Domingo XXX do Tempo Comum (PDF) TEXTO

Senhor, que queres que eu faça?

Heinrich Hoffmann, Jesus e o jovem rico

Senhor, para que nos proporcionaste este poder?

Por que depositaste em nós essa faculdade de escolher-Te ou rejeitar-te? Tu desejas que empreguemos acertadamente esta nossa capacidade.

Senhor, que queres que eu faça? E a resposta é diáfana, precisa: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma, e com toda a tua mente.

Ninguém pode escolher por nós. Este é o grau supremo da dignidade nos homens: que se encaminhem para o bem por si próprios, não por outros.
Muitos de nós herdamos dos pais a fé católica e, por graça de Deus, desde que recebemos o Baptismo, recém-nascidos ainda, começou-nos na alma a vida sobrenatural.

Mas temos de renovar ao longo da nossa existência – e mesmo ao longo de cada jornada – a determinação de amar a Deus sobre todas as coisas.
Josemaria Escrivá, Amigos de Deus

Amarás o Senhor com todo o coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças

Papa Francisco, 2017

Michelangelo, Pietá

Amar de todo o coração significa fazê-lo sem reservas, sem duplicidades, sem interesses espúrios, sem procurar-se a si mesmo no êxito pessoal ou na carreira. A caridade pastoral supõe sair ao encontro do outro, compreendendo-o, aceitando-o e perdoando-o de todo o coração. Isso é caridade pastoral.
Mas sozinhos não é possível crescer nessa caridade. Por isso o Senhor chamou-nos para ser uma comunidade, de modo que essa caridade congregue todos os sacerdotes com um especial vínculo no ministério e na fraternidade.

Para isso necessita-se da ajuda do Espírito Santo, mas também o combate espiritual pessoal.
Isto não passou de moda, continua a ser tão actual como nos primeiros tempos da Igreja. Trata-se de um desafio permanente para superar o individualismo, viver a diversidade como um dom, buscando a unidade do presbitério, que é signo da presença de Deus na vida da comunidade.
Dessa maneira, reunidos em nome do Senhor, especialmente quando celebram a Eucaristia, manifestam, inclusive sacramentalmente, que Ele é o amor do seu coração.

Segundo: amar com toda a alma.
É estar disposto a oferecer a vida. Esta atitude deve persistir no tempo e abarcar todo o nosso ser.
Por isso a formação de um sacerdote não pode ser unicamente académica, ainda que esta seja muito importante e necessária, mas tem de ser um processo integral, que abarque todas as facetas da vida. A formação há de servir-lhes para crescer e, ao mesmo tempo, para se aproximar de Deus e dos irmãos.
Por favor, não se conformem com conseguir um título, mas sejam discípulos a tempo inteiro para anunciar a mensagem evangélica de modo credível e compreensível ao homem de hoje. Neste momento é importante crescer no hábito do discernimento, que lhes permita valorizar cada instante e moção, inclusive o que parece oposto e contraditório, e filtrar o que vem do Espírito; uma graça que devemos pedir de joelhos. Só a partir desta base, através das múltiplas tarefas no exercício do ministério, poderão formar os demais nesse discernimento que leva à Ressurreição e à Vida, e lhes permite dar uma resposta consciente e generosa a Deus e aos irmãos.
Da formação unicamente académica nascem todas as ideologias que empestam a Igreja, de um sinal ou de outro, do academismo clerical. Quatro são as colunas que a formação deve ter: formação académica, formação espiritual, formação comunitária e formação apostólica. E as quatro actuam entre si.

Finalmente, a terceira resposta de Jesus, amar com todas as forças,
Recorda-nos que onde está o nosso tesouro está o nosso coração, e que é nas nossas pequenas coisas, seguranças e afectos, onde jogamos o ser capazes de dizer que sim ao Senhor ou virar-lhe as costas como o jovem rico.
Não se podem contentar com ter uma vida ordenada e cómoda, que lhes permita viver sem preocupações, sem sentir a exigência de cultivar um espírito de pobreza radicado no Coração de Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nosso amor ou, como diz o texto, para nos enriquecer.
Pede-se-nos adquirir a autêntica liberdade de filhos de Deus, numa adequada relação com o mundo e com os bens terrenos, segundo o exemplo dos apóstolos, a quem Jesus convida a confiar na Providência e a segui-lo sem pesos nem ataduras.
Não se esqueçam disto: o diabo entra sempre pelo bolso, sempre.
Além disso, é bom aprender a dar graças pelo que temos, renunciando generosa e voluntariamente ao supérfluo, para estar mais próximo dos pobres e dos frágeis. (…) sejam testemunhas de Jesus, através da simplicidade e austeridade de vida, para chegarem a ser promotores credíveis de uma verdadeira justiça social.

 

Construir a paz

Papa Francisco, 2022

Todos desejamos a paz, mas muitas vezes o que queremos é estar em paz, sermos deixados em paz, não ter problemas, mas tranquilidade.
Jesus, por outro lado, não chama bem-aventurados os tranquilos, aqueles que estão em paz, mas aqueles que fazem a paz, os construtores, os pacificadores.

A paz tem que se construída e, como qualquer construção, precisa de colaboração e paciência. Gostaríamos que a paz chovesse do alto, ao invés disso a Bíblia fala de “semente da paz”, porque ela germina do solo da vida, da semente do nosso coração; cresce em silêncio, dia após dia, através de obras de justiça e misericórdia, como nos mostram as testemunhas luminosas que hoje festejamos. (Dia de Todos os Santos)

A paz requer colaboração e paciência, não é alcançada conquistando ou derrotando alguém, nunca é violenta, nunca é armada.
A paz não vem da força e do poder, como muitos são levados a acreditar.
O primeiro passo para ser um agente de paz é desarmar o coração. Todos nós estamos equipados com pensamentos agressivos, um contra o outro, e palavras afiadas, e pensamos em nos defender com os arames farpados da lamentação e com os muros de concreto da indiferença. Entre lamentação e indiferença nos defendemos. Isso não é paz. É guerra.

Que a Virgem Maria, Rainha de todos os santos, nos ajude a sermos construtores de paz na vida de cada dia.

 

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