XIII Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO
A Folha Informativa vai de férias!
Regressa em Setembro. Boas férias!
Às vezes o sofrimento dalguns jovens é lacerante, não se pode expressar com palavras, fere como um soco.
Estes jovens só podem dizer a Deus que sofrem muito, que lhes custa imenso continuar para diante, que já não acreditam em ninguém.
Mas, neste grito desolador, fazem-se ouvir as palavras de Jesus: «Felizes os que choram, porque serão consolados».
Há jovens que conseguiram abrir caminho na vida, porque lhes chegou esta promessa divina. Junto de um jovem atribulado, possa haver sempre uma comunidade cristã para fazer ressoar aquelas palavras com gestos, abraços e ajuda concreta!
Papa Francisco, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christus vivit
Uma prática para as férias: revisitar o Pai Nosso
José Tolentino Mendonça, In Simone Weil – Marginalidade e alternativa
A descoberta que Simone Weil faz do Pai-Nosso ocupa uma das páginas mais intensas da sua autobiografia espiritual. Tudo começa por um desejo, manifestado ao seu conselheiro espiritual, o Padre Perrin.
Ao longo do ano de 1941, ela declara a necessidade de voltar a uma actividade dos Verãos da sua adolescência: contactar directamente com a terra, colaborando no trabalho de produção dos alimentos. Não é um projecto fácil de explicar este de se tornar uma rapariga do campo, quando os amigos mais próximos fazem coro para que ela se concentre nos seus domínios de saber: a filosofia, a poesia, a escrita e a palavra.
Nesses meses ela multiplica-se em cartas e em razões, para justificar que a purificação do esforço agrícola lhe traz instantes de alegria profunda, uma seiva que ela não encontra em mais lado nenhum.
É então por sugestão do Padre Perrin que ela contacta Gustave Thibon, que tanta importância viria a ter na difusão do pensamento da jovem filósofa. Thibon era, já naquela altura, um filósofo camponês que chegava às academias, mas a partir de um improvável baluarte: uma quinta agrícola em Saint-Marcel-d’Ardèche. Simone aportará ali nos começos de Agosto de 1941 onde passa dois meses.
Há ainda um primeiro incidente a resolver: ela rejeita ficar na casa grande da quinta e vai residir num precário barracão solitário e sem grandes condições, deixando contrariados os seus anfitriões. Mas Gustave Thibon conta que num desses primeiros dias, quando não sabia bem o que pensar daquela rapariga, viu Simone, pendurada no tronco de uma árvore, a contemplar em silêncio o vale: «eu vi o seu olhar emergir pouco a pouco da visão; a intensidade e a pureza deste olhar eram tais que sentia que ela contemplava abismos interiores ao mesmo tempo que o esplêndido horizonte se abria a seus pés. A beleza da sua alma correspondia a terna majestade da paisagem».
Foi o selar de uma grande amizade.
Nessa estação Simone encontra-se com o Pai-Nosso, talvez por um inusitado caminho. Ela conta:
«O Verão passado, estudando grego com T…. (Thibon), passei-lhe palavra a palavra o Pater em Grego.
Tínhamo-nos prometido aprendê-lo de cor. Creio que ele não o fez. Eu tão pouco, até essa altura. Mas, algumas semanas mais tarde, folheando o Evangelho, disse-me a mim mesma que, uma vez que mo tinha prometido e que assim estava bem, devia fazê-lo.
Fi-lo. A doçura infinita deste texto grego tomou-me então de tal forma que durante alguns dias não consegui impedir-me de o recitar continuamente. Uma semana depois, comecei a vindima. Recitava o Pater em grego todos os dias antes do trabalho, e repeti-o não poucas vezes na vinha.
Desde então, impus-me como única prática recitá-lo uma vez, cada manhã, com uma atenção absoluta. Se durante a recitação a minha atenção se desvia ou deixa adormecer, mesmo que de modo infinitesimal, recomeço até que tenha obtido, por uma vez, uma atenção absolutamente pura. Acontece-me então, por vezes, recomeçar, uma vez mais, por puro prazer, mas só o faço se o desejo me instiga.
A virtude desta prática é extraordinária e surpreende-me toda e cada uma das vezes, porque apesar de a experimentar todos os dias, ela ultrapassa sempre, de cada vez, o que era a minha expectativa.
Por vezes, logo as primeiras palavras arrancam o meu pensamento ao meu corpo e transportam-no a um lugar fora do espaço onde não há nem perspectiva nem ponto de vista. O espaço abre-se. A infinidade do espaço normal de percepção é substituída por uma infinidade elevada à segunda ou, por vezes, à terceira potência. Ao mesmo tempo, esta infinidade da infinidade preenche-se, de um extremo ao outro, de silêncio, um silêncio que não é uma ausência de som, que é objecto de uma sensação positiva, mais positiva que a de um som. Os ruídos, se os há, não me chegam senão depois de atravessarem este silêncio.
Por vezes também, durante esta recitação ou noutros momentos, Cristo está presente em pessoa, mas a sua presença é infinitamente mais real, mais lancinante, mais clara e mais plena de amor do que a daquela primeira vez em que me tomou».
As férias ensinam a olhar, perguntar, pensar
Enzo Binchi, in Monasterio di Bose
Habitualmente olhamos as pessoas ou as coisas, mas não as vemos. Não temos tempo para deter o olhar, habituado a responder ao estímulo de alguma coisa que o atrai de maneira repentina: um semáforo, um placar publicitário…Ou então olhamos aquilo que nos é dito para olhar: os nossos olhos são atraídos por aquilo que foi pensado para nos seduzir, para chamar a nossa atenção, para acender o nosso desejo.
As férias são um tempo propício para exercitar o olhar.
É assim que se aprende a “ver com o coração”, como aconselhava o Principezinho. Então, ao abrir os olhos do nosso coração, podemos dedicar-nos a contemplar, a ver em grande, e, por isso, a sentir em grande. Assim se começa a ver verdadeiramente aquilo que existe e vive ao nosso lado, ainda que muitas vezes não nos apercebamos; treinamo-nos a admirar e a acolher o inesperado, o que é desconhecido e diferente daquilo que pensamos.
As férias são também um tempo propício para exercitar-se a reflectir sobre a própria vida. Também esta é uma operação não espontânea, árdua, mas é fundamental escutar as perguntas que nos habitam. Perguntas que não podem ser iludidas a não ser removendo-as, ou “distraindo-nos”, inebriando-nos de activismo. Estes dias “vazios” são, antes, a ocasião para nos deixarmos habitar, com calma, pelas perguntas cruciais: como está a minha vida? Aonde cheguei?
O que me falta?…
Schopenhauer anotava que «o homem é um animal metafísico», habilitado a colocar-se perguntas que vão para além do visível. O que quer dizer viver e morrer? O que significa amar verdadeiramente? O amor pode acabar? O ser humano é um animal capaz de colocar-se estas interrogações, porque quer interpretar a sua existência, e dela quer dar-se e dar razões. Não há respostas claras e certas? Não é por isso que tem de se interditar de escutar estas perguntas, pelo contrário!
É preciso, então, encontrar tempo para ficar a sós, no silêncio, e demorar-se nas perguntas que nos habitam. Se nunca fizermos este “trabalho”, arriscamo-nos a viver à superfície, sem estarmos conscientes, sem conseguir ler a nossa vida e a avaliá-la nas suas expectativas e nos seus fracassos. Os latinos diziam que cada ser humano amadurecido deve conseguir habitar consigo, escutar-se. Não é uma operação narcisista, mas um acto de verdade sobre si e sobre a relação com os outros. É uma necessidade para agarrar a própria vida nas mãos com um mínimo de lucidez, e assim aprender a amar-se a si e aos outros com inteligência e criatividade.
Nas férias, dêmos, por isso, tempo à reflexão, ao pensar. E a quem nos pergunta «o que estás a fazer?», respondamos: «Olho e penso». Rara mas extraordinária resposta!
Não uma coisa de ricos, nem um tempo de ausência – como indica a etimologia da palavra em francês, “vacances”, ou italiano, “vacanze” –, mas como explicou o Papa Francisco a 6 de Agosto de 2017, algo de importante para todos, porque todos precisam de um tempo útil para retemperar as forças do corpo e do espírito, aprofundando o caminho espiritual.
A subida dos discípulos ao monte Tabor induz-nos a reflectir na importância de afastar-se das coisas mundanas para realizar um caminho para o alto e contemplar Jesus.
Trata-se de nos dispormos à escuta atenta e orante do Cristo Filho amado do Pai, buscando momentos de oração que permitam o acolhimento dócil e feliz da Palavra de Deus.
Somos chamados a redescobrir o silêncio pacificador e regenerador da meditação do Evangelho, da Bíblia, que conduz a uma vida rica de beleza, de esplendor e de alegria tomados pelo ritmo cada vez mais veloz da vida quotidiana, temos todos necessidade de vez em quando de fazer uma pausa e de nos repousarmos, concedendo-nos um pouco mais de tempo para reflectir e orar.
Apresentando-nos o Senhor que abençoa o dia dedicado por excelência ao repouso, a Bíblia quer fazer notar a necessidade que o ser humano tem de dedicar uma parte do seu tempo à experiência da liberdade das coisas, para reentrar em si mesmo e cultivar o sentido da sua grandeza e dignidade enquanto imagem de Deus.
As férias, portanto, não devem ser vistas como uma simples evasão, que empobrece e desumaniza, mas como momentos qualificantes da própria existência da pessoa.
Interrompendo os ritmos quotidianos, que afadigam e esgotam fisicamente e espiritualmente, a pessoa tem a possibilidade de recuperar os aspectos mais profundos do viver e do agir.
Nos momentos de repouso, e, em particular, durante as férias, o ser humano é convidado a tomar consciência do facto de que o trabalho é um meio, e não a meta da vida, e tem a possibilidade de descobrir a beleza do silêncio como espaço no qual se reencontrar a si mesmo para se abrir ao reconhecimento e à oração.
É-lhe espontâneo, então, considerar com um olhar diferente a sua existência e a dos outros: livre das prementes ocupações diárias, ele tem maneira de redescobrir a sua dimensão contemplativa, reconhecendo os vestígios de Deus na natureza, e sobretudo nos outros seres humanos