III Domingo do Tempo Comum (PDF)  TEXTO

Lorenzo Costa, Anunciação de Maria

A Palavra bíblica é uma janela, um espelho, uma fonte, uma luz, e em cada uma destas modalidades ela é imprescindível não só para a construção do caminho crente, mas também para o crescimento cultural.

Todavia, não é possível aceder a ela sem colocar em campo uma espécie de arte da leitura.

A clareza alcança-se percorrendo o caminho do amor.

A arte de ler não é mais do que a arte de amar.
Cipriano (200-258) dizia: «Se na oração falamos com Deus, na leitura Deus fala connosco».

Tolentino de Mendonça

 

A responsabilidade dos baptizados na Igreja

Vatican News

Ducio Buoninsegna, Jesus despede-se dos apóstolos

Neste dia 23 de Janeiro de 2022 é celebrado o Domingo da Palavra de Deus. Durante a celebração a presidir pelo Papa Francisco suceder-se-ão alguns momentos muito significativos.

Pela primeira vez, o ministério do Leitorado e do Acolitado será confiado também a leigos e leigas.
Na celebração, o Santo Padre realizará o rito pelo qual o ministério de catequista será conferido a fiéis leigos, mulheres e homens.
Cada um desses dois ministérios é conferido por meio de um rito, preparado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, apresentado pela primeira vez.

Com o motu proprio “Spiritus Domini”, que modifica o primeiro parágrafo do cânone 230 do Código de Direito Canónico, o Pontífice estabelece que as mulheres podem ter acesso a esses ministérios e que a elas sejam atribuídos também através de um acto litúrgico que as institucionalize.

Francisco especifica que desejou aceitar as recomendações que surgiram das várias assembleias sinodais, escrevendo que “nos últimos anos foi alcançado um desenvolvimento doutrinário que destacou que certos ministérios instituídos pela Igreja têm como fundamento a condição comum de baptizados e o sacerdócio real recebido no sacramento do baptismo”. Portanto, o Papa convida a reconhecer que estes são ministérios leigos “essencialmente distintos do ministério ordenado que é recebido com o sacramento da Ordem”.

O motu proprio é acompanhado por uma carta dirigida ao Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Luis Ladaria, na qual Francisco explica as razões teológicas da sua escolha.

O Papa escreve que “no horizonte de renovação traçado pelo Concílio Vaticano II, há hoje uma urgência cada vez maior em redescobrir a co-responsabilidade de todos os baptizados na Igreja, e em particular a missão dos leigos”.

E citando o documento final do Sínodo para a Amazónia, observa que “para toda a Igreja, na variedade de situações, é urgente que os ministérios sejam promovidos e conferidos a homens e mulheres…. É a Igreja dos baptizados que devemos consolidar, promovendo a ministerialidade e, sobretudo, a consciência da dignidade baptismal”.

Considerações sobre a Carta Apostólica “Aperuit illis”

Andrea Lebra, In Settimana News, via SNPC (excertos)

Por decisão do Papa Francisco, particularmente apreciada pelos muitos cristãos conscientes da exigência de colocar no centro da sua vida de fé a Bíblia, Primeiro e Segundo Testamento, será celebrado em toda a Igreja o primeiro Domingo da Palavra de Deus.

A leitura atenta, séria, crítica das Sagradas Escrituras está estreitamente ligada às suas vidas, oferece estímulos e suscita questionamentos, oferece clarões de luz e sacode surpreendentemente a rotina.

Para conhecer Cristo e compreender a missão da Igreja. A relação entre Cristo ressuscitado, a Igreja e a Sagrada Escritura é vital para a nossa identidade de cristãos. Sem o Senhor que nos abre a mente à compreensão das Escrituras é impossível compreendê-las em profundidade. Sem a Sagrada Escritura permanecem indecifráveis os acontecimentos da missão de Jesus e da sua Igreja no mundo.

Uma riqueza inesgotável a colocar à disposição de todos. A riqueza da Palavra de Deus é inesgotável. É muito mais aquilo que nos escapa dela do que o quanto conseguimos compreender, e as belezas que a coloram são de tal maneira múltiplas, que aqueles que perscrutam podem contemplar o que mais preferem. O seu grande valor dever ser percepcionado pelos cristãos na sua existência diária. Que todo o crente beneficie desse dom tão grande e se empenhe a vivê-lo no quotidiano, testemunhando-o com coerência.

“Lectio, meditatio, oratio”. O Domingo da Palavra de Deus tem o objectivo de fazer emergir a importância que, na vida de todo o crente, reveste a leitura diária dos textos sagrados, que se torna reflexão e se transforma em oração. A quem proclama a Palavra na liturgia seja fornecida uma preparação adequada.

Acessibilidade para todos. Os pastores, tendo a grande responsabilidade de permitir a todos a compreensão da Sagrada Escritura, devem sentir fortemente a exigência de a tornar acessível à sua comunidade, também graças às homilias caracterizadas por uma linguagem simples para chegar ao coração de quem a escuta e aquecê-lo.

A fé provém da escuta e a escuta centra-se na Palavra de Cristo. Por isso, é urgente e importante que os crentes reservem escuta atenta à Palavra de Deus quer na acção litúrgica, quer na oração.

Evitar interpretações fundamentalistas. A acção do Espírito Santo evita o risco de toda a interpretação fundamentalista dos textos escritos, valorizando-se-lhe, antes, o carácter dinâmico e espiritual.
A Bíblia não é uma recolha de livros de história nem de actualidade noticiosa, mas dirige-se inteiramente à salvação integral da pessoa.

Ler e interpretar à luz do Espírito Santo, mediante o qual foi escrita. Deve-se, consequentemente, ter confiança na acção do Espírito Santo, que continua a realizar uma forma peculiar de inspiração não só quando a Igreja ensina a Sagrada Escritura e o magistério a interpreta autenticamente, mas também quando cada crente faz dela a sua norma espiritual.

Sagrada Escritura e Tradição: únicas fontes da revelação de Deus. Antes de se tornar um texto escrito, a Sagrada Escritura foi transmitida oralmente e mantida viva pela fé de um povo que a reconhecia como sua história e princípio de identidade no meio de outros povos. A fé bíblica funda-se na Palavra viva, não num livro.

Doçura e amargura. A doçura impele-nos a participá-la a quantos encontramos na nossa vida, para exprimir a certeza da esperança que contém.
A amargura é muitas vezes constatada na verificação de quanto é difícil vivê-la com coerência.
É necessário, portanto, não nos acostumarmos rotineiramente à Palavra de Deus, mas alimentarmo-nos dela para descobrir e viver em profundidade a nossa relação com Deus e com os irmãos e irmãs.

Misericórdia, partilha, solidariedade. A Palavra de Deus é capaz de abrir os nossos olhos para permitir-nos sair do individualismo que conduz à asfixia e à esterilidade, enquanto escancara a estrada da partilha e da solidariedade.

 

Arquivo de Folhas Informativas anteriores a 25.11.2018