Domingo VII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
AMOR TOTAL, AMOR SEM LIMITES
A lógica de Jesus não significa ter uma atitude passiva e conivente diante das injustiças e das arbitrariedades;
significa estar disposto a dar o primeiro passo para o reencontro e acolher o que falhou; ter gestos de bondade e compreensão, mesmo para com quem nos fez mal.
Também não significa esquecer , mas antes não deixar que as falhas dos outros nos afastem irremediavelmente; significa ter o coração aberto ao nosso próximo.
Dehonianos
– DA LUTA ESPIRITUAL: COMBATER A TENTAÇÃO E AMAR OS INIMIGOS
Enzo Bianchi, In Resiste ao inimigo – A luta espiritual
Hoje em dia o Cristianismo tende a rejeitar a dimensão do “combate da fé”, ao qual o ensinamento dos primeiros cristãos dava uma importância preponderante. A luta espiritual é um elemento essencial para edificar uma pessoa madura e sólida.
É tão necessária que nem Jesus pôde ignorá-la, com o tentador no deserto.
Esta luta é interior, opõe-se àquilo que em nós nos leva a cometer o mal. Estas tentações manifestam-se no amar, no ter e no agir. Sendo realidades que não são más em si mesmas, podem perder a sua beleza originária levando-nos a ocupar-nos somente de nós.
Contra tal deformação existe a luta espiritual. Na catequese, os “sete pecados capitais” são um modo pragmático de chamar a atenção para as acções concretas do “inimigo” interior a neutralizar (soberba, inveja, cólera, acédia, avareza, gula, luxúria). Esta luta deve-nos fazer passar do regime de consumo para o de comunhão com Deus e com os outros.
Como levar esta luta para atingir a maturidade pessoal e a liberdade plena?
Primeiro, preparando-nos com a vigilância. Trata-se de curar a doença do entontecimento espiritual que impede a atenção profunda e leva a agir sempre de modo superficial, para chegar ao “estado de vigilância de si e a Deus” que permita por fim discernir as verdadeiras tentações que nos pesam no coração. Vigiar: descobrir as nossas raízes em profundidade e não se deixar levar pelas seduções; aderir às realidades sem se refugiar na imaginação.
A tentação conhece momentos variados. No início apresenta-se a sugestão. Podes discernir o carácter negativo deste pensamento, porque provoca perturbação no coração e tira-te a paz. Ninguém está isento deste primeiro momento. Mas se conversares e dialogares com este pensamento, este torna-se aos poucos irresistível e nunca o dominas.
É ele quem te domina!
A este ponto produz-se o consenso, a tomada de posição pessoal que contradiz a vontade de Deus. Depois de se repetirem os consentimentos pela ausência da luta, tornamo-nos escravos de uma paixão ou de um vício. Este processo elementar pode porém ser interrompido pelo exercício imediato da luta, no instante em que nascem os pensamentos e as sugestões.
Escrevia Arthur Rimbaud: «A luta espiritual é tão brutal como uma batalha entre homens», mas produz frutos: pacificação, liberdade, mansidão…
O Evangelho chama-nos à reconciliação e à fatigante procura da comunhão, e pede algo mais, o amor aos inimigos. Loucura, dirás tu.
Toda a vida de Jesus – do lavar dos pés mesmo a Judas, até à cruz, onde rezou pelos seus algozes enquanto O crucificavam – testemunha um amor incondicional até ao inimigo.
É realmente possível amar o inimigo, precisamente enquanto manifesta a sua hostilidade e inimizade, o seu ódio e a sua adversidade? É humanamente possível tal escandalosa simultaneidade?
A experiência diz-te que este apelo parece fascinante em teoria, mas desfaz-se no esquecimento e não encontra nenhuma consistência perante concretas situações de inimizade. Não te resignes a esta contradição, e não esqueças que o amor chega através de um longo caminho, porque não é espontâneo, mas exige disciplina, ascese, luta contra o instinto da ira e contra a tentação do ódio.
Jesus, quando pede para amar o inimigo, coloca o crente numa tensão, num caminho. Da tentação de vingar o mal recebido, devemos chegar a não opor-nos ao malvado, a contrapor ao mal aquela passividade activíssima que é a não-violência, confiando no Deus único, Senhor e Juiz dos corações e das acções dos homens.
Desta forma, tomarás consciência de que o inimigo é o nosso maior mestre, aquele que pode realmente descobrir o que nos habita no coração e que não emerge quando nos encontramos de boas relações com os outros.
Perceberás espiritualmente que o verdadeiro inimigo está em ti e que a luta a travar não é contra o outro, mas contra a injustiça do teu coração, contra a absolutização do teu “eu” à custa dos outros. A pouco e pouco, tornar-te-ás capaz de obedecer às palavras do Senhor que nos convidam a oferecer a outra face…
Ora, para que tudo isto seja possível, não podes esquecer a oração pelos perseguidores. Se não assumes o outro na oração, aprendendo assim a vê-lo com os olhos de Deus, nunca chegarás a amá-lo!
Perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido.