Domingo II da Quaresma (PDF) TEXTO
No final da admirável experiência da transfiguração, os discípulos desceram do monte com os olhos e o coração transfigurados pelo encontro com o Senhor.
É o percurso que podemos realizar também nós.
A redescoberta cada vez mais viva de Jesus não constitui um fim em si, mas induz-nos a «descer do monte», restaurados pela força do Espírito divino, para decidir novos passos de conversão e para testemunhar constantemente a caridade, como lei de vida diária.
Transformados pela presença de Cristo e pelo fervor da sua palavra, seremos sinal concreto do amor vivificador de Deus por todos os nossos irmãos, sobretudo por quem sofre, por quantos se encontram na solidão e no abandono, pelos doentes e pela multidão de homens e mulheres que, em diversas partes do mundo, são humilhados pela injustiça, pela prepotência e pela violência.
Papa Francisco
Rumo ao amor
Luigi Verdi ,In La realtà sa di pane
Na realidade, sabemos bem que a linha de fronteira do mal passa no meio do coração de cada ser humano, e nenhum de nós pode iludir-se quanto a estar totalmente do lado de cá ou de lá. Cada pessoa tem consigo o seu ser nobre e ignóbil, a sua parte forte e fraca, madura e imatura, e a aspiração a crescer.
Fraternidade é o colocar-se diante do outro, dos seus cansaços, dos seus problemas, dos seus ideais, e caminhar com ele rumo a um recíproco crescimento de vida.
Jesus veio à Terra para para suscitar uma comunhão de amor. Na comunidade de Jesus não há os onze mais Judas, mas os doze com Judas, para nos recordar que o mal não se pode arrumar dentro de fronteiras que separam os indivíduos, o mal extravasa para o coração dos seres humanos, de todos os seres humanos.
O ser humano deve convencer-se de que a sua tarefa não é conquistar Deus, mas deixar-se encontrar.
Muitas vezes temos uma estrutura humana e espiritual que nos faz sentir como uma cidade forte, queremos fazer as coisas sozinhos, mas quanto mais alguém se sente uma cidade forte, mais se fecham as portas, deixando de confiar e eliminando a docilidade. Quando se cria um oásis, chegam os ídolos, e cessa a abertura, a confiança, o aninhar-se entre os joelhos de Deus.
A crise cristã de hoje não é tanto das estruturas, que podem ser mudadas; o problema não é ser precisa uma organização melhor; o verdadeiro problema é de fé, de confiança, de abandono, o objectivo é conseguir construir uma comunidade de portas abertas, que confia e encontra a verdadeira segurança só em Deus.
Não é fácil estarmos calmos, não nos agitarmos em demasia, evitar por vezes exprimir a sua opinião.
Somos diferentes em temperamento e mentalidade, não somos nem perfeitos, nem heróis, nem puros.
Jesus trabalhou sempre para que realizássemos uma fraternidade que se exprimisse em atenção.
Uma fraternidade requer modéstia, discrição, reconhecimento pelo valor que cada pessoa tem dentro de si. Não deve haver proprietários da verdade, mas buscadores.
Requer que os responsáveis estejam ao serviço dos outros, e que a grandeza de uma pessoa não se meça naquilo que é evidente, mas oculto.
A atenção maior deve ser para a pessoa mais doente, até que seja curada, para a que mais esteja à parte, até que se abra aos outros, para a mais avara, até que se torne generosa, para a mais imatura, até que cresça, para a mais morna, até que se deixe inflamar pelo fogo do Espírito.
Gostava que a nossa fraternidade tivesse como referência a experiência de Jesus no Tabor.
Como naquele monte, o convite é para conduzir os amigos para o alto, fora do rumor, e fazer ver-lhes o seu verdadeiro rosto, fazer sentir como «é belo estarmos aqui». Tocá-los e dar-lhes força, tirando-lhes o medo.
Depois, sem criar tendas, voltarem a viver no seu pequeno espaço quotidiano.
Gostaria que as pessoas encontrassem em nós um espaço de liberdade, um refúgio nos momentos de desencorajamento; gostaria que quem quisesse pudesse encontrar um lugar para cantar, e a nossa única palavra fosse: “Effatà”, abre-te.
Gostaria que ao final de cada dia nos sentíssemos servos inúteis, para permanecermos livres e soltos: livres do peso insuportável de ter de responder a todo o custo a todas as expectativas, de estar sempre perfeitamente à altura de todos os desafios de cada tempo.
Um sentir-se insuficiente que nos dá alegria, confiança, e não perturbação, porque não nos cabe salvar o mundo, e não devemos carregar o peso do mundo aos ombros; nem temos de renovar a face da Terra, mas ser simplesmente pessoas de boa vontade, com o fogo no coração e a profecia no olhar.
Consola-nos o facto de que Jesus envia como testemunhas aqueles que conheciam o medo e a fraqueza, pedindo-lhes para serem presenças silenciosas no caminho das pessoas.
A fraternidade que muitas vezes sonho é algo de muito simples: um oásis da paz, onde possam repousar Deus e o ser humano.
Enamora-te!
Pe. Arrupe, sj
Não há nada mais prático do que encontrar a Deus; do que amá-Lo de um modo absoluto, até ao fim.
Aquilo por que estejas enamorado e arrebate a tua imaginação, afectará tudo. Determinará o que te há-de fazer levantar de manhã e o que farás dos teus finais de tarde; como passarás os fins-de-semana, o que irás ler e quem deverás conhecer; o que te partirá o coração e o que te encherá de espanto, alegria e gratidão.
Enamora-te, permanece enamorado, e isso decidirá o resto!
Pe. Arrupe sj.