Domingo dentro da Oitava do Natal (PDF)  TEXTO

Mensagem de Natal do nosso Prior

Um Natal de novo vivido em pandemia, com muitas pessoas e até famílias inteiras em isolamento, é muito mais exigente, mas pode ser igualmente belo e profundo.
Podemos vivê-lo sentindo-nos um pouco mais identificados com Jesus, o Filho de Deus feito Menino, porque o seu próprio Nascimento aconteceu no maior despojamento e em grande pobreza.

Se viermos a estar privados da presença física de alguns dos membros das nossas famílias, impedidos de nos acompanharem, ou de alguns componentes festivos a que estamos habituados, não ficamos, no entanto, privados do essencial: aclamado pelos Anjos e adorado pelos pastores, Cristo nasceu em Belém, e quer continuar a nascer nas nossas almas, a habitar nas nossas casas, em todos os tempos e momentos, que, por isso, podem ser sempre tempos de alegria, de festa e de acção de graças.

À nossa volta haverá sempre alguém que precisa de ajuda, material ou espiritual, alguma instituição dedicada aos mais necessitados que podemos apoiar, e haverá sempre forma de dirigir uma palavra amiga àquele que está sozinho, ao que está triste ou desalentado.

E no espaço da comunidade cristã, e em particular no âmbito da nossa paróquia, iremos celebrar com todo o júbilo a Missa de Natal, tanto na Noite como no Dia, e ali poderemos voltar a ter e a reconhecer a presença sacramental d’Aquele que se quis fazer, e será para sempre, Deus connosco.

Neste espírito, desejo a todos os paroquianos de S. Francisco Xavier, por intercessão da Santa Mãe de Deus feito homem, a graça de viverem este tempo ainda mais profundamente, e com essa alegria íntima que não vem de nós, mas do Menino do Presépio, que é também, como antecipadamente cantou um grande Profeta, “Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”.

Com os mais sinceros votos de Santo Natal, do Prior de S. Francisco Xavier
Cónego José Manuel dos Santos Ferreira

A oração sabe amansar a inquietação

Papa Francisco, Novembro 2020

Pinturrichio, Jesus entra os doutores

Quando o mundo ainda ignora Maria, quando é uma simples jovem noiva de um homem da casa de David, Maria reza. Podemos imaginar a jovem de Nazaré recolhida no silêncio, em contínuo diálogo com Deus, que lhe confiou a sua missão. Ela já é cheia de graça e imaculada desde a concepção, mas ainda não sabe nada da sua surpreendente e extraordinária vocação, e do mar tempestuoso que terá de sulcar.

Uma coisa é certa: Maria pertence à grande fileira daqueles humildes de coração que os historiadores oficiais não inserem nos seus livros, mas com os quais Deus preparou a vinda do seu Filho. Maria não dirige autonomamente a sua vida: espera que Deus tome as rédeas do seu caminho e a guie para onde Ele quer.
É dócil, e com esta disponibilidade predispõe os grandes acontecimentos que envolvem Deus no mundo.

Maria está em oração, quando o arcanjo Gabriel vai levar-lhe o anúncio a Nazaré. O seu «eis-me aqui», pequeno e imenso, que nesse momento faz sobressaltar de alegria toda a criação, tinha sido precedido na História da salvação por tantos outros «eis-me aqui», por tantas obediências confiantes, por tantas disponibilidades à vontade de Deus.
Não há maneira melhor de rezar do que colocar-se, como Maria, numa atitude de abertura: «Senhor, aquilo que Tu queres, quando queres e como queres» – ou seja, o coração aberto à vontade de Deus, e Deus responde sempre. Quantos crentes vivem assim a sua oração! Aqueles que são mais humildes de coração rezam assim. Com humildade, digamos assim, essencial. Com humildade simples.

Ao rezar desta maneira, não se enfurecem porque os dias estão cheios de problemas, mas vão ao encontro da realidade, sabendo que no amor humilde, oferecido em cada situação, tornamo-nos instrumentos da graça de Deus. «Senhor, aquilo que Tu queres, quando queres e como queres»: uma oração simples, mas que coloca a nossa vida nas mãos do Senhor. Todos podem rezar assim.

A oração sabe amansar a inquietação, queremos sempre as coisas antes de as termos; queremo-las já; e a vida não é assim. Esta inquietação faz-nos mal. A oração sabe transformar a inquietação em disponibilidade. Estou inquieto, rezo, e a oração abre-me o coração, torna-me disponível à vontade de Deus.

A Virgem Maria, naqueles poucos instantes da anunciação, soube rejeitar o medo, mesmo pressentindo que o seu «sim» iria dar-lhe provações muito duras. Se na oração compreendemos que cada dia dado por Deus é um chamamento, então alargamos o coração e acolhemos tudo. Aprende-se a dizer: «Aquilo que Tu queres, Senhor. Promete-me apenas que estarás presente a cada passo do meu caminho». Isto é importante: a presença do Senhor a cada passo do nosso caminho. Que não fiques só. Que não fiques abandonado na tentação. Que não fiques abandonado nos maus momentos – o final do Pai-nosso é assim: a graça que o próprio Jesus te ensinou a pedir ao Senhor.

Sagrada Família

Tudo aquilo que lhe acontece à volta acaba por ter um reflexo na profundidade do seu coração. Tudo acaba no seu coração, para que seja passado pelo crivo da oração, e por ela transformado. Maria acompanha em oração toda a vida de Jesus, até à morte e à ressurreição; e, no fim, acompanha os primeiros passos da Igreja nascente. Reza com os discípulos que atravessaram o escândalo da cruz. Reza com Pedro, que cedeu ao medo e chorou de remorso. Maria está ali, com os discípulos, no meio dos homens e das mulheres que o seu Filho chamou a formar a sua comunidade. Maria não faz de sacerdote para eles; é a Mãe de Jesus que reza com eles, em comunidade, é uma da comunidade. Reza com eles e por eles.

E, novamente, a sua oração precede o futuro que está por cumprir-se: por obra do Espírito Santo tornou-se Mãe de Deus, e por obra do Espírito Santo torna-se Mãe da Igreja – isto é, rezando com a Igreja nascente, torna-se Mãe da Igreja. Acompanha os discípulos nos primeiros passos da Igreja. Em silêncio, sempre em silêncio. A oração de Maria é silenciosa.

O Evangelho narra-nos apenas uma prece de Maria: em Caná, quando pede ao seu Filho por aquela pobre gente, que está prestes a fazer uma figura triste na festa. E ela reza e pede ao Filho para resolver aquele problema. A presença de Maria é, por si mesma, oração, e a sua presença entre os discípulos no cenáculo, à espera do Espírito Santo, é feita em oração.
E assim Maria dá à luz a Igreja, é Mãe da Igreja.

Na Virgem Maria, a natural intuição feminina é exaltada pela sua singularíssima união com Deus na oração. Por isso, lendo o Evangelho, notamos que ela parece, algumas vezes, desaparecer, para depois reflorescer nos momentos cruciais: é a voz de Deus que guia o seu coração e os seus passos quando há necessidade da sua presença. Presença silenciosa, de Mãe e de discípula. Maria está presente porque é Mãe, mas também porque é a primeira discípula. Aquela que aprendeu melhor as coisas de Jesus. Maria nunca diz: «Eu resolvo as coisas»; mas: «Faz aquilo que Ele te disser». Sempre com o dedo a apontar para Jesus. Isto faz o discípulo, e ela é a primeira discípula. Reza como Mãe e reza como discípula.

«Maria guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração.» Tudo aquilo que lhe acontece à volta acaba por ter um reflexo na profundidade do seu coração: os dias repletos de alegria, como os momentos mais sombrios, quando também ela tinha dificuldade em compreender quais os caminhos pelos quais devia passar a Redenção. Tudo acaba no seu coração, para que seja passado pelo crivo da oração, e por ela transformado. Quer se trate dos presentes dos magos, ou da fuga para o Egipto, até àquela tremenda sexta-feira da paixão: tudo a Mãe guarda e leva para o seu diálogo com Deus.

 

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