Domingo VII do Tempo Comum (PDF) TEXTO

Jan Wildens, Companheiros de Emaús
Do perdão de Jesus na cruz jorra a paz.
Pensai que a primeira saudação de Jesus ressuscitado é “a paz esteja convosco”.
O Senhor concede-nos a paz, dá-nos o perdão mas nós devemos pedir: “livrai-nos do mal”.
Papa Francisco, 2013
Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos
Papa Francisco, 24 de Abril de 2019

Fra Angelico, Calvário
Quem reza aprende a dizer “obrigado” e pede a Deus para ser benévolo com o próximo. Por muito que nos esforcemos, permanece sempre uma dívida impagável diante de Deus, que nunca poderemos restituir: Ele ama-nos infinitamente mais de quanto nós O amamos. Por muito que nos empenhemos para viver segundo os ensinamentos cristãos, na nossa vida haverá sempre alguma coisa da qual pedir perdão: pensemos nos dias passados na preguiça, nos momentos em que o rancor invadiu o nosso coração e assim por diante… São estas experiências que nos fazem implorar: “Senhor, Pai, perdoai-nos os nossos pecados”.
A invocação podia até limitar-se a esta primeira parte; teria sido bela. Ao contrário, Jesus liquida-a com uma segunda expressão que é um todo com a primeira.
O Deus bom convida-nos a sermos todos bondosos. As duas partes da invocação ligam-se com uma conjunção impiedosa: pedimos ao Senhor que perdoe os nossos pecados, as nossas faltas, “como” nós perdoamos aos nossos amigos, às pessoas que vivem connosco, aos nossos vizinhos, a quem nos fez alguma coisa desagradável.
Cada cristão sabe que existe para ele o perdão dos pecados: Deus perdoa tudo e sempre. Quando Jesus conta aos seus discípulos o rosto de Deus, esboça-o com expressões de terna misericórdia. Diz que há mais alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por uma multidão de justos que não precisam de conversão. Nos Evangelhos nada deixa suspeitar que Deus não perdoa os pecados de quem está bem disposto e pede para ser reabraçado.
Mas a graça de Deus, tão abundante, é sempre exigente. Quem recebeu muito deve aprender a dar muito e a não reter só para si aquilo que recebeu. Quem recebeu muito deve aprender a dar muito. Não é ocasional que o Evangelho de Mateus, logo depois de ter oferecido o texto do “Pai-Nosso”, entre as sete expressões usadas frise precisamente a do perdão fraterno: «Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas». Mas isto é forte! Eu penso: algumas vezes ouvi quem disse: “Nunca perdoarei aquela pessoa! Nunca perdoarei o que me fez!”. Mas se tu não perdoares, Deus nunca te perdoará. Fechas a porta. Pensemos se nós somos capazes de perdoar ou se não perdoamos.
Pensemos se nós cristãos, aqui, perdoamos, se somos capazes de perdoar. “Padre, eu não consigo, porque aquela gente fez-me tantas”. “Mas se tu não conseguires, pede ao Senhor que te conceda a força para conseguires: Senhor, ajuda-me a perdoar. Encontramos aqui a ligação entre o amor a Deus e o amor ao próximo. Amor chama amor, perdão chama perdão. Ainda em Mateus encontramos outra parábola muito intensa dedicada ao perdão fraterno
Jesus insere nas relações humanas a força do perdão. Na vida nem tudo se resolve com a justiça. Não. Sobretudo onde se deve pôr um limite ao mal, alguém tem que amar além do devido, para recomeçar uma história de graça. O mal conhece as suas vinganças, e se ele não for interrompido corre o risco de se alastrar sufocando o mundo inteiro.
Jesus substitui a lei de Talião com a lei do amor: aquilo que Deus fez a mim, eu restituo-o a ti!
Deus concede a cada cristão a graça de escrever uma história de bem na vida dos seus irmãos, especialmente daqueles que fizeram algo desagradável e errado. Com uma palavra, um abraço, um sorriso, podemos transmitir aos outros aquilo que recebemos de mais precioso.
Qual é a coisa preciosa que recebemos? O perdão, que devemos ser capazes de dar também aos demais.
O caminho de perfeição
Armindo dos Santos Vaz, ocd
Semana de Espiritualidade 2012
O título da obra de S. Teresa de Jesus, conhecida como Caminho de perfeição, está cheio de aberturas sugestivas a uma imensa riqueza de conteúdos humanos, culturais e espirituais.
Enquanto usa a metáfora do caminho, remete para a concepção da vida humana como uma viagem, que dá unidade à diversidade de episódios e de experiências e decorre entre progressos e retrocessos, sucessos e fracassos, perdas e ganhos, conquistas e derrotas, ditas e desditas. Vista como metáfora da existência humana vivida ou por viver, o caminho aparece como narrativa com sentido.
O peregrino, expondo-se a perigos e sacrifícios e enfrentando medos e obstáculos, significava as dificuldades da vida e exorcizava-as. Caminhar ajudava a tornar-se «outro». Narrar a vida no interior de uma viagem era contemplar a vida como narrativa, desafiando a identificação entre o “decurso” ou “discurso” da vida e o da memória escrita.
Na Bíblia, a imagem do caminho tornou-se motivo condutor. O caminho da fé feito por Abraão, à procura da terra para onde Deus o mandava? O de libertação, feito pelo povo de Israel sob a liderança de Moisés? O de Babilónia para Jerusalém, de volta à pátria perdida do Israel exilado? O que foi feito por Jesus, da Galileia até Jerusalém, onde realizou a obra da salvação humana? O caminho dos discípulos para Emaús, em que “Jesus se pôs a caminho com eles”, suscitando o regresso a Jerusalém: o caminho da desesperança para a alegria, da desolação para a vida nova?
A imagem do Caminho é uma constante da história da salvação bíblica para expressar a busca de Deus pela fé. Os místicos cristãos usaram a metáfora do caminho para exprimir a convicção de que a vida humana faz sentido enquanto caminha para a transcendência e para a união com Deus.