XXXI Domingo do Tempo Comum (PDF)  TEXTO

Ugolino di Nerio, Deposição da Cruz

Amar não é um dever, mas uma necessidade para viver.
E viver sempre.

Com estas palavras podemos lançar um olhar sobre a fé última de Jesus: Ele crê no amor, confia no amor, funda o mundo sobre ele.
Que devo fazer para ser verdadeiramente vivo? Amarás. Com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente.

Apelo à totalidade, para nós inalcançável. Só Deus ama com todo o coração, Ele que é o próprio amor.

Amar o ser humano é semelhante a amar Deus. O próximo é semelhante a Deus.

Ermes Ronchi

Tratado do Amor a Deus

S. Bernardo, monge de Cister e doutor da Igreja

Flippie Botha, Vaso quebrado

O primeiro e o maior mandamento é este: “amarás o Senhor teu Deus”. Mas a nossa natureza é fraca; e o nosso primeiro degrau no amor é o de nos amarmos a nós próprios, antes de qualquer outra coisa, por causa de nós próprios…

Para nos impedir de resvalar muito por este declive, Deus deu-nos o preceito de amar o nosso próximo como a nós a mesmos…
Ora, nós constatamos que isso não é possível sem Deus, sem reconhecer que tudo vem d’Ele e que sem Ele nada podemos.

Neste segundo degrau, o homem volta-se para Deus, mas ainda O ama apenas por causa de si mesmo e não por Ele…
No entanto, é preciso ter um coração de mármore ou de bronze, para não se ser tocado pelo auxílio que Deus nos dá quando nos voltamos para Ele nas provações. Nas provações, é impossível não saborear como Ele é bom. E em breve começamos a amá-l’O mais por causa da doçura que n’Ele encontramos do que por causa do nosso interesse…

Quando estamos nessa situação, não é difícil amar o nosso próximo como a nós mesmos…
Amamos os outros como somos amados, como Jesus Cristo nos amou.

Eis o amor daquele que diz com o salmista: “Louvai o Senhor porque Ele é bom”.
Louvar o Senhor não porque Ele é bom para nós, mas simplesmente porque Ele é bom, amar Deus por Deus e não por nós próprios, é o terceiro degrau do amor.

Felizes os que puderam subir até ao quarto degrau do amor: só se amar a si mesmo com o amor de Deus… Quando é que a minha alma, voltada para o amor de Deus, esquecida de si própria, não se julgando mais do que um vaso quebrado, quando é que ela se lançará para Deus para se perder n’Ele e não ser mais do que um mesmo espírito com Ele?.

Quando poderá ela descrever-se: “A minha carne e o meu coração já desfalecem, mas o Senhor é para sempre a rocha do meu coração e a minha herança”?
Santos e felizes, os que puderam experimentar qualquer coisa de semelhante durante esta vida mortal, mesmo que raramente, mesmo que uma única vez. Não é uma felicidade humana, é viver já no céu

 

Com todo o teu coração

Papa João Paulo I

Nicolas Poussin, Ordenação

Amar significa viajar, correr com o coração para o objecto amado. Diz a Imitação de Cristo: quem ama corre, voa e alegra-se.

Amar a Deus é portanto um viajar com o coração para Deus. Viagem belíssima, embora comporte por vezes sacrifícios. Mas estes não nos devem fazer parar. Jesus está na cruz: queres beijá-l’O? Não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor.

O amor a Deus é também viagem misteriosa: isto é, eu não parto se Deus não toma primeiro a iniciativa. Ninguém, disse Jesus, pode vir a mim, se o Pai… o não atrair. Mas, então, a liberdade humana? Deus, que decidiu que ela existisse e construiu essa liberdade, sabe muito bem como respeitá-la, levando embora os corações ao ponto que tinha em vista: Deus atrai-te não só de modo que tu mesmo venhas a querer, mas até de modo que tu gostes de ser atraído.

Com todo o coração. Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Estes mandamentos, que hoje te imponho, serão gravados no teu coração. Ensiná-los-ás aos teus filhos e meditá-los-ás quer em tua casa, quer em viagem, quer ao deitar-te ou ao levantar-te. Atá-los-ás, como símbolo, no teu braço, e usá-los-ás como um frontal entre os teus olhos. Escrevê-los-ás sobre os pilares da tua casa e sobre as tuas portas.

Deus é demasiado grande, demasiado merece de nós, para que baste deitar-Lhe, como a um pobre Lázaro, unicamente algumas migalhas do nosso tempo e do nosso coração. bem infinito e será a nossa felicidade eterna: dinheiro, prazeres e felicidades deste mundo, em comparação com Ele, são apenas fragmentos de bem e momentos fugidios de felicidade.

Acima de todas as coisas. Agora entra-se numa comparação directa entre Deus e o homem, entre Deus e o mundo. Não seria justo dizer: “Ou Deus ou o homem”. Deve-se amar “não só a Deus mas também o homem”; este último, porém, nunca mais do que Deus ou contra Deus ou tanto como Deus. Por outras palavras: O amor de Deus é certamente dominador, mas não exclusivo.

A Bíblia declara Jacob santo e amado por Deus, mostra-o comprometido a sete anos de trabalho para conquistar Raquel como esposa; e pareceram-lhe poucos dias aqueles anos, tão grande era o amor que por ela sentia. Francisco de Sales tece sobre estas palavras um comentariozinho: “Jacob ama Raquel com todas as suas forças, e, com todas as suas forças ama a Deus; mas nem por isso ama Raquel como a Deus, nem a Deus como a Raquel. Ama a Deus como seu Deus sobre todas as coisas e mais que a si mesmo; ama Raquel como sua esposa acima de todas as outras mulheres e como a si mesmo. Ama a Deus com amor absolutamente e soberanamente sumo, e Raquel com sumo amor marital; um amor não é contrário ao outro, porque o de Raquel não inutiliza as vantagens supremas do amor de Deus”.

E por vosso amor amo o meu próximo. Estamos aqui diante de dois amores que são “irmãos gémeos” e inseparáveis. Algumas pessoas é fácil amá-las.
Outras, é difícil: não nos são simpáticas, ofenderam-nos e fizeram-nos mal. Só se amo Deus a sério, chego a amá-las a elas, como filhas de Deus e porque Deus mo pede.

Jesus fixou também como há-de o próximo ser amado: quer dizer, não só com o sentimento, mas com obras. O catecismo traduz estas e outras palavras da Bíblia no duplo catálogo das sete obras de misericórdia corporais e sete espirituais.

O catálogo não é completo e convinha actualizá-lo. Entre os famintos, por exemplo, hoje não se trata só deste ou aquele indivíduo; são povos inteiros.
Neste ponto, à caridade junta-se a justiça, porque a propriedade privada não constitui para ninguém um direito incondicional e absoluto.
Ninguém tem direito de reservar para seu uso exclusivo aquilo que é supérfluo, quando a outros falta o necessário”

 

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