Domingo IV da Quaresma (PDF)     TEXTO

Que grande esperança e alegria nos dá a parábola do filho pródigo!

Murillo, o Regresso do Filho Pródigo

Nela, não se fala apenas de acolhimento ou de perdão, mas também de festa pelo filho que regressa.

Revejamo-nos naquele filho extraviado que voltou e a quem o Pai não Se cansa de abraçar e repor na sua grandeza de filho. (…)

Os braços abertos na cruz provam que ninguém é excluído do amor do Pai e da sua misericórdia.

Papa Francisco, Mensagem aos Casais de Nossa Senhora

 

 

INVEJA E MISERICÓRDIA

8.ª meditação do P. Tolentino Mendonça ao papa (síntese)

Pompeo Baton, Filho Pródigo

Um dos grandes perigos do caminho interior é o olhar autocentrado, no qual o eu é o princípio e o fim de todas as coisas.

A oitava meditação do retiro em Ariccia, próximo do Vaticano, centrou-se na parábola do filho pródigo. A narrativa traz à luz uma família humana como aquela de onde vem cada um de nós, e por isso é um espelho, revelando uma história que nos agarra por dentro, na qual se vê problematizada a relação entre irmãos que manifesta o delicado significado do vínculo filial da trama subtil e frágil de afectos que tecemos uns com os outros.

Dentro de nós, na verdade, não há apenas coisas belas, harmoniosas, resolvidas. Dentro de nós há sentimentos sufocados, muitas coisas a aclarar, patologias, inúmeros fios a ligar. Há regiões de sofrimento, questões a reconciliar, memórias e cesuras para deixar a Deus para que as cure.

O tempo actual é dominado por um desejo à deriva favorável ao surgimento de filhos pródigos, através de atitudes como o arbítrio fácil, o capricho, o hedonismo.

Estes modos de estar desenvolvem-se num vórtice enganador ditado pela sociedade dos consumos, que promete satisfazer tudo e todos ao identificar a felicidade com a saciedade. Estamos assim cheios, plenos, satisfeitos, domesticados. Mas esta saciedade que se obtém com os consumos é a prisão do desejo.

À necessidade de liberdade do filho mais novo, impelido por fantasias de omnipotência, acrescentam-se as expectativas doentias do filho maior, as mesmas que com grande facilidade se infiltram em nós.

Trata-se da dificuldade de viver a fraternidade, a pretensão de condicionar as decisões do pai, a recusa de se alegrar com o bem do outro. Tudo isto cria nele um ressentimento latente e a incapacidade de colher a lógica da misericórdia.

Aos passos falsos do filho menor, animado por um desejo à deriva, sobrepõe-se um perigo que consome o filho maior: a inveja, que é uma patologia do desejo, caracterizada pela falta de amor, uma reivindicação estéril e infeliz. O filho maior, que não conseguiu resolver a relação com o irmão, está ferido pela agressividade, barreiras e violência. O contrário da inveja é a gratidão que constrói e reconstrói o mundo.

Ao lado das figuras dos jovens, emerge a do pai, ícone da misericórdia: Tem dois filhos e compreende que deve relacionar-se com eles de maneiras diferentes, reservar a cada qual um olhar único.

A misericórdia não é dar ao outro o que ele merece. A misericórdia é compaixão, bondade, perdão. É dar a mais, dar mais além, ir mais longe. É um excesso de amor que cura as feridas.

A misericórdia é um dos atributos de Deus.

 

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