Domingo II da Páscoa ou da Divina Misericórdia (PDF) TEXTO
A misericórdia abre a porta da mente para compreender melhor o mistério de Deus e da nossa existência pessoal.
É a misericórdia que abre a porta do coração e permite exprimir a proximidade com quantos estão sós e marginalizados, porque os faz sentir irmãos e filhos de um só Pai.
Ela favorece o reconhecimento de quantos precisam de consolação
e faz encontrar palavras adequadas para dar conforto.
A primeira tarefa que Jesus, depois de ressuscitado, transmitiu à Igreja foi a sua própria missão de levar a todos o anúncio concreto do perdão. Esse sinal visível da sua misericórdia leva consigo a paz do coração e a alegria do encontro renovado com o Senhor.
Papa Francisco. 2017
O Espírito Santo é a respiração de Deus
Ermes Ronchi, In Avvenire
Estando fechadas as portas da casa por causa do medo dos judeus…
Acontece sempre assim quando se age segundo o medo: a vida fecha-se. O medo paralisa a vida. Os discípulos têm medo até de si próprios, de como O renegaram. E todavia, Jesus vem. É uma comunidade de portas e janelas enclausuradas, onde falta o ar e se respira a dor, uma comunidade que está a adoecer.
E todavia, Jesus vem.
O papa Francisco continua a repetir que uma Igreja fechada, dobrada sobre si mesma, que não se abre, é uma Igreja doente.
E no entanto, Jesus vem. Vem para o meio dos seus, toca os seus medos, os seus limites, sem os temer. Sabe gerir a nossa imperfeição.
Mostrou-lhes as mãos e o lado. E os discípulos rejubilaram ao ver o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós.»
O abandonado regressa e escolhe precisamente aqueles que O tinham abandonado e envia-os. Administra a fragilidade e o cansaço dos seus com um método humaníssimo: o do primeiro passo.
O cardeal Martini dizia aos seus padres: em qualquer situação, mesmo na mais perdida, apontai um passo, um primeiro passo é sempre possível, para todos, um passo na direcção certa.
Não é por não termos atingido o ideal que seremos julgados, mas se tivermos caminhado na boa direcção, sem desistirmos, com quedas e infinitos recomeços, com os olhos fixos numa estrela polar.
Administrar a imperfeição significa isto: iniciar processos de vida e procurar obter o melhor resultado possível a cada dia. Muitos atirar-te-ão à cara a sua ideia de perfeição.
São, além disso, os mais convencidos de que exprimem a verdadeira sabedoria, mas com eles as coisas nunca mudam, na maior parte das vezes os perfeitos são imóveis.
Disto isto, soprou e disse-lhes: recebei o Espírito Santo.
Soprou… O Espírito é a respiração de Deus. Naquela sala fechada, naquela situação sem respiração, asfixiante, agora respira a respiração de Cristo, aquele princípio vital e luminoso, aquela intensidade que o fazia diferente, que fazia único o seu modo de amar e ampliava horizontes.
Àqueles a quem perdoardes o pecados, serão perdoados, àqueles a quem não perdoardes, não serão perdoados.
O perdão dos pecados não é uma missão reservada aos padres, é um compromisso confiado a todos os crentes que receberam o Espírito, homens e mulheres, pequenos e grandes.
O perdão não é um sentimento, mas uma decisão: «Plantai à vossa volta oásis de reconciliação, abri portas, reacendei o entusiasmo, reatai a confiança nas pessoas, criai sistemas de paz.
E quando os oásis se multiplicarem, conquistarão o deserto.
O meu Deus é um Deus ferido
Tomáš Halík
A fé cristã consiste em estabelecer uma relação constante entre o Evangelho e a nossa vida; consiste na coragem de «entrar nesta história».
Trata-se de tentar redescobrir, de forma sempre nova e mais profunda, o sentido das narrativas bíblicas, com base nas próprias experiências de vida, deixar actuar as possantes e fortes imagens do Evangelho para que elas, gradualmente, iluminem, interpretem e transformem o fluxo da nossa vida pessoal.
Muitos acontecimentos, vivências, ideias e intuições do instante precisam do seu tempo para em nós amadurecerem e darem fruto. (…)
Ninguém pode arrebatar-me a esperança de que «o Deus dos outros» seja, em última instância, também o «meu Deus»; porque o Deus em que acredito é igualmente o Deus daqueles que não conhecem o Nome, com que eu o invoco.
Todavia, de um só fôlego, acrescento e confesso: “para mim”, não há outro caminho, não há outra porta para Ele, excepto aquela que é aberta por uma mão chagada e um coração trespassado. Não posso clamar «“meu”Senhor e “meu” Deus», se não vir a ferida que chega ao coração.
Se «credere» (crer) deriva de «cor dare» (dar o coração), então, devo confessar que o meu coração e a minha fé pertencem apenas ao Deus que pode mostrar as suas chagas. (…)
Tomé era um homem disposto a seguir o seu Mestre até ao fim mais acerbo e difícil. Tomou a sério a cruz, e a notícia sobre a ressurreição afigurou-se-lhe talvez como um «happy-end» demasiado fácil para a história da paixão de Jesus. Talvez por isso se tenha recusado a aderir à alegria dos outros Apóstolos; e quis, por conseguinte, ver as chagas de Jesus.
Quis ver se «a ressurreição» não esvaziava a cruz– só então pôde pronunciar o seu «creio».
Terá, porventura, o «incrédulo Tomé» captado, no fim de contas, o sentido do evento pascal mais profundamente do que os outros?
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