Domingo de Pentecostes (PDF)  TEXTO

Maria e a vida no Espírito Santo

Papa Francisco

Jan Hoest van Kalkar, Pentecostes

 

“A Virgem Maria ensina-nos o que significa viver no Espírito Santo e o que significa acolher a novidade de Deus na nossa vida.

Ela concebeu Jesus por obra do Espírito, e cada cristão, cada um de nós, está chamado a acolher a Palavra de Deus, a acolher Jesus dentro de si e depois levá-lo a todos.

Maria invocou o Espírito com os Apóstolos no cenáculo: também nós, todas as vezes que nos reunimos em oração, somos amparados pela presença espiritual da Mãe de Jesus, para receber o dom do Espírito e ter a força de testemunhar Jesus ressuscitado.”

(Papa Francisco, Regina Coeli, 28 de Abril de 2013)

 

 

 

 

A Igreja, Pentecostes contínuo, quer risco, invenção, poesia criativa

Ermes Ronchi, in Avvenite

A Bíblia é um livro repleto de vento e de caminhos. Assim são as narrativas do Pentecostes, repletas de caminhos que partem de Jerusalém e plenos de vento, leve como uma brisa e impetuoso como um furacão. Um vento que sacode a casa, que a enche e segue adiante; que traz pólenes de Primavera e dispersa a poeira; que traz fecundidade e dinamismo para o interior das coisas imóveis.

Enche a casa onde os discípulos estavam juntos.
O Espírito não se deixa sequestrar em certos lugares que dizemos sagrados. Agora sagrada torna-se a casa. A minha, a tua e todas as casas são o céu de Deus. Vem de imprevisto, e são apanhados de surpresa, não estavam preparados, não tinha sido programado.

O Espírito não suporta esquemas, é um vento de liberdade, fonte de vida livre.
Aparecem línguas de fogo que pousavam em cada um. Em cada um, ninguém excluído, nenhuma distinção a fazer. O Espírito toca cada vida, a todas diversifica, faz nascer criadores. As línguas de fogo dividem-se e cada qual ilumina uma pessoa diferente, uma interioridade irredutível. Cada uma deles desposa uma liberdade, afirma uma vocação, renova uma existência única.

Precisamos do Espírito, d’Ele precisa o nosso pequeno mundo estagnado, sem ímpeto. Para uma Igreja que seja guardiã de liberdade e de esperança. O Espírito com os seus dons dá a cada cristão uma genialidade que lhe é própria. E temos extrema necessidade de discípulos de génio. Ou seja, precisamos que cada um acredite no seu próprio dom, na própria unicidade, e que coloque a sua própria criatividade e coragem ao serviço da vida. A Igreja como Pentecostes continuo quer o risco, a invenção, a poesia criativa, a batalha da consciência.

Depois de ter criado cada ser humano, Deus parte o seu molde e lança-o fora. O Espírito faz-te único na tua maneira de amar, na tua maneira de dar esperança. Único na maneira de consolar e encontrar; único na maneira de desfrutar a doçura das coisas e a beleza das pessoas.

Ninguém sabe cuidar como tu sabes; ninguém tem essa alegria de viver que tu tens; e ninguém tem o dom de compreender os factos como tu os compreendes. Esta é precisamente a obra do Espírito: quando o Espírito vier, guiar-vos-á para toda a verdade.
Jesus que não tem a pretensão de dizer tudo, como ao contrário e demasiadas vezes O consideramos, que tem a humildade de afirmar: a verdade está à frente de nós, é um caminho a ser feito, um devir.

Eis, então, a alegria de ouvir que os discípulos do Espírito pertencem a um projecto aberto, não a um sistema fechado, onde já está tudo pré-estabelecido e definido. Que em Deus quanto mais se navega, mais se descobrem novos mares. E que nunca faltará o vento ao meu veleiro.

O segredo do Espírito Santo é o dom

Papa Francisco, Maio 2020

Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; e há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos» (1 Cor 12, 4-6).
Diversidade e o mesmo, diversos e um só: o Apóstolo insiste em juntar duas palavras que parecem opostas. Quer-nos dizer que este um só que junta os diversos é o Espírito Santo. E a Igreja nasceu assim: diversos, unidos pelo Espírito Santo.

Recuemos até aos inícios da Igreja, no dia de Pentecostes, e fixemos os Apóstolos: entre eles, temos pessoas simples, habituadas a viver do trabalho das suas mãos, como os pescadores, e está Mateus, certamente dotado de instrução pois fora cobrador de impostos. Existem origens e contextos sociais diversos, nomes hebraicos e nomes gregos, temperamentos pacatos e outros ardorosos, ideias e sensibilidades diferentes. Eram todos diferentes. Jesus não os mudara, nem os uniformizara, tornando-os modelos em série. Não. Deixara as suas diversidades; e agora une-os, ungindo-os com o Espírito Santo. A união – a união deles que eram diversos – vem com a unção.

No Pentecostes, os Apóstolos compreendem a força unificadora do Espírito. Vêem-na com os próprios olhos, ao constatar que todos, apesar de falar línguas diversas, formam um só povo: o povo de Deus, plasmado pelo Espírito, que tece a unidade com as nossas diferenças, que dá harmonia porque, no Espírito, há harmonia. Ele é a harmonia.

Hoje o que é que nos une, em que se baseia a nossa unidade? Também entre nós existem diversidades, por exemplo de opinião, preferência, sensibilidade.

A tentação, porém, é defender sempre de espada desembainhada as nossas ideias, considerando-as boas para todos e pactuando apenas com quem pensa como nós. E esta é uma tentação ruim, que divide. Mas, esta é uma fé à nossa imagem, não é aquilo que deseja o Espírito. Nesse caso, poder-se-ia pensar que aquilo que nos une fossem as próprias coisas em que acreditamos e os próprios comportamentos que adoptamos. Mas não! Há muito mais: o nosso princípio de unidade é o Espírito Santo. E a primeira coisa que Ele nos lembra é que somos filhos amados de Deus; nisto, todos iguais e, todavia, somos todos diferentes.
O Espírito vem a nós, com todas as nossas diversidades e misérias, para nos dizer que temos um só e mesmo Senhor, Jesus, um só e mesmo Pai; por isso, somos irmãos e irmãs.

Olhemos a Igreja como faz o Espírito, não como faz o mundo. O mundo vê-nos de direita e de esquerda, com esta ideologia, com aquela; o Espírito vê-nos do Pai e de Jesus. O mundo vê conservadores e progressistas; o Espírito vê filhos de Deus. O olhar do mundo vê estruturas, que se devem tornar mais eficientes; o olhar espiritual vê irmãos e irmãs implorando misericórdia. O Espírito ama-nos e conhece o lugar de cada um no todo: para Ele não somos papelinhos coloridos levados pelo vento, mas ladrilhos insubstituíveis do seu mosaico.

A primeira obra da Igreja é o anúncio. Vemos, porém, que os Apóstolos não preparam uma estratégia; quando estavam fechados lá, no Cenáculo, não montavam a estratégia, não; não preparavam um plano pastoral. Teriam podido dividir as pessoas por grupos segundo os vários povos, falar primeiro aos de perto e depois aos que eram de longe, tudo bem ordenado… Teriam podido também temporizar um pouco no anúncio e, entretanto, aprofundar os ensinamentos de Jesus, para evitar riscos… Mas não! O Espírito não quer que a recordação do Mestre seja cultivada em grupos fechados, em cenáculos onde tendemos a «fazer o ninho». E esta é uma doença má que pode vir à Igreja: uma Igreja não comunidade, nem família, nem mãe, mas ninho. O Espírito abre, relança, impele para além do que já foi dito e feito, Ele impele para além dos recintos duma fé tímida e cautelosa.

No mundo, sem uma estrutura compacta e uma estratégia calculada é um fracasso. Na Igreja, ao contrário, o Espírito assegura ao arauto a unidade. Os Apóstolos anima-os um único desejo: dar o que receberam.
O segredo da unidade da Igreja, o segredo do Espírito é o dom.

 

 

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