Domingo II da Quaresma (PDF) TEXTO
Também me acontece a mim: a vida não avança por causa de ordens ou proibições, mas por uma sedução.
E esta nasce de uma beleza, ao menos entrevista, ainda que só pela fração de um instante: o rosto belo de Jesus, olhar lançado sobre o abismo de Deus.
Olham os três, emocionam-se, estão aturdidos: diante deles abriu-se a revelação extraordinária de um Deus luminoso, belo, solar. Um Deus a fruir, um Deus que suscita maravilhamento.
Do céu vem uma nuvem, e da nuvem uma voz: escutai-O. Jesus é a Voz que se tornou rosto.
O mistério de Deus está agora totalmente dentro de Jesus. E para nós, buscadores de luz, foi traçada a estrada mestra: escutá-l’O, dar tempo e coração à Palavra, até que se torne carne e vida. E depois segui-l’O, amando as coisas que Ele amava, preferindo aqueles que Ele preferia, refutando o que Ele refutava. Então veremos a gota de luz oculta no coração vivo de todas as coisas, veremos um rebento de luz despontar e subir dentro de nós.
Ermes Ronchi, in Avennire, 2023
Esta semana ouvi Jesus!
Papa Francisco, 2014
Hoje o Evangelho apresenta-nos o evento da Transfiguração. É a segunda etapa do caminho quaresmal: a primeira, as tentações no deserto, no domingo passado; a segunda, a Transfiguração.
Jesus «tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, em particular, a um alto monte».
A montanha na Bíblia representa o lugar da proximidade com Deus e do encontro íntimo com Ele; o lugar da oração, no qual estar na presença do Senhor. Lá no monte, Jesus mostra-Se aos três discípulos, luminoso, lindíssimo; e depois aparecem Moisés e Elias, que conversam com Ele.
O seu rosto é tão esplendoroso e as suas vestes tão cândidas, que Pedro fica fulgurado, a ponto que queria permanecer ali, como que parar aquele momento. Imediatamente ressoa do alto a voz do Pai que proclama Jesus seu Filho predileto, dizendo: «ouvi-O».
Esta palavra é importante! O nosso Pai que disse a estes apóstolos, e diz também a nós: «Ouvi Jesus, porque é o meu Filho predileto». Mantenhamos, esta semana, esta palavra na mente e no coração: «Ouvi Jesus!». É como uma ajuda para ir em frente pelo caminho da Quaresma. «Ouvi Jesus!».
Não esqueçais.
É muito importante este convite do Pai.
Nós, discípulos de Jesus, somos chamados a ser pessoas que ouvem a sua voz e levam a sério as suas palavras. Para ouvir Jesus, é preciso estar próximo d’Ele, segui-l’O, como faziam as multidões do Evangelho que O seguiam pelas estradas da Palestina. Jesus não tinha uma cátedra ou um púlpito fixos, era um mestre itinerante, que propunha os seus ensinamentos, que o Pai Lhe tinha dado, ao longo das estradas, percorrendo trajetos nem sempre previsíveis e por vezes pouco fáceis.
Seguir Jesus para O ouvir. Mas também ouvimos Jesus na sua Palavra escrita, no Evangelho. Leis todos os dias um trecho do Evangelho?
É bom ter um pequeno Evangelho e levá-lo connosco, no bolso, na carteira, e ler um pequeno trecho em qualquer momento do dia. Em qualquer momento do dia tiro do bolso o Evangelho e leio algo, um pequeno trecho. Nele é Jesus que fala, no Evangelho! Pensai nisto.
Deste episódio da Transfiguração gostaria de indicar dois elementos significativos, que sintetizo em duas palavras: subida e descida.
Precisamos de ir para um lugar apartado, de subir ao monte num espaço de silêncio, para nos reencontrarmos a nós mesmos e ouvir melhor a voz do Senhor. Fazemos isto na oração.
Mas não podemos permanecer ali! O encontro com Deus na oração estimula-nos de novo a «descer do monte» e voltar para baixo, para a planície, onde encontramos tantos irmãos sobrecarregados por canseiras, doenças, injustiças, ignorâncias, pobreza material e espiritual. A estes nossos irmãos que estão em dificuldade, estamos chamados a levar os frutos da experiência que fizemos com Deus, partilhando a graça recebida.
Quando escutamos a Palavra de Jesus e a temos no coração, aquela Palavra cresce. Como? Oferecendo-a ao próximo! É esta a vida cristã. É uma missão para toda a Igreja, todos os batizados, todos nós. Não esqueçais: esta semana, ouvi Jesus!
Dirijamo-nos agora à nossa Mãe Maria, e recomendemo-nos à sua guia para prosseguir com fé e generosidade este itinerário da Quaresma, aprendendo a «subir» um pouco mais com a oração e a ouvir Jesus, e a «descer» com a caridade fraterna, anunciando Jesus.
O Senhor chama-nos sem cessar
S. Siluane
Se os homens soubessem o que é o amor do Senhor, seria em multidões que acorreriam junto de Cristo, para que os reconfortasse a todos com a sua graça.
A sua misericórdia é inefável. O Senhor ama o pecador que se arrepende e aperta-o ao peito com ternura: “Onde estavas, meu filho? Espero-te há tanto tempo!”
Pela voz do Evangelho, o Senhor chama a si todos os homens e a sua voz ressoa pelo mundo inteiro: “Vinde a Mim, vós todos que penais e dar-vos-ei repouso. Vinde e bebei a água viva. Vinde e aprendei que vos amo. Se não vos amasse, não chamaria por vós. Não posso suportar que se perca sequer uma só das minhas ovelhas.
Mesmo por uma só, o Pastor vai pelas montanhas e procura-a por toda a parte. Vinde a mim, minhas ovelhas. Criei-vos a amo-vos. O meu amor por vós fez-Me vir à terra e tudo sofri pela vossa salvação. Quero que conheçais o meu amor e que digais como os apóstolos no Monte Tabor: «Senhor, é bom estar contigo»”
O Senhor chama-nos a si sem cessar. “Vinde a Mim e dar-vos-ei o repouso”. Ele alimenta-nos com o seu corpo puríssimo e com o seu sangue. Com bondade nos educa pela sua palavra e pelo Espírito Santo. Revelou-nos os seus mistérios. Vive em nós e nos sacramentos da Igreja e conduz-nos ao lugar onde veremos a sua glória.