Festa da Sagrada Família (PDF)     TEXTO

 

Charles le Brun, Adoração dos Pastores

Frequentemente, as nossas vidas transcorrem alheias à gratidão.

Hoje é o dia certo para nos aproximarmos do sacrário, do presépio, da manjedoura, e dizermos obrigado.

Não esperemos que o próximo se torne bom para lhe fazermos bem, que a Igreja seja perfeita para a amarmos, que os outros tenham consideração por nós para os servirmos.

Comecemos nós.  Isto é acolher o dom da graça.

Acolher o dom que é Jesus para depois se tornar dom como Jesus e, assim, dar sentido à própria vida. É dando-lhe sentido que podemos mudar mundo e toda a realidade que nos circunda.

Papa Francisco, 2019, Missa de Natal

 

Mensagem Urbi et Orbi 2019

Papa Francisco

Giorgione, Adoração dos Pastores

Nesta noite, do ventre da mãe Igreja, nasceu de novo o Filho de Deus feito homem. O seu nome é Jesus, que significa Deus salva. O Pai, Amor eterno e infinito, enviou-O ao mundo, não para condenar o mundo, mas para o salvar. O Pai no-Lo deu, com imensa misericórdia; deu-O para todos; deu-O para sempre. E Ele nasceu como uma chamazinha acesa na escuridão e no frio da noite.

Aquele Menino, nascido da Virgem Maria, é a Palavra de Deus que Se fez carne; a Palavra que guiou o coração e os passos de Abraão rumo à terra prometida, e continua a atrair aqueles que confiam nas promessas de Deus; a Palavra que guiou os judeus no caminho desde a escravidão à liberdade, e continua a chamar os escravos de todos os tempos, incluindo os de hoje, para saírem das suas prisões. É Palavra mais luminosa do que o sol, encarnada num pequenino filho de homem, Jesus, luz do mundo.
Por isso, o profeta exclama: «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz».

É verdade que há trevas nos corações humanos, mas é maior a luz de Cristo; há trevas nas relações pessoais, familiares, sociais, mas é maior a luz de Cristo; há trevas nos conflitos económicos, geopolíticos e ecológicos, mas é maior a luz de Cristo.
(…) Que o Filho de Deus, descido do Céu à terra, seja defesa e amparo para todos aqueles que, por causa destas e outras injustiças, devem emigrar na esperança duma vida segura. É a injustiça que os obriga a atravessar desertos e mares, transformados em cemitérios; é a injustiça que os obriga a suportar abusos indescritíveis, escravidões de todo o género e torturas em campos de detenção desumanos; é a injustiça que os repele de lugares onde poderiam ter a esperança duma vida digna e lhes faz encontrar muros de indiferença.

Que o Emanuel seja luz para toda a humanidade ferida. Enterneça o nosso coração frequentemente endurecido e egoísta e nos torne instrumentos do seu amor. Através dos nossos pobres rostos, dê o seu sorriso às crianças de todo o mundo: às crianças abandonadas e a quantas sofreram violências. Através das nossas frágeis mãos, vista os pobres que não têm nada para se cobrir, dê o pão aos famintos, cuide dos enfermos. Pela nossa frágil companhia, esteja próximo das pessoas idosas e de quantas vivem sozinhas, dos migrantes e dos marginalizados.

Neste dia de festa, dê a todos a sua ternura e ilumine as trevas deste mundo.

 

Deus não protege da noite, mas na noite

P. Ermes Ronchi, 2013

Gaetano Gandolfi, Sonho de José

José é o modelo de todo o crente, no qual a fé e os afectos se reforçam mutuamente.
Herodes envia soldados, Deus manda um sonho.
Um grão de sonho que caiu dentro das duras engrenagens da história, ao ponto de chegar a modificar o seu curso.
«José levantou-se de noite, tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egipto.»
Um Deus que foge na noite!
Porque é que o anjo ordena a fuga, sem garantir um futuro, sem marcar o caminho e a data do regresso?
Porque Deus não salva do exílio, mas no exílio; não te evita o deserto mas é força dentro do deserto; não protege da noite, mas na noite.

Por três vezes José sonha.
De cada vez um anúncio parcial, uma profecia breve. Todavia, para partir não pede que tudo esteja claro, não pede para ver todo o horizonte, mas apenas a luz que basta ao primeiro passo, apenas a força necessária para a primeira noite.

A José basta um Deus que entretece a sua respiração com a dos três fugitivos para saber que a viagem tem a casa por destino, ainda que passe pelo longínquo Egipto; que é uma aventura de perigos, de caminhos, de refúgios e de sonhos, mas que há um fio condutor seguro na mão de Deus.

José representa todos os justos da terra, homens e mulheres que, tomando sobre si as vidas de outros, vivem o amor sem contar cansaços e medos; todos aqueles que sem publicidade e sem recompensa, em silêncio, fazem o que devem fazer; todos aqueles cujo papel supremo no mundo é proteger a vida com a própria vida. E assim o fazem: concretos e ao mesmo tempo sonhadores, desarmados mas no entanto mais fortes do que qualquer faraó.

 

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