Domingo IV do Tempo Comum (PDF) TEXTO

Bem-aventurados

Fra Angelico, Discurso da Montanha

Este texto abre o “Sermão da Montanha” e iluminou a vida dos crentes, e também de muitos não-crentes.

É difícil não se comover com estas palavras de Jesus, e é justo o desejo de as compreender e acolher cada vez mais plenamente.

As Bem-aventuranças contêm o “bilhete de identidade” do cristão porque delineiam o rosto do próprio Jesus, o seu estilo de vida.

Jesus, vendo a multidão que o seguia, sobe à encosta que rodeia o lago da Galileia, senta-Se e, dirigindo-Se aos discípulos, anuncia as bem-aventuranças.

A mensagem é dirigida aos discípulos, mas no horizonte está a multidão, ou seja, toda a humanidade.

Estes “novos mandamentos” são muito mais que normas. De facto, Jesus nada impõe, mas revela o caminho da felicidade – o seu caminho – repetindo a palavra “felizes” oito vezes.

Papa Francisco, 2020

O vínculo entre a família e a comunidade cristã

Papa Francisco, 2015

Joseph Matar, Bem-aventuranças

O vínculo entre a família e a comunidade cristã é, por assim dizer, «natural» porque a Igreja é uma família espiritual e a família é uma pequena Igreja.

A comunidade cristã é a casa daqueles que acreditam em Jesus como a fonte da fraternidade entre todos os homens. A Igreja caminha no meio dos povos, na história dos homens e das mulheres, dos pais e das mães, dos filhos e das filhas: esta é a história que conta para o Senhor.

Os grandes acontecimentos dos poderes mundanos escrevem-se nos livros de história, e ali permanecem. Mas a história dos afectos humanos inscreve-se directamente no Coração de Deus; e é a história que permanece para sempre. Este é o lugar da vida e da fé.

A família é o lugar da nossa iniciação – insubstituível, indelével – nesta história. Nesta história de vida plena, que acabará na contemplação de Deus por toda a eternidade no Céu, mas começa na família! Por isso a família é tão importante.

O Filho de Deus aprendeu a história humana nesta via, e percorreu-a até ao fim. É bom voltar a contemplar Jesus e os sinais deste vínculo!
Ele nasceu numa família e ali «aprendeu o mundo»: uma oficina, quatro casas, uma aldeia insignificante. No entanto, vivendo por trinta anos esta experiência, Jesus assimilou a condição humana, acolhendo-a na sua comunhão com o Pai e na sua própria missão apostólica.
Depois, quando deixou Nazaré e começou a vida pública, Jesus formou ao seu redor uma comunidade, uma «assembleia», uma com-vocação de pessoas. Eis o significado da palavra «igreja».

Nos Evangelhos, a assembleia de Jesus tem a forma de uma família, e de uma família hospitaleira, não de uma seita exclusiva, fechada: nela encontramos Pedro e João, mas também o faminto e o sedento, o estrangeiro e o perseguido, a pecadora e o publicano, os fariseus e as multidões.
E Jesus não cessa de acolher e falar com todos, até com quantos já não esperam encontrar Deus na sua vida. É uma lição forte para a Igreja!
Os próprios discípulos são eleitos para cuidar desta assembleia, desta família dos hóspedes de Deus.

Para que seja viva no hoje desta realidade da assembleia de Jesus, é indispensável reavivar a aliança entre a família e a comunidade cristã.
Poderíamos dizer que a família e a paróquia são os dois lugares onde se realiza aquela comunhão de amor que encontra a sua derradeira fonte no próprio Deus.

Uma Igreja verdadeiramente segundo o Evangelho não pode deixar de ter a forma de uma casa hospitaleira, sempre de portas abertas. As igrejas, as paróquias e as instituições, com as portas fechadas, não devem chamar-se igrejas, mas museus!

E hoje esta é uma aliança crucial.
“Contra os centros de poder ideológicos, financeiros e políticos, voltemos a pôr as nossas esperanças nestes centros do amor evangelizador, ricos de calor humano, assentes na solidariedade, na participação” (Pont. Cons. para a Família, Papa Francesco), e também no perdão entre nós.

Hoje é indispensável e urgente fortalecer o vínculo entre família e comunidade cristã.
Sem dúvida, é necessária uma fé generosa para ter a inteligência e a coragem de renovar esta aliança. Às vezes, as famílias hesitam, dizendo que não estão à altura. Isto é verdade. Mas ninguém é digno, ninguém está à altura, ninguém tem força! Sem a graça de Deus, nada poderíamos fazer. Tudo nos é dado gratuitamente! E o Senhor nunca chega a uma nova família sem fazer algum milagre.
Sim, quando nos pomos nas suas mãos, o Senhor leva-nos a fazer milagres todos os dias!

Naturalmente, também a comunidade cristã deve fazer a sua parte. Por exemplo, procurar superar atitudes demasiado directivas e funcionais, favorecendo o diálogo interpessoal, o conhecimento e a estima recíproca.

As famílias tomem a iniciativa e sintam a responsabilidade de oferecer os seus dons preciosos em prol da comunidade.
Todos nós devemos estar conscientes de que a fé cristã se vive no campo aberto da vida partilhada com todos; a família e a paróquia devem realizar o milagre de uma vida mais comunitária para a sociedade inteira.

Felicidade é um dos nomes de Deus

Ermes Ronchi, In “Avvenire” 2015

Johann Koenig, Todos os Santos

Os santos são os homens das Bem-aventuranças.

Estas palavras são o coração do Evangelho, a narrativa de como o homem Jesus passou pelo mundo, e por isso são o rosto alto e puro de cada ser humano, as novas hipóteses de humanidade. São o desejo de um totalmente outro modo de ser homens, o sonho de um mundo feito de paz, de sinceridade, de justiça, de corações límpidos.

Na narração do Evangelho surge nove vezes a palavra “Bem-aventurados” [“Felizes” noutras traduções], revelando um Deus que toma a seu cuidado a alegria do ser humano, traçando-lhe os caminhos. Como habitualmente, inesperados, contracorrente. E ficamos como que sem respiração diante da ternura e do esplendor destas palavras.

As Bem-aventuranças recapitulam a boa notícia, o anúncio jubiloso de que Deus oferece a vida a quem produz amor, que se alguém se encarrega da felicidade de alguém, o Pai Se encarregará da sua felicidade.

Quando são proclamadas, continuam a saber fascinar-nos, mas depois saímos da igreja e damo-nos conta de que para habitar a Terra, este mundo agressivo e duro, escolhemos o manifesto mais difícil, incrível, revolucionário e em contramão que o ser humano pode pensar.

A primeira diz: felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino, já, não na outra vida. Felizes porque há mais Deus em vós, mais liberdade, mais futuro. Felizes porque guardais a esperança de todos.

Neste mundo onde se está diante do desperdício e da miséria, um exército silencioso de homens e mulheres preparam um futuro bom: constroem paz, no trabalho, na família, nas instituições; são obstinados a propor a justiça, honestos mesmo nas pequenas coisas, não conhecem a duplicidade. Os homens das Bem-aventuranças, desconhecidos do mundo, aqueles que não aparecem nos jornais, são os secretos legisladores da história.

A terceira Bem-aventurança é a mais paradoxal: felizes aqueles que choram. Erguei-vos, vós que comeis um pão de lágrimas, diz o salmo. Deus está do lado de quem chora, mas não do lado da dor. Um anjo misterioso anuncia a cada um que chora: o Senhor está contigo. Deus não ama a dor, está contigo no reflexo mais profundo das tuas lágrimas, para multiplicar a coragem, para envolver o coração ferido, na tempestade está ao teu lado, força da tua força.

A palavra-chave das Bem-aventuranças é felicidade. Santo Agostinho, que redige uma obra inteira sobre a vida feliz, escreve: falámos da felicidade, e não conheço valor maior que se possa dizer dom de Deus. Deus não só é amor, não só é misericórdia, Deus é também felicidade.

Felicidade é um dos nomes de Deus.

 

 

 

 

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