Domingo XXXIV do Tempo Comum (PDF) TEXTO

Salvador do Mundo

Andrea Previtali, Salvador do mundo

Tudo na oração do Pai-Nosso mostra que Jesus pretende apresentar um modelo, começando com um eloquente mandato: «rezai assim».

Tudo se concentra em torno do que abre a oração: «Pai Nosso». É verdade que são referidos depois o Nome, a Vontade e o Reino do Pai, mas é sempre em torno à descoberta do Pai que somos colocados.

O reino de Deus é a mesma coisa que a sua proteção estendida sobre nós contra o mal; proteger é uma função própria do rei.

O perdão das dívidas aos nossos devedores é a mesma coisa que a aceitação total da vontade de Deus.

A diferença é que nos três primeiros pedidos a atenção se volta apenas para Deus.

Nos três últimos, fazemos voltar a atenção sobre nós próprios a fim de nos obrigarmos a fazer desses pedidos um ato real e não imaginário.

Tolentino de Mendonça

 

Tempo de Advento: Preparar a vinda do Senhor

Juan José Silvestre, opusdei.org (excertos)

O Senhor não se afastou do mundo, não nos deixou sozinhos. O Advento é um tempo em que a Igreja chama os seus filhos a vigiar, a estar acordados para receberem Cristo que passa, Cristo que vem.

«Deus todo-poderoso, despertai nos vossos fiéis, a vontade firme de se prepararem, pela prática das boas obras, para ir ao encontro de Cristo, de modo que, chamados um dia à sua direita, mereçam alcançar o reino dos Céus». Estas palavras da oração colecta do primeiro domingo do Advento iluminam com grande eficácia o carácter peculiar deste tempo, com que inicia o Ano litúrgico. Ecoando a atitude das virgens prudentes da parábola evangélica, que souberam ter o azeite pronto para as bodas do Esposo, a Igreja chama os seus filhos a vigiar, a estar despertos para receber Cristo que passa, Cristo que vem. (…)

Deus vem
Dominus veniet! Deus vem! Esta breve exclamação abre o tempo do Advento e ressoa especialmente ao longo destas semanas, e depois, durante todo o ano litúrgico. Deus vem! Não significa apenas que Deus tenha vindo em tempos, como uma coisa do passado; também não é um simples anúncio de que Deus virá, num futuro que poderia não ter excessiva transcendência para o nosso hoje e agora. Deus vem: trata-se de uma ação sempre em andamento, está a acontecer, acontece agora e continuará a acontecer com o transcurso do tempo. Em todo o momento, “Deus vem”: em cada instante da história, o Senhor continua a dizer: «Meu Pai não cessa de trabalhar, e Eu também trabalho» [Jo, 5,17]. (…)

O Advento convida-nos a tomar consciência desta verdade e atuar em consequência. «Chegou a hora de nos levantarmos do sono»; «Vigiai, pois, orando sem cessar»; «O que vos digo a vós, digo a todos: Vigiai!» [ Rm 13, 11; Lc 21, 36; Mc 13, 37] São chamadas da Sagrada Escritura, nas leituras do primeiro domingo do Advento, que nos lembram as constantes vindas, adventus, do Senhor. Nem ontem, nem amanhã, mas hoje, agora. Deus não está apenas no Céu, desinteressado de nós e da nossa história; na realidade, Ele é o Deus que vem. A meditação atenta dos textos da liturgia do Advento ajuda-nos a preparar-nos, para que a sua presença não nos passe despercebida.

Para os Padres da Igreja, a “vinda” de Deus – contínua e, por assim dizer, conatural com o seu próprio ser – concentra-se nas duas principais vindas de Cristo: a da sua encarnação e a da sua vinda gloriosa no fim da história. O tempo do Advento desenvolve-se entre estes dois pólos. Nos primeiros dias sublinha-se a espera da última vinda do Senhor no fim dos tempos. E, à medida que se aproxima o Natal, vai abrindo caminho a memória do acontecimento de Belém, onde se reconhece a plenitude dos tempos. (…)

O prefácio I do Advento sintetiza este duplo motivo: «Ele veio pela primeira vez, na humildade da sua natureza humana, para realizar o eterno desígnio do Vosso amor e abrir-nos o caminho da salvação; de novo há-de vir, no esplendor da sua glória, para nos dar em plenitude os bens prometidos que, entretanto, vigilantes na fé, ousamos esperar» [Missal Romano, Prefácio I de Advento]. (…)

O Advento é um tempo de presença e de espera da eternidade; um tempo de alegria, de uma alegria íntima que nada pode eliminar: «hei-de ver-vos de novo – promete Jesus aos seus discípulos – e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos tirará a vossa alegria» [Jo 16, 22].

A alegria no momento da espera é uma atitude profundamente cristã que vemos realizada em Nossa Senhora: Ela, desde o momento da Anunciação, «esperou com inefável amor de mãe»[ Missal Romano, Prefácio II do Advento] a vinda do seu Filho, Jesus Cristo. Por isso, também Ela nos ensina a esperar sem angústia a chegada do Senhor. (…)

 

Abraçar a pequenez

Henri Nouwen, In “O esvaziamento de Cristo”

Barthelemy d’Eyck, Cristo

Des não só escolheu um povo insignificante para transmitir a Palavra da salvação ao longo dos séculos, não só escolheu um pequeno resto desse povo para cumprir as promessas divinas, não só escolheu uma humilde jovem de uma cidade desconhecida da Galileia para a tornar o templo da Palavra, mas também decidiu manifestar a plenitude do amor divino num homem cuja vida desembocou numa morte humilhante fora das muralhas da cidade.

Com efeito, aquele que estava com Deus desde o princípio e que era Deus revelou-se como uma criança pequena e indefesa; como refugiado no Egito; como adolescente obediente e adulto discreto; como discípulo penitente do Batista; como pregador da Galileia, seguido por alguns simples pescadores; como homem que comia com pecadores e conversava com estranhos; como marginal, como criminoso e como ameaça para o seu povo. Passou do poder para a impotência total, da grandeza para a pequenez, do êxito para o fracasso, da força para a fraqueza, da glória para a ignomínia. Toda a vida de Jesus de Nazaré resistiu a qualquer movimento ascendente.

Algumas pessoas queriam fazê-l’O rei. Queriam que Ele demonstrasse o seu poder. Queriam participar da sua influência e sentar-se em tronos a seu lado. No entanto, Ele sempre disse «não» a todos esses desejos, apontando antes a via descendente.

Jesus deixa poucas dúvidas de que o caminho que Ele seguiu é o mesmo caminho que tem para oferecer. O discípulo é aquele que segue Jesus no seu caminho do esvaziamento, entrando, assim, com Ele na sua nova vida. O evangelho inverte radicalmente os pressupostos da nossa sociedade em movimento ascendente. É um desafio estranho e perturbador.

Contudo, só depois de termos olhado atentamente nos olhos dos pobres, dos oprimidos e dos marginais, de termos prestado uma humilde atenção às suas formas de vida, de termos escutado com delicadeza as suas observações e percepções, então talvez tenhamos começado já a vislumbrar a verdade de que Jesus falava. É um vislumbre dos «olhos curados pela graça».

Algures, no fundo dos nossos corações, nós já sabemos que o êxito, a fama, a influência, o poder e o dinheiro não nos transmitem a alegria e a paz interiores por que ansiamos.

 

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