Domingo VI da Páscoa (PDF)     TEXTO

Virgem Maria e Jesus, Master of Blinking Eye

Neste mês de Maria, peço a Jesus que me deixe sentar no outro braço da sua e nossa Mãe do Céu.

E, a Nossa Senhora, supliquei que me concedesse  a graça do seu colo, para que,
junto ao seu Coração Imaculado, aprenda a amar Jesus e, em Cristo, todos os meus irmãos..

Gonçalo de Portocarrera, Ao colo da melhor mãe do mundo

 

 

A morada de Deus em nós

Armindo dos Santos Vaz

O filho pródigo (pormenor), Rembrandt

Santa Teresa é mestra na experiência de Deus, partilhada com os leitores, convidados a darem sentido à vida.

Num mundo cada vez mais focado em ambições de poder e em omnipotências de ter e de prazer – que, ao fim e ao cabo, nos deixam talvez de coração vazio mas certamente reduzidos às imprevisíveis irrupções e aos inevitáveis embates da radical fragilidade humana –, o alerta de Teresa soa assim: não estamos ocos; somos habitados por Aquele que quer dar sentido último à nossa existência.

O ser humano de hoje tem dificuldade em encontrar Deus, talvez porque tem dificuldade em encontrar-se a si mesmo. Anda perdido ou distraído com o barulho mediático e informático à sua volta.

Santa Teresa propõe que entremos na zona mais nobre da nossa intimidade para aí reconhecermos o Deus que está à nossa espera. Enquanto Ele for «um estranho na nossa morada» ou nela for considerado uma presença irrelevante, estamos a ignorar algo determinante na vida: desperdiçamos a intimidade da morada de Deus em nós.

Para Santa Teresa, o ser humano é no seu interior “outro céu, onde só Sua Majestade mora”. É um ser «capaz de Deus», capaz de amar como Deus o ama: quando orienta a sua vida para Deus, seguindo o Jesus do evangelho, é mais fiel à sua verdade de humano.

Santa Teresa partilhou com os perdidos num mundo distraído o que ela, tão atenta, encontrou: um caminho e uma morada, precisamente os títulos de seus dois grandes livros. São as duas perspectivas fundamentais que qualquer vida precisa de ter para singrar orientada e com um objectivo que lhe dê felicidade autêntica. Ela percebeu que o que orienta e ilumina o “caminho” é o ardente desejo de habitar a rica e esplêndida “morada” definitiva. Percebeu o evangelho. Viu-se a si própria como morada do amor de Deus: «Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o “amará” e viremos a ele e estabeleceremos “morada” nele». Mas também viu Deus como morada para ela: Na casa de meu Pai há muitas moradas».
Quanto mais densa vida interior na oração, mais real será a entrega às causas humanas.

A experiência do Espírito remete sempre para o amor concreto. E a espiritualização autêntica redunda sempre em humanização. “E quando as obras activas saem desta raiz que é o interior, são admiráveis e muito cheirosas flores. Procedem desta árvore do amor de Deus; e só por ele, sem nenhum interesse próprio, espalha-se o odor destas flores para proveito de muitos; e é perfume que dura”.

Abertos às surpresas

Papa Francisco, 28.04.2015

Deus é o Deus das novidades: “Renovo todas as coisas”, disse-nos»; não compreendiam que o Espírito Santo veio precisamente para nos renovar e age continuamente para isso. Aliás, isto é assustador.

Na história da Igreja podemos ver desde então até hoje quantos temores suscitaram as surpresas do Espírito Santo. E a quem quisesse objectar: «Mas, padre, há novidades e novidades! Algumas, vê-se que são de Deus, outras não», respondo com as palavras de Pedro aos irmãos de Jerusalém, quando foi repreendido por ter entrado na casa de Cornélio: «Quando vi que a eles foi dado o que tínhamos recebido, quem era eu para negar o baptismo?».

Esta ideia está também presente no trecho da liturgia do dia sobre Barnabé, definido «homem virtuoso» e «cheio do Espírito Santo». Nos dois há o Espírito Santo, que faz ver a verdade.
O que, ao contrário, sozinhos não podemos fazer. Com a nossa inteligência não podemos, Podemos estudar toda a história da salvação, a teologia inteira, mas sem o Espírito nada podemos entender.

É precisamente Ele que nos faz compreender a verdade ou – utilizando as palavras de Jesus – é o Espírito que nos faz conhecer a voz de Jesus: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, conheço-as, e elas seguem-me”».
A Igreja vai em frente graças à obra do Espírito Santo. É ele que age. O próprio Jesus disse aos apóstolos: “Enviar-vos-ei o dom do Pai, que vos fará recordar e vos ensinará”. Como?

Por isso, nos primeiros discursos, inclusive no de Estêvão, há uma releitura de todas as profecias. É obra do Espírito Santo, que faz recordar a história na óptica de Jesus ressuscitado: “e ele ensinar-vos-á o caminho”.

Como fazer para ter a certeza de que a voz que ouvimos é a de Jesus e o que temos vontade de fazer é obra do Espírito Santo? É preciso rezar. Sem oração, não há espaço para o Espírito; é necessário pedir a Deus que nos envie este dom: “Senhor, dá-nos o Espírito Santo para que possamos discernir em cada tempo o que devemos fazer”. Isto não significa repetir sempre a mesma coisa. A mensagem é a mesma: mas a Igreja vai em frente com estas surpresas, com estas novidades do Espírito Santo.

Estou ciente das objecções que poderiam ser feitas a este raciocínio: «Mas, padre, por que levantar tantos problemas? Façamos tudo como sempre fizemos, assim estamos certos». Esta hipótese poderia ser uma alternativa mas seria estéril; de “morte”. Mas é muito melhor arriscar, com a oração, a humildade, aceitar o que o Espírito nos pede para mudar de acordo com o tempo no qual vivemos: este é o caminho.

 

Arquivo de Folhas Informativas anteriores a 25.11.2018