Domingo III da Páscoa (PDF) TEXTO
Enquanto durar a situação de pandemia, fica suspensa a edição da Folha Informativa em papel.

Os discípulos de Emaús, Hendrick Bloemaer
Pedem a Jesus que fique com eles.
E Ele, ao sentar-Se à mesa, repete o que fizera na Última Ceia, três dias antes. É então que eles O reconhecem. Nesse momento Jesus desaparece.
Quis mostrar-lhes que continua connosco na Santa Missa. Nela nos fala e explica as Escrituras. Nela Se dá a nós como alimento de vida eterna. Nela fica connosco até ao fim dos séculos.
Na Eucaristia é Jesus ressuscitado que continua a ensinar-nos através dos sacerdotes.
Através deles continua a repetir o gesto da Última Ceia.
Temos de abrir os olhos para O reconhecer.
Temos de agradecer-Lhe por ter querido ficar connosco para nos fazer companhia, para nos animar, para nos encher de esperança e alegria.
Que os nossos olhos se abram
Tolentino Mendonça
É interessante como Jesus aceita fazer o caminho com cada um de nós.
Estes dois discípulos de Emaús, que não têm nome, chamam-se todos os nomes. Eles não têm nome, são mais um. Eles dois já estão fora de Jerusalém, vão já distantes do espaço sagrado e vão apenas com a sua história. A história de uma desilusão, a história de um desalento, a história de olhos fechados que não conseguiram ver nada.
É a nossa história. Andamos assim, com os olhos colados aos sapatos, com os olhos colados àquilo que nós achamos que são as evidências ou que são as prioridades e não vemos a vida, não vemos a grandeza, não vemos o milagre da vida, não vemos.
Porque estamos ali, com os olhos colados, com os olhos presos. E estes tinham os olhos presos a tudo aquilo em que tinham apostado, e que tinham visto no fundo falir, não acontecer. A experiência da perda e da desilusão, da imperfeição, do fim é a experiência que todos nós fazemos e eles levavam consigo essa experiência que lhes agarrava mais os olhos entre si.
E aparece este terceiro. O terceiro vem e começa a trabalhar outra coisa, outra possibilidade. Nós precisamos de um mestre, precisamos de um guia, precisamos de uma palavra para fazer o caminho da nossa vida.
O caminho espiritual não se faz sozinho. Por isso nós estamos aqui, uns com os outros, mestres uns para os outros, a escutar esta Palavra que nos guia, cheios do Espírito Santo para podermos ser isto na vida uns dos outros: aqueles que ajudam a escutar.
E Jesus começa por perguntar e por dar tempo a que cada um diga porque é que os seus olhos estão fechados. O que é que neste momento me faz cerrar os olhos.
Jesus está aqui, ao lado de cada um de nós a escutar isso e a fazer caminho com isso.
E depois, vai trabalhando lentamente, porque os olhos talvez não se abram de um momento para o outro. Há uma instantaneidade na conversão, na transformação, no ver, na nova visão Pascal. Mas, ao mesmo, tempo há um processo, há um fazer, há um construir e o construir vai muito por esta escuta também que eu faço, depois de me sentir escutado, de sentir quem eu sou. Ele sabe quem eu sou, Ele sabe o que é que eu trago dentro de mim. Eles começam a escutar esta lição que Jesus faz começando em Moisés e passando pelos profetas, explicando-lhes tudo. Isto é, vai deixando a semente da Palavra nos seus corações.
No coração de cada um de nós há tantas sementes!
E Jesus continua com eles o caminho, e essa experiência de um caminho acompanhado é também a experiência Pascal.
Nós não estamos sós na descoberta deste novo olhar, Ele está connosco. É porque Ele está connosco, é porque Ele vem caminhar ao nosso lado que esta transformação é capaz de acontecer.
E depois, dá-se isto: ontem, lendo o Evangelho de Marcos na Vigília Pascal, o homem vestido de branco diz às mulheres: ”A partir de agora Ele vai à vossa frente.” E de facto, Jesus vai à nossa frente como Ressuscitado. Mas os discípulos dizem: “Senhor, já é tarde, fica connosco, permanece connosco.” E Jesus, num gesto de amor, de condescendência amorosa diz: “Eu fico convosco. ”
Este pedido, esta prece, esta oração, este grito tantas vezes fazemos na nossa vida. Senhor, fica connosco porque se faz tarde. Senhor, fica connosco porque a noite já desce. Senhor, fica connosco. É esta certeza de que Ele fica sempre connosco e Se senta à nossa mesa, na quotidianidade da nossa vida, no ordinário daquilo que somos. Aceita a nossa humanidade, senta-se à nossa mesa, come connosco. Mas é Ele que parte o pão.
E neste gesto do partir do pão, aqueles olhos estalam e eles compreendem que Ele está vivo.
E deixam de O ver, mas deixar de O ver já não é um problema porque o importante foi eles fundarem a sua vida nesta nova visão. Por isso, vão a correr a Jerusalém dizer: nós vimos. E ouvir: o Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão, a primeira profissão da Igreja primitiva.
Queridos irmãos, hoje também nós vamos partir o pão. E que ao partir do pão se parta também o nosso olhar e descubramos uma nova visão das coisas, aquela visão que a fé é capaz de nos dar, que o sepulcro vazio é capaz de instituir em nós. Que é perceber que tudo não acaba aqui, perceber que não é só isto, que não é apenas isto; perceber que a Vítima é capaz de ser o grande transformador da história, de ser Aquele que inspira uma nova história. A Vítima não é apenas Aquele que ficou eliminado, Aquele que ficou descartado mas Ele vem ajudar-nos a escrever uma nova história. E que o dom de amor radical que é a hospitalidade de todos que Ele representa na cruz continua a ser para nós a grande lição, o grande caminho, a grande verdade, a verdadeira vida que nós somos chamados a viver.
Ao partir do pão que os nossos olhos se abram.
Morte, Ressurreição e Vida
Papa Francisco, 2017
Hoje, o Evangelho pode-se resumir em três palavras: morte, ressurreição e vida.
Morte: Os dois discípulos voltam à sua vida quotidiana, repletos de desânimo e desilusão: o Mestre morreu e, por conseguinte, é inútil esperar. Sentiam-se desorientados, enganados e desiludidos. O seu caminho é um voltar atrás; é um afastar-se da experiência dolorosa do Crucificado. A morte de Cristo era uma morte daquilo que imaginavam ser Deus. Na realidade, eram eles os mortos no sepulcro da sua limitada compreensão.
Ressurreição: Na obscuridade da noite mais escura, Jesus aproxima-Se dos dois discípulos e caminha pela sua estrada, para que possam descobrir que Ele é o caminho, a verdade e a vida. Depois de terem encontrado o Ressuscitado, os dois discípulos retornam cheios de alegria, prontos a dar testemunho.
Vida: Encontrar o Ressuscitado transforma toda a vida e torna fecunda qualquer esterilidade. O Ressuscitado desaparece da vista deles, para nos ensinar que não podemos reter Jesus na sua visibilidade histórica: «Felizes os que crêem sem terem visto!»
A fé verdadeira é a que nos torna mais caridosos, mais misericordiosos, mais honestos e mais humanos; é a que anima os corações levando-os a amar a todos gratuitamente, sem distinção nem preferências; é a que nos leva a ver no outro, não um inimigo a vencer, mas um irmão a amar, servir e ajudar; é a que nos leva a espalhar, defender e viver a cultura do encontro, do diálogo, do respeito e da fraternidade; é a que nos leva a ter a coragem de perdoar a quem nos ofende, a dar uma mão a quem caiu, a vestir o nu, a alimentar o faminto, a visitar o preso, a ajudar o órfão, a dar de beber ao sedento, a socorrer o idoso e o necessitado.
A verdadeira fé é a que nos leva a proteger os direitos dos outros, com a mesma força e o mesmo entusiasmo com que defendemos os nossos. Na realidade, quanto mais se cresce na fé e no seu conhecimento, tanto mais se cresce na humildade e na consciência de ser pequeno.