VIII Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO

van Weyden, Deposição da Cruz
Tenho uma grande tristeza no meu coração com o agravamento da situação na Ucrânia. Mais uma vez, a paz de todos está ameaçada por interesses de parte.
Jesus ensinou-nos que à insistência diabólica, à diabólica insensatez da violência se responde com as armas de Deus: com a oração e o jejum.
Convido todos a fazerem no próximo 2 de Março, Quarta-feira de Cinzas, um dia de jejum pela paz. Encorajo, de modo especial os crentes a se dedicarem intensamente à oração e ao jejum naquele dia.
Que a Rainha da Paz preserve o mundo da loucura da guerra.
Papa Francisco, Fevereiro 2022
“Nós-eles” e “dentro-fora” são opostos que não servem à Igreja
Papa Francisco, Angelus, 30.9.2018

watletje watletjeart, Atrás da porta
O Evangelho deste domingo (cf. Marcos 9,38-43.45.47-48) apresenta-nos um daqueles episódios particulares muito instrutivos da vida de Jesus com os seus discípulos. Estes tinham visto que um homem, que não fazia parte do grupo dos seguidores de Jesus, expulsava os demónios no nome de Jesus, e por isso queriam proibi-lo.
João, com o entusiasmo zelador típico dos jovens, refere o facto ao Mestre, procurando o seu apoio; mas Jesus, ao contrário, responde: «Não o impedis, porque não há ninguém que faça um milagre no meu nome e logo depois possa falar mal de mim: quem não é contra nós, é por nós».
João e os outros discípulos manifestam uma atitude de fechamento diante de um acontecimento que não entra nos seus esquemas, neste caso a acção, boa, de uma pessoa “externa” à cerca dos seguidores.
Ao contrário, Jesus surge como muito livre, plenamente aberto à liberdade do Espírito de Deus, que na sua acção não é limitado por qualquer fronteira e qualquer perímetro. Jesus quer educar os seus discípulos, também a nós, hoje, para esta liberdade interior.
Faz-nos bem reflectir sobre este episódio e fazer um pouco de exame de consciência. A atitude dos discípulos de Jesus é muito humana, muito comum, e podemos reencontrá-la nas comunidades cristãs de todos os tempos, provavelmente também em nós próprios.
De boa fé, melhor, com zelo, deseja-se proteger a autenticidade de uma certa experiência, protegendo o fundador ou o líder dos falsos imitadores. Mas ao mesmo tempo há como que o medo da “concorrência – e isto é mau: o medo da consciência –, medo de alguém possa subtrair novos seguidores, e então não consegue valorizar o bem que os outros fazem: não está bem porque “não é dos nossos”, diz-se.
É uma forma de auto-referencialidade. Aliás, reside aqui a raiz do proselitismo. E a Igreja – dizia o papa Bento – não cresce por proselitismo, cresce por atracção, isto é, cresce pelo testemunho dado aos outros com a força do Espírito Santo.
A grande liberdade de Deus no dar-Se a nós constitui um desafio e uma exortação para modificar as nossas atitudes e as nossas relações. É o convite que nos dirige Jesus hoje.
Ele chama-nos a não pensar segundo as categorias de “amigo/inimigo”, “nós/eles”, “quem está dentro/quem está fora”, “meu/teu”, mas a ir além, e abrir o coração para poder reconhecer a sua presença e a acção de Deus também em contextos insólitos e imprevisíveis e em pessoas que não fazem parte da nossa cerca.
Trata-se de estarmos atentos à genuinidade do bem, do belo e do verdadeiro que é realizado, e não ao nome e à proveniência de quem o realiza. E – como sugere a restante parte do Evangelho de hoje – em vez de julgar os outros, devemos examinarmo-nos e “cortar” sem compromissos tudo aquilo que pode escandalizar as pessoas mais frágeis na fé.
Tempo de Quaresma
Directório Litúrgico

Kramskoĭ, Ivan Nikolaevich, Cristo no deserto
A Quarta-feira de Cinzas assinala o início da Quaresma, o período de 40 dias até à Páscoa da Ressurreição do Senhor, um tempo propício ao arrependimento e à conversão anterior como preparação para acolher o tempo mais forte da nossa fé.
Na missa deste dia, o sacerdote benze as cinzas e aplica-as na fronte dos fiéis, desenhando uma cruz ao mesmo tempo que pronuncia “arrependei-vos (ou convertei-vos) e acreditai no Evangelho”.
Esta tradição, que pretende reproduzir as cerimónias antigas de penitência pública, está documentada desde o século VIII.
Sendo dia de jejum e de abstinência, recordam-se as regras para estes preceitos definidas pela Igreja Católica.
OS DIAS DA PENITÊNCIA
Há tempos em que os cristãos são convidados à prática da Penitência, na Quaresma e todas as sextas-feiras do ano, como expressão significativa da união dos cristãos ao mistério da Cruz de Cristo.
Jejum: é a forma penitencial que consiste a privação de alimentos. Na disciplina tradicional da Igreja fazia-se limitando a alimentação diária a uma refeição, podendo tomar-se alimentos mais ligeiros às outras.
Ainda que convenha manter-se esta forma tradicional de jejuar, contudo os fiéis poderão alternativamente privar-se de uma quantidade de alimentos ou bebidas que constituam verdadeira privação ou penitência.
O preceito do jejum obriga os fiéis que tenham feito 18 anos até terem completado os 59.
Abstinência: escolha de uma alimentação simples e pobre. Tradicionalmente equivalia a privar-se de carne.
Poderá ser substituída pela provação de outros alimentos e bebidas, sobretudo mais requintados e dispendiosos ou de especial preferência.
Lembrem-se os fiéis de que o essencial do espírito de abstinência é o que dizemos acima, ou seja, a escolha de uma alimentação simples e pobre e a renúncia ao luxo e ao esbanjamento. Só assim a abstinência será privação e se revestirá de carácter penitencial.
O jejum e a abstinência são obrigatórios em Quarta-feira de Cinzas e em Sexta-feira Santa.
A abstinência reveste-se de significado especial nas sextas-feiras da Quaresma.
O preceito da abstinência obriga os fiéis a partir dos 14 anos completos.
Aos que tiverem menos de 14 anos, deverão os pastores de almas e os pais procurar atentamente formá-los no verdadeiro sentido da penitência, sugerindo-lhes outros modos de a exprimirem.