Domingo III do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Tu Te abeiraste na praia
Não buscaste nem sábios, nem ricos
Somente queres que eu Te siga….
Senhor, Tu me olhaste nos olhos
A sorrir, pronunciaste meu nome
Lá na praia, eu larguei o meu barco
Junto a Ti, buscarei outro mar
Tu sabes bem que em meu barco
Eu não tenho nem ouro nem espadas
Somente redes e o meu trabalho…
Tu minhas mãos solicitas
Meu cansaço, que a outros descansem
Amor que almeja seguir amando..
Tu, pescador de outros lagos
Ânsia eterna de almas que esperam
Bondoso amigo, assim me chamas…
Padre Zezinho
Renunciar para florir
Ermes Ronchi, In Avvenire
A nossa vida põe-se a caminho, avança, corre atrás de um desejo forte que nasce de uma ausência ou de um vazio que pedem para ser preenchidos. O que é que faltava aos quatro pescadores do lago para os convencer a abandonar barcos e redes e a porem-se a caminho atrás daquele desconhecido chamado Jesus, sem sequer lhe perguntar para onde é que Ele os levaria?
Tinham trabalho e saúde, uma casa, uma família, a fé, tudo o necessário para viver, e todavia faltava alguma coisa. E não era uma ética melhor, não era um sistema de pensamento mais evoluído. Faltava um sonho. Jesus é o guardião dos sonhos da Humanidade: sonhou para todos céus novos e terra nova.
Os pescadores sabiam de cor o mapa das rotas do lago, da pequena cabotagem diária entre Betsaida, Cafarnaum e Magdala, atrás das deslocações dos peixes. Mas sentiam em si o apelo a mais, o chamamento de uma vida de respiração mais ampla.
Jesus oferece-lhes o mapa do mundo, melhor, de outro mundo possível; oferece uma navegação outra: aquela que conduz ao coração da Humanidade – «farei de vós pescadores de homens»; arrancar-vos-ei do mar onde acreditam que vivem mas não vivem, recolher-vos-ei para a vida, e mostrar-vos-ei que sois feitos para outra respiração, outra luz, outro horizonte. Sereis na vida doadores de mais vida.
Por três vezes Jesus dirige-se a Simão.
Começa por lhe pedir que se afaste da margem, pede um favor, Ele é o Senhor que nunca se impõe, não invade as vidas.
Depois, pede-lhe para lançar as redes. Dentro de si, Simão talvez quisesse apenas regressar à margem e descansar, mas alguma coisa faz com que diga: está bem, à tua palavra lançarei as redes.
O que impele Pedro a confiar? Não discursos, apenas olhares, mas para Jesus olhar uma pessoa e amá-la eram a mesma coisa. Simão sente-se amado.
Não temas, diz Jesus. É o futuro que se abre. Jesus vê-me para além de mim, vê primaveras nos nossos invernos e futuro que já germina. E as redes enchem-se.
Diante do prodígio, Simão sente-se aturdido: Senhor, afasta-Te de mim, porque sou um pecador. Jesus responde com uma reacção belíssima: não o nega, mas não se deixa impressionar pelos defeitos de ninguém, dentro do presente, qualquer que seja, Ele cria futuro.
Os pescadores abandonam os barcos repletos do seu pequeno tesouro de peixes, precisamente no momento em que faria mais sentido ficar, seguindo o Mestre para um outro mar. Vão atrás d’Ele e vão em direcção ao ser humano, essa dupla direcção que conduz ao coração da vida.
Quem como eles o fez, experimentou que Deus enche as redes, enche a vida, multiplica liberdade, coragem, fecundidade, não rouba nada e dá tudo. Porque para Ele, renunciar é igual a florir.
A Unidade dos cristãos
Papa Francisco, Fevereiro 2014
O que comporta para cada um de nós, fazer parte deste povo, do povo de Deus que é a Igreja? Não podemos esquecer que numerosos irmãos compartilham connosco a fé em Cristo, mas que pertencem a outras confissões ou tradições diferentes da nossa.
Muitos já se resignaram a esta divisão — e resignaram-se inclusive no seio da nossa Igreja Católica — que ao longo da história foi com frequência causa de conflitos e de sofrimentos, e até de guerras, e isto é uma vergonha! Ainda hoje os relacionamentos nem sempre estão caracterizados pelo respeito e pela cordialidade…
No entanto, interrogo-me: e nós, como nos pomos diante de tudo isto? Também nós estamos resignados, ou até somos indiferentes? Ou, ao contrário, cremos firmemente que podemos e devemos caminhar rumo à reconciliação e à plena comunhão? A plena comunhão, ou seja, poder participar todos juntos no Corpo e Sangue de Cristo.
Enquanto ferem a Igreja, as divisões entre os cristãos ferem também Cristo, e divididos nós provocamos uma ferida a Cristo: com efeito, a Igreja é o Corpo cuja Cabeça é Cristo. Sabemos bem como Jesus fazia questão que os seus discípulos permanecessem unidos no seu amor.
Esta unidade já estava ameaçada enquanto Jesus ainda se encontrava no meio dos seus: com efeito, no Evangelho recorda-se que os Apóstolos discutiam entre si sobre quem era o maior, o mais importante (cf. Lc 9, 46). No entanto, o Senhor insistiu muito sobre a unidade em nome do Pai, levando-nos a compreender que o nosso anúncio e o nosso testemunho serão tanto mais credíveis, quanto mais nós formos os primeiros a tornar-nos capazes de viver em comunhão e de nos amarmos uns aos outros.
As razões que levaram às rupturas e às separações podem ser as mais variadas: divergências sobre os princípios dogmáticos e morais e sobre diferentes conceitos teológicos e pastorais, motivos políticos e de conveniência, atritos devidos a antipatias e ambições pessoais… O que é certo é que, de uma forma ou de outra, por detrás de tais dilacerações encontram-se sempre a soberba e o egoísmo, que constituem a causa de todos os desacordos e que nos tornam intolerantes, incapazes de ouvir e de aceitar quem tem uma visão ou uma posição diferente da nossa.
Diante de tudo isto, existe algo que cada um de nós, como membros da Santa mMãe Igreja, podemos e devemos fazer? Sem dúvida, não pode faltar a oração, em comunidade e em comunhão com a prece de Jesus, a oração pela unidade dos cristãos. E além da oração, o Senhor também nos pede uma abertura renovada: pede-nos que não nos fechemos ao diálogo nem ao encontro, mas que aceitemos tudo o que de válido e positivo nos é oferecido, inclusive por quantos pensam diversamente de nós ou por aqueles que se colocam em posições diferentes das nossas.
Pede-nos que não fixemos o nosso olhar no que nos divide mas, ao contrário, no que nos une, procurando conhecer e amar melhor Jesus e compartilhar a riqueza do seu amor. E isto comporta concretamente a adesão à verdade, juntamente com a capacidade de nos perdoarmos, de nos sentirmos parte de uma mesma família cristã, de nos considerarmos uns dádivas para os outros e, juntos, fazermos tantas boas acções e obras de caridade.