I Domingo do Advento (PDF) TEXTO

Advento, tempo de esperar

Piero della Francesca, Nossa Senhora do Parto

Se ocuparmos o tempo de espera – não só no Advento, mas o da espera do regresso de Cristo, isto é, todo o nosso tempo – descentrando-nos de nós mesmos, preocupando-nos um pouco menos com o nosso eu, com o não nos perdermos em hipóteses aleatórias sobre a vinda do Senhor que tarda, se procurarmos, em vez disso, com o nosso amor pelo próximo responder ao amor com que Deus nos amou, então descobriremos que será sempre demasiado breve o tempo da nossa espera.

Irmão Daniel, In “Mosteiro de Bose”

 

 

 

Tempo do Advento

Papa Francisco, 2017

Fra Angélico, Anunciação

Começamos o caminho do Advento, que culminará no Natal.

O tempo que nos é concedido para acolher o Senhor que vem ao nosso encontro, também para verificar o nosso desejo de Deus, para olhar em frente e nos preparar ao regresso de Cristo.

Ele voltará a nós na festa do Natal, quando fizermos memória da sua vinda histórica na humildade da condição humana; mas vem dentro de nós todas as vezes que estamos dispostos a recebê-l’O, e virá de novo no fim dos tempos para «julgar os vivos e os mortos». Por isso, devemos estar vigilantes e esperar o Senhor com a expectativa de o encontrar.

A pessoa atenta é a que, no meio do barulho do mundo, não se deixa tomar pela distracção ou pela superficialidade, mas vive de maneira plena e consciente, com uma preocupação voltada antes de tudo aos outros.

Com esta atitude percebemos as lágrimas e as necessidades do próximo e podemos dar-nos conta também das suas capacidades e qualidades humanas e espirituais.

A pessoa atenta também se preocupa com o mundo, procurando contrastar a indiferença e a crueldade presentes nele, e alegrando-se pelos tesouros de beleza que, contudo, existem e devem ser preservados.
Trata-se de ter um olhar de compreensão para reconhecer quer as misérias e as pobrezas dos indivíduos e da sociedade, quer a riqueza escondida nas pequenas coisas de cada dia, precisamente ali onde nos colocou o Senhor.

A pessoa vigilante é a que aceita o convite a vigiar, ou seja, a não se deixar dominar pelo sono do desencorajamento, da falta de esperança, da desilusão; e ao mesmo tempo, rejeita a solicitação de tantas vaidades de que o mundo está cheio e atrás das quais, por vezes, se sacrificam tempo e serenidade pessoal e familiar.

É a experiência dolorosa do povo de Israel, narrada pelo profeta Isaías: Deus parecia ter deixado desviar para longe dos seus caminhos o seu povo, mas estes eram um efeito da infidelidade do próprio povo. Também nós encontramo-nos frequentemente nesta situação de infidelidade à chamada do Senhor: Ele indica-nos o caminho bom, o caminho da fé, o caminho do amor, mas nós procuramos a nossa felicidade noutro lugar.

Estar atentos e vigilantes são os pressupostos para não continuar a “desviar para longe dos caminhos do Senhor”, perdidos nos nossos pecados e nas nossa infidelidades; estar atentos e ser vigilantes são as condições para permitir que Deus irrompa na nossa existência, para lhe restituir significado e valor com a sua presença cheia de bondade e ternura.

Maria Santíssima, modelo na expectativa de Deus e ícone da vigilância, nos guie ao encontro do filho Jesus, revigorando o nosso amor por Ele.
Quando o Senhor Se fizer presente no meio do seu povo, terá a Igreja chegado à sua festa completa, significada pela Solenidade do Natal.

 

Mateus, o evangelista do Ano A

Do site paroquias.org

Pieter Lastman, São Mateus

Mateus era um dos Doze, identificado com Levi, cobrador de impostos.

Pelo conhecimento que mostra das Escrituras e das tradições judaicas, pela força interpelativa da mensagem sobre os chefes religiosos do seu povo, pelo perfil de Jesus apresentado como Mestre, o autor deste Evangelho era, com certeza, um letrado judeu tornado cristão, um mestre na arte de ensinar e de fazer compreender o mistério do Reino do Céu, o tesouro da Boa-Nova anunciada por Jesus, o Messias, Filho de Deus.

Escrevendo entre judeus e para judeus, Mateus procura mostrar como na pessoa e na obra de Jesus se cumpriram as Escrituras, que falavam profeticamente da vinda do Messias.
Cristo realiza as Escrituras, não só cumprindo o que elas anunciam, mas aperfeiçoando o que elas significam. Assim, os textos da Escritura neste Evangelho confirmam a fidelidade aos desígnios divinos e, simultaneamente, a novidade da Aliança em Cristo.

Ocupam um importante lugar na trama do livro, tendo a encerrá-los as mesmas palavras, e apresentam sucessivamente: “a justiça do Reino”, os arautos do Reino, os mistérios do Reino, os filhos do Reino e a necessária vigilância na expectativa da manifestação última do Reino.

O Reino proclamado por Jesus como juízo iminente é, antes de mais, presença misteriosa de salvação já actuante no mundo.

Na sua condição de peregrina, a Igreja é “o verdadeiro Israel” onde o discípulo é convidado à conversão e à missão, lugar de tensão ética e penitente, mas também realidade sacramental e presença de salvação.

Não identificando a Igreja com o Reino do Céu, Mateus continua hoje a recordar-lhe o seu verdadeiro rosto: uma instituição necessária e uma comunidade provisória, na perspectiva do Reino de Deus.

Como os outros Evangelhos, o de Mateus refere a vida e os ensinamentos de Jesus, mas de um modo próprio, explicitando a cristologia primitiva: em Jesus de Nazaré cumprem-se as profecias; Ele é o Salvador esperado, o Emanuel, o “Deus connosco” até à consumação da História; é o Mestre por excelência que ensina com autoridade e interpreta o que a Lei e os Profetas afirmam acerca do Reino do Céu (= Reino de Deus); é o Messias, no qual converge o passado, o presente e o futuro e que, inaugurando o Reino de Deus, investe a comunidade dos discípulos – a Igreja – do seu poder salvífico.

 

Arquivo de Folhas Informativas anteriores a 25.11.2018