Domingo XXXIV do Tempo Comum (PDF) TEXTO
O reino de Jesus não é deste mundo, é um reino de amor que não é alcançado por meios humanos.
O seu pedido é deixarmos que Ele Se torne nosso rei. Mas Jesus só poderá dar um novo sentido à nossa vida, com a condição de que não sigamos as lógicas do mundo e dos seus “reis”.
Jesus hoje pede-nos para deixar que Ele Se torne nosso rei: Um rei que com a sua palavra, o seu exemplo e sua vida imolada na Cruz nos salvou da morte, e indica – este rei – o caminho para o homem perdido, dá nova luz à nossa existência marcada pela dúvida, pelo medo e pelas provações do dia-a-dia.
Papa Francisco
Venha a nós o vosso Reino
José Tolentino Mendonça, In “Pai nosso que estais na terra”
O que podemos dizer do Reino de Deus é que ele é inseparável de Jesus, deste agora da salvação de Deus, deste transbordar da sua graça na história. É inseparável deste rasgar da história aos pobres e infelizes, deste bálsamo derramado aos corações quebrantados, desta palavra de alento aos que já não esperavam nada.
Deste aproximar das vidas concretas à possibilidade da salvação de Deus. Onde Jesus Cristo chegava, chegava o Reino. Onde Jesus Cristo estava, o Reino de Deus mostrava-se. Quando as pessoas tocavam em Jesus, estavam a tocar no Reino, quando O viam estavam a vê-lo. Quando escutavam as suas parábolas estavam a escutar a gramática insuspeita do Reino. Jesus viveu a sua vida como esta manifestação extraordinária do Reino. O Reino de Deus coincidia com a presença de Jesus, e que efeitos extraordinários, esta chegada de Jesus, provocava em tantas vidas.
Gente que se julgava morta, gente que se acreditava perdida, num emaranhado de existência que não conseguia deslindar… em Jesus Cristo encontrava a possibilidade de uma vida nova. Pensemos em Maria Madalena, aquela de quem Jesus retira sete demónios. Nós não fazemos ideia do que é estar possuído por sete demónios…
Imaginamos é o que interiormente seja, de dispersão completa, estilhaçamento, incapacidade de estar em si. A verdade é que esta mulher, rejeitada, perdida de si mesma, encontra-se em Jesus Cristo e nele reencontra o desejo de ser. Pensemos na vida dos próprios discípulos, que com certeza já sabiam muitas coisas acerca de Deus, mas que em Jesus Cristo ouvem o que não sabiam. Eles já sabiam andar de barco no mar da Galileia, mas não sabiam andar sobre as ondas; eles já sabiam amontoar e repartir o pão, mas não sabiam multiplicá-lo; não sabiam que o pão também pode saciar uma fome interior, uma fome do coração.
Pensemos nos pecadores, naqueles que eram apontados a dedo e de quem se dizia: “não têm possibilidade de salvação”. Com que surpresa Zaqueu desceu daquela árvore para acolher Jesus em sua casa. Ou Levi, se levantou da seu posto de cobrança para se tornar discípulo do Senhor… Isto é o Reino de Deus presente. Isto é o Reino de Deus actuante, um Reino sem fronteiras, não segundo a lógica dos homens, mas numa torrente do amor divino que vai crescendo, crescendo, como uma maré que quer tocar tudo e todos.
«O Reino de Deus já está presente no meio de vós.» Não digamos está aqui ou além. O Reino de Deus está presente como uma realidade em si. O Reino de Deus depende de Deus e não desta nossa tentação de limitar, de criar fronteiras, de separar. «Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, respondeu-lhes: “ A vinda do Reino de Deus não é observável, não se pode dizer: Ei-lo aqui, ou ei-lo ali. Pois, eis, que o Reino de Deus está no meio de vós”».
Este é o grande anúncio de Jesus: «O Reino de Deus está no meio de vós!» Está dentro de nós, no meio do mundo, no interior da História como semente…
É este o maravilhoso tesouro a descobrir. Deus já está presente! E o que precisamos, é de nos tornar sensíveis a essa presença. O Reino de Deus é já uma realidade, é já um fermento… E se é verdade que o Reino de Deus é também uma realidade escatológica, uma realidade do futuro, uma coisa que a gente já vê, mas que ainda há-de chegar na sua plenitude; que neste momento existem sinais; a verdade é que sabendo nós embora que ele é dom futuro, o Reino de Deus é já uma realidade do hoje da minha vida. Hoje a minha vida está envolvida pelo Reino de Deus.
«O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como.»
Como diziam os alquimistas medievais: «Sem um pingo de ouro, não se consegue fabricar o ouro». Sem um pingo do Reino de Deus nós não conseguimos construir o Reino de Deus, não conseguimos pedi-lo, não conseguimos esperá-lo. O Reino de Deus é, no fundo, o resumo de toda a esperança.
É aquela realidade de Deus que se entrosa misteriosamente com as esperanças mais íntimas, mais fundas. Porque no Reino de Deus, nós temos a plenitude, temos a concretização do amor de Deus. Basta-nos o Reino de Deus e tudo o resto é acréscimo.
E tudo o resto é relativo…
Sabes esperar?
in Monastero di Bose
Advento, tempo da Vinda (do latim “Adventus”) do Senhor nosso, Jesus Cristo.
Os crentes cristãos professam a sua fé dizendo: «Jesus Cristo virá na glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu Reino não terá fim».
O tempo do Advento é sobretudo a espera deste acontecimento, espera que habita sempre o coração do cristão, mas que nestas semanas se faz mais ardente.
Mas será que ainda acreditamos?
Ainda esperamos o Senhor Jesus?
A questão não é a da expectativa de um futuro incógnito, mas o de como viver no hoje, o estilo com que mostramos esperar a vinda do Senhor.
Jesus, por o ter vivido na primeira pessoa, ensina-nos como esperar, como viver precisamente enquanto não sabemos: «Vigiai, portanto … procurai compreender, conhecer … mantei-vos prontos».
Três verbos nos quais está encerrada toda a nossa vida.
Vigiar, isto é, ficar acordado, não ficar atordoado, ser capaz de uma adesão lúcida à realidade; compreender, conhecer, ou seja, pensar, raciocinar, não ficar preso ao “todos fazem assim”, ousar a originalidade; estar pronto, quer dizer, sempre consciente, dar-se conta de tudo.