XXVI Domingo do Tempo Comum (PDF)  TEXTO

Jacob Jordaens, O Bom Samaritano

 

Na perspectiva de Jesus, quem luta pela justiça e faz obras em favor do homem, está do lado de Jesus e vive na dinâmica do Reino, mesmo que não esteja formalmente dentro da estrutura eclesial.

A comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade fechada, exclusivista, monopolizadora, que amua e sente ciúmes quando alguém de fora faz o bem; nem pode sentir-se atingida nos seus privilégios e direitos pelo facto de o Espírito de Deus actuar fora das fronteiras da Igreja…

A comunidade de Jesus deve ser uma comunidade que põe, acima dos seus interesses, a preocupação com o bem do homem; e deve ser uma comunidade que sabe acolher, apoiar e estimular todos aqueles que actuam em favor da libertação dos irmãos.

Dehonianos

Ser de Cristo

Sofia Bandeira Costa, Ponto SJ

Um embaixador é alguém que representa, e que tem como função dar a conhecer e defender a mensagem do seu representado. O poder de um embaixador é, por isso, sempre dependente do poder do seu representado, visto que na verdade é este último que está no centro.

Ser representante de Cristo significa então tê-Lo no centro da nossa vida. É Jesus que nos chama a esta missão, e esta só faz sentido com Ele. É um convite universal, porque a todos é capaz de chegar o amor de Cristo. Não há amor maior!

É também uma proposta exigente, porque implica o nosso “sim” contínuo e comprometido.
Jesus promete-nos a felicidade, não a facilidade.
Convida-nos, pelo contrário, a saber aceitar quem somos com humildade, procurando sempre ser melhores.

Para além disso, ao aceitar esta responsabilidade de transmitir a misericórdia e o amor de Jesus, devemos ter noção de que é um trabalho a tempo inteiro.
Devemos ser embaixadores em todos os momentos da nossa vida: quando janto com os meus pais, quando vou beber um copo com amigos ou estou a falar com o meu chefe no trabalho.
Jesus está a contar connosco, para que sejamos, nas múltiplas situações do nosso dia, sinais da sua alegria e consolação.
Para nos ajudar e fortalecer, Ele promete-nos que nunca nos abandona e nunca estaremos sós.
Ele está sempre connosco, desde que arrisquemos crescer na intimidade da relação com Ele.

Estas são as linhas de fundo para o novo ano que começa. Que em todas as actividades, encontros, e descansos Jesus esteja presente através da nossa disponibilidade, paciência e amor.

 

Procurar Deus no insólito e imprevisível

Papa Francisco, Angelus, 30.9.2018

O Evangelho deste domingo (cf. Marcos 9,38-43.45.47-48) apresenta-nos um daqueles episódios particulares muito instrutivos da vida de Jesus com os seus discípulos. Estes tinham visto que um homem, que não fazia parte do grupo dos seguidores de Jesus, expulsava os demónios no nome de Jesus, e por isso queriam proibi-lo.

João, com o entusiasmo zelador típico dos jovens, refere o facto ao Mestre, procurando o seu apoio; mas Jesus, ao contrário, responde: «Não o impedis, porque não há ninguém que faça um milagre no Meu nome e logo depois possa falar mal de Mim: quem não é contra nós, é por nós».

João e os outros discípulos manifestam uma atitude de fechamento diante de um acontecimento que não entra nos seus esquemas, neste caso a acção, boa, de uma pessoa “externa” à cerca dos seguidores.

Ao contrário, Jesus surge como muito livre, plenamente aberto à liberdade do Espírito de Deus, que na sua acção não é limitado por qualquer fronteira e qualquer perímetro. Jesus quer educar os seus discípulos, também a nós, hoje, para esta liberdade interior.

Faz-nos bem reflectir sobre este episódio e fazer um pouco de exame de consciência.
A atitude dos discípulos de Jesus é muito humana, muito comum, e podemos reencontrá-la nas comunidades cristãs de todos os tempos, provavelmente também em nós próprios.

De boa fé, melhor, com zelo, deseja-se proteger a autenticidade de uma certa experiência, protegendo o fundador ou o líder dos falsos imitadores. Mas ao mesmo tempo há como que o medo da “concorrência” – e isto é mau: o medo da consciência –, medo de que alguém possa subtrair novos seguidores, e então não consegue valorizar o bem que os outros fazem: não está bem porque “não é dos nossos”, diz-se.

É uma forma de auto-referencialidade. Aliás, reside aqui a raiz do proselitismo.
E a Igreja – dizia o papa Bento – não cresce por proselitismo, cresce por atracção, isto é, cresce pelo testemunho dado aos outros com a força do Espírito Santo.

A grande liberdade de Deus no dar-Se a nós constitui um desafio e uma exortação para modificar as nossas atitudes e as nossas relações. É o convite que nos dirige Jesus hoje.

Ele chama-nos a não pensar segundo as categorias de “amigo/inimigo”, “nós/eles”, “quem está dentro/quem está fora”, “meu/teu”, mas a ir além, e abrir o coração para poder reconhecer a sua presença e a acção de Deus também em contextos insólitos e imprevisíveis e em pessoas que não fazem parte da nossa cerca.
Trata-se de estarmos atentos à genuinidade do bem, do belo e do verdadeiro que é realizado, e não ao nome e à proveniência de quem o realiza.

E – como sugere a restante parte do Evangelho de hoje – em vez de julgar os outros, devemos examinarmo-nos e “cortar” sem compromissos tudo aquilo que pode escandalizar as pessoas mais frágeis na fé.

 

 

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