Domingo de Pentecostes (PDF) TEXTO
De acordo com as orientações da Conferência Episcopal Portuguesa, enquanto durar a situação de pandemia fica suspensa a edição da Folha Informativa em papel.
Sem o Espírito Santo nós somos só o pó,
nós somos só a terra, nós somos só o barro,
nós somos só isto que se vê daqui,
e isto que morre aqui, todos os dias, a todas as horas.
É o Espírito que nos torna maiores, é o Espírito que nos projecta.
O Espírito Santo é a alavanca da Igreja
e é a alavanca da história.
O Espírito Santo é o mestre, é o mapa, é o oceano,
é a viagem.
Cardeal D. Tolentino de Mendonça, 2015
Sopro de Deus para a vida do mundo
Ermes Ronchi , In “Avvenire”
Quando estavam fechadas as portas do lugar onde os apóstolos se encontravam, por medo dos judeus, eis que acontece algo que vira do avesso a sua vida, que inverte aquele grupinho bloqueado atrás de portas cerradas.
Alguma coisa transformou homens titubeantes pela angústia em pessoas dançantes de alegria, inebriadas de coragem: é o Espírito, chamada que reacende as vidas, vento que alastra, terramoto que faz cair as construções frágeis, desacertadas, e deixa de pé só aquilo que é verdadeiramente sólido.
Aconteceu o Pentecostes e desbloqueou-se a vida.
Na tarde da Páscoa, quando estavam fechadas as portas, veio Jesus, pôs-Se no meio dos seus e disse: paz! O abandonado regressa àqueles que O tinham abandonado.
Não acusa ninguém, desencadeia processos de vida; gere a fragilidade dos seus com um método humaníssimo e criativo: assegura-lhes que o seu amor por eles está intacto (mostra-lhes as mãos chagadas e o lado aberto, feridas de amor); sublinha a sua confiança obstinada, ilógica e total neles (como o Pai Me enviou, Eu vos envio). Vós como Eu. Vós e não outros. Ainda que Me tenham deixado só, Eu continuo a acreditar em vós, e não desisto de vós.
E por fim oferece ainda mais: sopra sobre eles e diz: recebei o Espírito Santo. O Espírito é a respiração de Deus.
Naquela sala fechada, naquela situação asfixiante, entre a respiração ampla e profunda de Deus, o oxigénio do Céu.
E como no princípio o Criador soprou o seu hálito de vida sobre Adão, assim Jesus sopra agora vida, transmite aos seus aquilo que O faz viver, esse princípio vital e luminoso, essa intensidade que fazia diferente, que fazia único a sua maneira de amar e escancarava horizontes.
Espírito Santo inspira diálogo com Deus e a humanidade
Papa Francisco, 2014
O Espírito Santo ensina-nos: é o Mestre interior.
Guia-nos pelo caminho certo, através das situações da vida. Ele ensina-nos a estrada, a via. Nos primeiros tempos da Igreja, o cristianismo era chamado «o caminho», e o próprio Jesus é o Caminho.
O Espírito Santo ensina-nos a segui-Lo, a caminhar seguindo os seus passos. Mais do que um mestre de doutrina, o Espírito Santo é um mestre de vida. E da vida faz parte, certamente, também o saber, o conhecer, mas dentro de horizonte mais amplo e harmonioso da existência cristã.
O Espírito Santo recorda-nos, recorda-nos tudo o que Jesus disse. É a memória viva da Igreja. E ao mesmo tempo que nos recorda, faz-nos compreender as palavras do Senhor.
Este recordar no Espírito e graças ao Espírito não se reduz a um facto mnemónico, mas é um aspecto essencial da presença de Cristo em nós e na sua Igreja. O Espírito de verdade e de caridade recorda-nos tudo aquilo que Cristo disse, faz-nos entrar cada vez mais plenamente no sentido das suas palavras.
Todos nós temos esta experiência: num determinado momento, em qualquer situação, surge uma ideia e depois outra liga-se a um trecho da Escritura… É o Espírito que nos faz fazer esta estrada: a estrada da memória viva da Igreja.
E isto pede de nós uma resposta: quanto mais a nossa resposta é generosa, mais as palavras de Jesus se tornam vida em nós, tornam-se atitudes, escolhas, gestos, testemunho. O Espírito recorda-nos, substancialmente, o mandamento do amor, e chama-nos a vivê-lo.
Um cristão sem memória não é um verdadeiro cristão: é um cristão a meio caminho, é um homem ou uma mulher prisioneiro do momento, que não sabe fazer tesouro da sua história, não sabe lê-la e vivê-la como história de salvação.
Pelo contrário, com a ajuda do Espírito Santo, podemos interpretar as inspirações interiores e os acontecimento da vida à luz das palavras de Jesus. E assim cresce em nós a sabedoria da memória, a sabedoria do coração, que é um dom do Espírito Santo. Que o Espírito Santo reavive em todos nós a memória cristã.
E naquele dia, com os apóstolos estava a Senhora da memória, aquela que desde o início meditava todas aquelas coisas no seu coração. Estava Maria, nossa mãe. Que ela nos ajude nesta estrada da memória.
O Espírito Santo ensina-nos, recorda-nos e, outra característica, faz-nos falar, com Deus e com os homens. Não há cristãos mudos, mudos de alma; não, não há lugar para isto.
Faz-nos falar com Deus na oração. A oração é um dom que recebemos gratuitamente; é diálogo com Ele no Espírito Santo, que reza em nós e nos permite dirigirmo-nos a Deus chamando-o Pai, Papá, “Abbà”; e este não é só uma “maneira de dizer”, mas é a realidade, nós somos realmente filhos de Deus. «De facto, todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus» (Romanos 8, 14).
«Faz-nos falar no acto de fé. Nenhum de nós pode dizer «Jesus é o Senhor», ouvimo-lo hoje, sem o Espírito Santo. E o Espírito faz-nos falar com os homens no diálogo fraterno. Ajuda-nos a falar com os outros, reconhecendo-os como irmãos e irmãs; a falar com amizade, com ternura, com suavidade, compreendendo as angústias e as esperanças, as tristezas e as alegrias dos outros.
Mas há mais: o Espírito Santo faz-nos falar também aos homens na profecia, isto é, fazendo-nos canais humildes e dóceis da Palavra de Deus. A profecia é feita com franqueza, para mostrar abertamente as contradições e as injustiças, mas sempre com suavidade e intenção construtiva.
Penetrados pelo Espírito de amor, possamos ser sinais e instrumentos de Deus, que ama, que serve, que dá a vida.