XXX Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Ao abrir o Evangelho, cada um pode dizer para si mesmo: estas palavras de Jesus são um pouco como uma carta muito antiga, que me foi escrita numa língua desconhecida; mas, como foi escrita por alguém que me ama, vou procurar compreender o seu sentido e vou desde logo tentar pôr em prática, na minha vida, o pouco que descobri…
No início, não importam os grandes conhecimentos.
Mas é através do coração, nas profundezas de si mesmo, que o ser humano começa a descobrir o Mistério da Fé.
Os conhecimentos virão a seguir. Não é tudo adquirido de uma só vez. Uma vida interior elabora-se passo a passo.
Hoje, mais do que nunca, penetramos na fé avançando por etapas.
Irmão Roger, de Taizé
A esperança, esta desconhecida
Papa Francisco, 31 de Outubro de 2013
A esperança é a mais humilde das três virtudes teologais, porque se esconde na vida. Contudo, ela transforma-nos em profundidade, assim como «uma mulher grávida não deixa de ser mulher» mas é como se se transformasse porque se torna mãe.
A esperança revelou-se mais forte do que o sofrimento, como escreve São Paulo na carta aos Romanos «os sofrimentos do tempo presente não são comparáveis com a glória futura que será revelada em nós». O apóstolo fala de «fervorosa expectativa», uma tensão rumo à revelação que se refere a toda a criação.
Vemos e sentimos a fé, sabemos o que é; praticamos a caridade, sabemos o que é. Mas o que é a esperança?. Para nos aproximarmos mais podemos dizer em primeiro lugar que é um risco. A esperança é uma virtude perigosa, uma virtude, como diz São Paulo, de uma expectativa fervorosa pela revelação do Filho de Deus. Não é uma ilusão. É aquela que os israelitas tinham, os quais, quando foram libertados da escravidão disseram: «parecia que sonhávamos. Então a nossa boca abriu-se num sorriso e a nossa língua encheu-se de alegria».
Paulo mostra outro ícone da esperança, é o do parto. De facto, sabemos que toda a criação, e também nós com ela, geme e sofre as dores de parto até hoje.
A esperança, põe-se nesta dinâmica do dar a vida.
A esperança é uma graça que deve ser pedida. Uma coisa é viver na esperança, porque na esperança somos salvos, e outra é viver como bons cristãos e nada mais, viver na expectativa da revelação, ou viver bem com os mandamentos; estar ancorados nas margens do mundo futuro ou estacionados na laguna artificial. Como mudou a atitude de Maria, uma jovem, quando soube que seria mãe: Vai, ajuda e canta aquele cântico de louvor. Porque, quando uma mulher está grávida, é mulher, mas é como se se transformasse profundamente porque agora «é mãe». E a esperança é algo semelhante: muda a nossa atitude.
Sou ponte ou obstáculo?
P. Dennis Clark, In Catholic Exchange
Há poucas coisas mais frustrantes do que querermos desesperadamente chegar a algum lugar e encontrar sinais com proibições do tipo “Trânsito proibido”, “Estrada em obras” ou “Desvio”. Sabemos onde precisamos de ir e como chegar lá, mas algo ou alguém impede o nosso caminho, muitas vezes por más razões. Muita da nossa vida é assim.
Este passo do Evangelho é um exemplo inequívoco: um pedinte cego ouviu o rumor da multidão quando Jesus se aproximava. O mendigo sabia que precisava de se encontrar com Jesus, e por isso gritou-Lhe com o máximo das suas forças. No entanto, os discípulos, que dirigiam a comitiva, usaram todo o poder ao seu dispor para o calar e afastar de Jesus. Só que não resultou. Jesus ouviu os apelos do homem e o que aconteceu a seguir é História.
Quantas vezes nos tornamos, consciente ou inconscientemente, obstáculos para que a graça chegue à vida das outras pessoas? Mais do que gostaríamos de admitir. Pode ser o peso dos nossos maus exemplos que sobrecarrega o coração do nosso próximo e o afasta de Deus. Ou talvez seja algo mais consciente, como a necessidade de controlar as pessoas à nossa volta, cortando momentos espontâneos de graça.
Seja como for, nada disto é o que queremos ser para o outro. Decida agora: seja uma ponte para a graça, não um obstáculo!
Vida de Fé
Josemaria Escrivá de Balaguer, in Amigos de Deus
Não te dá vontade de gritar, a ti que também estás parado na berma do caminho, desse caminho da vida que é tão curta; a ti, a quem faltam luzes; a ti, que necessitas de mais graça para te decidires a procurar a santidade? Não sentes urgência em clamar: Jesus, Filho de David, tem piedade de mim?
Muitos repreendiam-no para o fazer calar. Tal como a ti, quando suspeitaste de que Jesus passava a teu lado. Acelerou-se o bater do teu coração e começaste também a clamar, movido por uma íntima inquietação.
E amigos, costumes, comodidade, ambiente, todos te aconselharam: cala-te, não grites! Porque é que hás-de chamar por Jesus? Não O incomodes!
Mas o pobre Bartimeu não os ouvia e continuava ainda com mais força: Filho de David, tem piedade de mim. O Senhor, que o ouviu desde o começo, deixou-o perseverar na sua oração. Contigo, procede da mesma maneira. Jesus apercebe-Se do primeiro apelo da nossa alma, mas espera. Quer que nos convençamos de que precisamos d’Ele; quer que Lhe roguemos, que sejamos teimosos, como aquele cego que estava à beira do caminho, à saída de Jericó. Imitemo-lo. Ainda que Deus não nos conceda imediatamente o que Lhe pedimos e, apesar de muitos procurarem afastar-nos da oração, não cessemos de Lhe implorar.
Jesus, parando, mandou chamá-lo. E alguns dos melhores que o rodeiam, dirigem-se ao cego: Tem confiança; levanta-te; Ele chama-te. É a vocação cristã! Mas, na vida de cada um de nós, não há apenas um chamamento de Deus. O Senhor procura-nos a todo o instante: levanta-te – diz-nos – e sai da tua preguiça, do teu comodismo, dos teus pequenos egoísmos, dos teus problemazinhos sem importância. Desapega-te da terra; estás aí rasteiro, achatado e informe. Ganha altura, peso, volume e visão sobrenatural.
Aquele homem, deitando fora a capa, levantou-se de um salto e foi ter com Jesus.
Não te esqueças de que, para chegar até Cristo, é preciso o sacrifício. Deitar fora tudo o que estorva.
Tens de proceder da mesma maneira nesta luta pela glória de Deus, nesta luta de amor e de paz, com que procuramos difundir o reinado de Cristo.
Para servires a Igreja, o Romano Pontífice e as almas, deves estar disposto a renunciar a tudo o que sobeja. Lição de fé, lição de amor, porque é assim que se tem de amar Cristo.
Agora é contigo que Cristo fala.
Diz-te: que queres de Mim? Que eu veja, Senhor, que eu veja!
E Jesus: Vai, a tua fé te salvou. Nesse mesmo instante, começou a ver e seguia-O pelo caminho. Segui-lo pelo caminho.
Tu tomaste conhecimento do que o Senhor te propunha e decidiste acompanhá-l’O pelo caminho.
Tu procuras seguir os seus passos, vestir-te com as vestes de Cristo, ser o próprio Cristo: portanto, a tua fé – fé nessa luz que o Senhor te vai dando – deverá ser operativa e sacrificada.
Não te iludas, não penses em descobrir novas formas. É assim a fé que Ele nos pede: temos de andar ao seu ritmo com obras cheias de generosidade, arrancando e abandonando tudo o que seja estorvo.