Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (PDF) TEXTO
A inscrição da cruz “rei dos judeus” – irónica aos olhos dos homens – descreve com precisão a situação de Jesus, na perspectiva de Deus:
Ele é o “rei” que preside, da cruz, a um “Reino” de serviço, de amor, de entrega, de dom da vida.
Dehonianos
Toma conta de mim
D. Gianfranco Ravasi, Via Sacra no Coliseu de Roma, com Bento XVI
Os minutos de agonia vão passando e a energia vital de Cristo crucificado vai diminuindo lentamente. Ele, porém, ainda tem força para um derradeiro acto de amor para com um dos dois condenados à pena capital que estão ao seu lado naqueles momentos trágicos, enquanto o Sol está agora no alto do Céu. Entre Cristo e o homem decorre um breve diálogo, contido em duas frases essenciais.
De um lado, há o apelo do malfeitor, a que a tradição chamou “o bom ladrão”, o convertido na hora extrema da sua vida: “Jesus, lembra-Te de mim, quando estiveres no teu Reino!” Em certo sentido, é como se aquele homem rezasse uma versão pessoal do “Pai-Nosso” e da invocação “Venha a nós o teu Reino!”. Ele, porém, dirige-a directamente a Jesus, chamando-O por um nome, um nome com o significado que ilumina naquele instante: “O Senhor salva.” Depois, há um imperativo: “Lembra-Te de mim!”
Na linguagem da Bíblia este verbo tem uma força particular, que não corresponde ao nosso pálido “recordar”. É uma palavra que significa certeza e confiança, como que a dizer: “Toma conta de mim, não me abandones, sê como o amigo que apoia e ajuda!”
Por outro lado, eis a resposta de Jesus, brevíssima, semelhante a um suspiro: “Hoje estarás comigo no Paraíso.” Esta palavra “Paraíso”, tão rara nas Escrituras que só aparece mais duas vezes no Novo Testamento, no seu significado original evoca um jardim fértil e florido.
É uma imagem perfumada daquele Reino de luz e de paz que Jesus tinha anunciado na sua pregação, que tinha inaugurado com os seus milagres e que, dentro de pouco, terá uma Epifania gloriosa na Páscoa. É a meta da nossa caminhada fatigante na história, é a plenitude da vida, é a intimidade do abraço com Deus. É o último dom que Cristo nos faz, precisamente através do sacrifício da sua morte que se abre à glória da ressurreição.
Nada mais disseram um ao outro, naquele dia de angústia e de dor, os dois crucificados; mas aquelas poucas palavras pronunciadas com esforço cansado pelas duas gargantas secas e ardentes ecoam, ainda hoje, e repetem-se sempre como um sinal de confiança e de salvação para quem pecou, mas também acreditou e esperou, nem que fosse junto da fronteira extrema da vida.
Acordai! O Advento está próximo!
Quase todos nós somos pessoas razoáveis e sérias e não andamos todos os dias em bebedeiras, devassidões, libertinagens e discórdias; mas, apesar da nossa bondade e seriedade, é possível que o cansaço, a monotonia, a preguiça nos adormeçam, que caiamos na indiferença, na inércia, na passividade, no comodismo; é possível que deixemos correr as coisas e que esqueçamos os compromissos que um dia assumimos com Jesus e com o “Reino”…
É para nós que Paulo grita: “acordai!; renovai o vosso entusiasmo pelos valores do Evangelho; é preciso estar preparado – sempre preparado – para acolher o Senhor que vem”.
Há um convite à esperança: “o Senhor vem!
A noite vai adiantada e o dia está próximo”. Deus não nos abandona; Ele continua a vir ao nosso encontro e a construir connosco esse mundo novo de justiça e de paz…
Por muito que nos assustem as trevas que envolvem o mundo, a presença de Deus garante-nos que a injustiça, a exploração, a morte não são o final inevitável: a última palavra que a história vai ouvir é a Palavra libertadora e salvadora de Deus.
Neste tempo de preparação para a celebração do nascimento de Jesus que se avizinha, sou convidado a recentrar a minha vida no essencial, a redescobrir aquilo que é importante, a estar atento às oportunidades que o Senhor, dia-a-dia, me oferece, a acordar para os compromissos que assumi para com Deus e para com os irmãos, a empenhar-me na construção do “Reino”… É essa a melhor forma – ou melhor, a única forma – de preparar a vinda do Senhor.
Dehonianos
O Paraíso é o abraço com Deus
Papa Francisco, Catequese, 2017
É precisamente no Calvário que Jesus tem o último encontro com um pecador, para abrir de par em par as portas do seu Reino.
Isto é interessante: é a única vez que a palavra “paraíso” aparece nos evangelhos.
Jesus promete-o a um “pobre diabo” que no madeiro da cruz teve a coragem de Lhe dirigir o mais humilde dos pedidos. Não tinha boas obras para apresentar, nada possuía, mas confia-se a Deus, que reconhece como inocente, bom, tão diferente dele. Foi suficiente aquela palavra de arrependimento humilde, para sensibilizar o coração de Jesus.
O bom ladrão faz-nos lembrar a nossa verdadeira condição diante de Deus: que somos seus filhos, que Ele sente compaixão por nós, que Ele está desarmado todas as vezes que lhe manifestamos a nostalgia do seu amor.
Diante de Deus apresentamo-nos todos de mãos vazias, um pouco como o publicano da parábola que tinha parado para rezar no fundo do templo. E todas as vezes que um homem, fazendo o último exame de consciência da sua vida, descobre que as faltas superam de forma considerável as boas obras, não deve desanimar, mas entregar-se à misericórdia de Deus.
E isto dá-nos esperança, abre-nos o coração!
O paraíso é o abraço com Deus, Amor infinito, e entramos nele graças a Jesus, que morreu na cruz por nós. Esta é a meta da nossa existência: que tudo se cumpra, e seja transformado em amor. Se acreditarmos nisto, a morte deixa de nos amedrontar, e podemos também ter a esperança de partir deste mundo de maneira serena, com muita confiança.
Quem conheceu Jesus, já nada teme.