Domingo V da Quaresma (PDF)     TEXTO

A partir de hoje, e enquanto durar a situação de pandemia, fica suspensa a edição da Folha Informativa em papel.

 

Ressurreição de Lázaro, Escola de Rembrandt

 

Os avisos de Deus são claros mas o mundo continua o seu curso; envolvidos pelas suas actividades, os homens não sabem discernir o sentido da história.

Tomam grandes acontecimentos por factos sem importância e medem o valor das realidades segundo uma perspectiva apenas humana…

O mundo permanece cego, mas a Providência oculta de Deus realiza-se dia após dia!

Cardeal John Henry Newman

 

Deixar que Jesus Se aproxime dos nossos sepulcros

Papa Francisco

As Leituras de hoje falam-nos do Deus da vida, que vence a morte. Analisemos em particular o último dos sinais milagrosos que Jesus realiza antes da sua Páscoa, no sepulcro do seu amigo Lázaro.

Ali tudo parece ter acabado: o túmulo está fechado com uma grande pedra; em volta, unicamente pranto e desespero. Também Jesus está abalado pelo mistério dramático da perda de uma pessoa querida: «Comoveu-se profundamente» e ficou «muito perturbado». Depois «desatou a chorar» e foi ao sepulcro, «mais uma vez profundamente comovido». É assim o coração de Deus: distante do mal mas próximo de quem sofre; não faz desaparecer o mal magicamente, mas compadece-Se com o sofrimento, o faz seu e o transforma habitando nele.

Contudo observamos que, no meio da desolação geral pela morte de Lázaro, Jesus não Se deixa levar pelo desânimo. Mesmo sofrendo Ele também, pede que se creia firmemente; não Se fecha no choro, mas, comovido, põe-Se a caminho do sepulcro. Não Se deixa capturar pelo ambiente emotivo e resignado que o circunda, mas reza com confiança e diz: «Pai, dou-Te graças».

Em volta deste sepulcro, acontece portanto um grande encontro-desencontro. Por um lado há a grande desilusão, a precariedade da nossa vida mortal que, atravessada pela angústia e pela morte, experimenta com frequência a derrota, uma obscuridade interior que parece insuperável. A nossa alma, criada para a vida, sofre sentindo que a sua sede de bem eterno é oprimida por um mal antigo e obscuro. Mas por outro há a esperança que vence a morte e o mal e tem um nome: a esperança chama-se Jesus. Ele não leva um pouco de bem-estar ou algum remédio para prolongar a vida, mas proclama: «Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá».

Também nós somos convidados a decidir de que parte estar. Podemos estar do lado do sepulcro ou do lado de Jesus. Há quem se deixa dominar pela tristeza e quem se abre à esperança. Há quem permanece vítima dos destroços da vida e quem, como vós, com a ajuda de Deus, remove os destroços e reconstrói com esperança paciente.Face aos grandes «porquês» da vida temos dois percursos: ficar a olhar melancolicamente para os sepulcros de ontem e de hoje, ou deixar que Jesus se aproxime dos nossos sepulcros. Sim, porque cada um de nós já tem um pequeno sepulcro, alguma parte um pouco morta dentro do coração: uma ferida, uma injustiça suportada ou cometida, um rancor que não dá trégua, um remorso que vai e volta, um pecado que não se consegue superar.Encontremos hoje estes nossos pequenos sepulcros que temos dentro e convidemos para ali Jesus.

É estranho, mas muitas vezes preferimos estar sozinhos nas grutas escuras que temos dentro, em vez de convidar para lá Jesus; somos tentados a procurar sempre a nós próprios, cismando e caindo na angústia, lambendo as nossas chagas, em vez de ir ter com Ele.
Sentimos então dirigidas a cada um de nós as palavras de Jesus a Lázaro: «Sai!»; do engarrafamento da tristeza sem esperança; desata as ligaduras do medo que impedem o caminho; aos laços das debilidades e das preocupações que te bloqueiam, repete que Deus desfaz os nós.

Se os pesos não faltarão, haverá sempre a sua mão que alivia, a sua Palavra que encoraja e diz a todos nós, a cada um de nós: «Sai! Vem a Mim!». Diz a todos nós: «Não tenhais medo».

Também a nós, hoje como naquela época, Jesus diz: «Tirai a pedra!». Por muito pesado que seja o passado, grande o pecado, muita a vergonha, nunca fechemos a entrada ao Senhor. Tiremos diante d’Ele aquela pedra que impede que Ele entre: este é o tempo favorável para remover os nossos pecados, o nosso apego às vaidades mundanas, o orgulho que nos bloqueia a alma, tantas inimizades entre nós, nas famílias… Este é o momento favorável para remover todas estas coisas.

 

A dor dos inocentes

P. Raniero Cantalamessa

O cordeiro sacrificado, Josefa de Ayala

Foi escrito que a dor dos inocentes «é a rocha do ateísmo». Após Auschwitz, o problema colocou-se de maneira ainda mais premente. São incontáveis os livros e os argumentos escritos em torno deste tema. Parece que estamos num processo judicial, em que ouvimos a voz do juiz a ordenar ao réu para se levantar. O réu, neste caso, é Deus, a fé.
O que pode a fé responder a tudo isto?

Antes de mais, é necessário que nos disponhamos todos, crentes e não crentes, a uma atitude de humildade, porque se a fé é incapaz de “explicar” a dor, a razão ainda o é menos.
A dor dos inocentes é algo de demasiado puro e misterioso para poder ser contido dentro das nossas pobres “explicações”. Jesus, diante da viúva de Naim e da irmã de Lázaro, não soube fazer melhor do que comover-se e chorar.
A resposta cristã ao problema da dor inocente está contida num nome: Jesus Cristo. Jesus não veio dar-nos doutas explicações sobre a dor, mas veio para a tomar silenciosamente sobre Si. Tomando-a sobre Si, no entanto, mudou-a por dentro: de sinal de maldição, fez dela instrumento de redenção.
Mais: fez dela o valor supremo, a ordem de grandeza mais elevada neste mundo.

Jesus não deu, porém, apenas um sentido à dor inocente; conferiu-lhe também um poder novo, uma misteriosa fecundidade.
Olhemos para o que brota do sofrimento de Cristo: a ressurreição e a esperança para todo o género humano.
Mas olhemos ao que acontece também à nossa volta. Quanta energia e heroísmo suscita muitas vezes, num casal, a aceitação de um filho deficiente, remetido ao leito durante anos. Quanta solidariedade inesperada em torno deles. Quanta capacidade de amor desconhecida.
O mais importante, no entanto, quando se fala de dor inocente, não é explicá-lo; é não aumentá-la com os nossos actos e com as nossas omissões.
E também não chega não aumentar a dor inocente; é preciso igualmente procurar aliviar a que existe.

Diante de uma criança tolhida de frio que chorava de fome, um homem gritou um dia a Deus, do fundo do coração: «Ó Deus, onde estás? Porque não fazes alguma coisa por esta criança inocente?».
E Deus respondeu-lhe:
«Certamente que fiz algo por ela: fiz-te a ti!».

 

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