estátuas de sal”, mas que vivam de olhos postos no futuro, de espírito aberto e livre, pondo a sua sabedoria e experiência ao serviço da comunidade humana e cristã, ensinando os mais jovens a distinguir entre o que é eterno e importante e o que é acessório.

 

As coisas mais importantes do mundo não se procuram, esperam-se

Ermes Ronchi, In Avvenire, 2020

Giotto, Apresentação do menino no Templo

Maria e José levaram o Menino a Jerusalém, para o apresentar ao Senhor. Um casal jovem, com a sua primeira criança, chega levando a pobre oferta dos pobres, duas rolas, e o mais precioso dom do mundo: uma criança.
No limiar, dois anciãos à espera, Simeão e Ana. Que aguardavam, diz Lucas, «porque as coisas mais importantes do mundo não são para procurar, mas para esperar» (Simone Weil).
Porque quando o discípulo está pronto, o mestre chega.

Não são os sacerdotes a acolher o Menino, mas dois leigos, que não desempenham qualquer papel oficial, mas são dois enamorados de Deus, olhos velados pela velhice, mas ainda acesos de desejo.
Ela, Ana, é a terceira profetiza do Novo Testamento, depois de Isabel e Maria. Porque Jesus não pertence à instituição, não é dos sacerdotes, mas da humanidade. É Deus que se encarna nas criaturas, na vida que acaba e naquela que floresce.

Jesus é nosso, de todos os homens e de todas as mulheres. Pertence aos sedentos, aos sonhadores, como Simeão; àqueles que sabem ver para além, como Ana; àqueles capazes de se encantar diante de um recém-nascido, porque sentem Deus como futuro e como vida.
Simeão pronuncia uma profecia de palavras imensas sobre Maria, três palavras que atravessam os séculos e chegam a cada um de nós: o Menino está aqui como queda e ressurreição, como sinal de contradição para que sejam desvelados os corações.

Queda é a primeira palavra.
Cristo, que arruínas não o homem mas as suas sombras, a vida insuficiente, a vida moribunda, o meu mundo de máscaras e mentiras, que arruínas a vida iludida.

Sinal de contradição, a palavra segunda.
Ele que contradiz as nossas vidas com a sua vida, os nossos pensamentos com os seus pensamentos, a falsa imagem que alimentamos de Deus como rosto inédito de um paizinho de braços grandes e coração de luz, contradição de tudo aquilo que contradiz o amor.

Ele está aqui para a ressurreição, é a terceira palavra:
para Ele ninguém é dado por perdido, ninguém está acabado para sempre, é possível recomeçar e ser novo.
Será uma mão que te tomará pela mão, que repetirá a cada aurora aquilo que disse à filha de Jairo: menina, levanta-te! Jovem, levanta-te, ergue-te, aparece, resplandece, retoma a estrada e a luta.

Três palavras que dão respiração à vida.

Festa da Apresentação. O Menino Jesus é levado ao templo, perante Deus, porque não é simplesmente o filho de José e Maria: Os filhos não são nossos, pertencem a Deus, ao mundo, ao futuro, à sua vocação e aos seus sonhos, são a frescura de uma profecia “biológica”.
A nós cabe proteger, como Simeão e Ana, pelo menos o espanto.

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