Domingo XXIX do Tempo Comum (PDF) TEXTO

Vocação: graça e missão

Tiepoli, Santa Cecília

É uma preciosa ocasião para redescobrir, maravilhados, que a chamada do Senhor é graça, dom gratuito e, ao mesmo tempo, é empenho de partir, sair para levar o Evangelho.

Somos chamados a uma fé testemunhada, que estreita fortemente o vínculo entre a vida da graça, através dos Sacramentos e da comunhão eclesial, e o apostolado no mundo.

Animado pelo Espírito, o cristão deixa-se interpelar pelas periferias existenciais e é sensível aos dramas humanos, tendo sempre bem presente que a missão é obra de Deus e não a realizamos sozinhos, mas em comunhão eclesial, juntamente com os irmãos e irmãs, guiados pelos Pastores. Pois este sempre foi o sonho de Deus: vivermos com Ele em comunhão de amor. Somos feitos para amar.

No decurso da nossa vida, esta chamada, inscrita nas fibras do nosso ser e portadora do segredo da felicidade, alcança-nos, pela acção do Espírito Santo, de maneira sempre nova, ilumina a nossa inteligência, infunde vigor na vontade, enche-nos de admiração e faz arder o nosso coração.

Papa Francisco, 2023

 

Vem, Espírito Santo

D. (Card.) José Tolentino Mendonça , 2020 (adaptado)

Joseolgon, Pentecostes

Há uma materialidade na vida, no corpo que somos, naquilo de que precisamos para a vida. Somos matéria. Mas ao mesmo tempo não somos só isto, somos mais, uma outra coisa, uma respiração, um mistério que para além da matéria é espiritual, é puramente espiritual.
O mesmo acontece com a Igreja.

O que é a Igreja? Podemos descrevê-la do exterior, sociologicamente, e dizer: é uma sociedade. Fazemos parte de uma pequena sociedade de pessoas que se reconhecem, que têm laços recíprocos, que mantêm rituais entre elas, em que existe uma hierarquia que dá a esta sociedade unidade, orientação e doutrina. Vista do exterior, a Igreja é muitas vezes analisada principalmente deste modo.
Não basta aceitar o convite para seguir o Senhor, é necessário estar aberto a um caminho de conversão que mude o coração.
O hábito da misericórdia, que Deus nos oferece incessantemente, é um dom gratuito do seu amor, é precisamente a graça. E requer ser recebido com maravilha e alegria.

A Igreja tem uma dimensão institucional, porque é composta de mulheres e homens, mas a Igreja tem principalmente uma natureza carismática. Mas a Igreja é este mistério de relação, de revelação, de viagem, de peregrinação que cada um de nós está a fazer assistido pelo Espírito Santo. É necessário escutar aquilo que diz o Espírito Santo, a partir de cada um, para compreender o que é a Igreja. Em cada um de nós, o Espírito Santo actua, com uma imaginação divina, com uma criatividade de amor, suscita um impulso, um desejo, uma inquietação, um mal-estar, uma insatisfação, um querer mais, um desejo de fazer, de transformar, a vontade de correr riscos, de ir além. É o Espírito que nos impulsiona a tornarmo-nos cristãos originais, verdadeiros, felizes.
Por este motivo, as todas imagens eclesiológicas que S. Paulo usa seguem esta linha.

Precisamos de todos. Porque somos uma realidade pneumática, somos uma realidade carismática, somos uma realidade que é uma associação de dons. Reforçamo-nos, uns aos outros, neste caminho que é movido pelo Espírito Santo.
Devemos escutar o Espírito Santo, devemos contar mais com Ele, com a sua ajuda. S. Paulo diz, por exemplo: «Nós não sabemos como rezar, é o Espírito Santo que vem em auxílio da nossa fragilidade, e grita dentro de nós, com suspiros inefáveis: “Abbá, Pai!”. Por isso, quando rezo, não sou eu que rezo sozinho, é o Espírito Santo que em mim Se une à minha fragilidade para chamar a Deus “Pai”».

Nas outras dimensões da nossa vida somos também uma consequência do Espírito Santo.
O Espírito Santo é a vida espiritual, é a vida de Cristo, é o Espírito de Cristo em cada um de nós que nos torna vivos, que nos torna cristãos.
Ser cristãos não é uma questão de partilhar uma cultura, uma tradição, um rito. Ser cristãos é sentir o coração que arde, é sentir que somos o templo do Espírito Santo, um lugar sagrado no meio do mundo. É sentir que este único e múltiplo Espírito, que nos faz convergir e nos projecta mais longe, se derramou não só sobre alguns, mas sobre cada um de nós. E assim, cada um de nós é uma expressão do Espírito Santo.

Escola Emiliana, Descida do Espírito Santo

Activemos o Espírito Santo em nós. Por vezes está presente nas nossas vidas, mas está desligado, como se não existisse. É importante que cada um de nós escute aquilo que lhe diz, porque fala, reforça, conforta, exorta, pacifica cada um de nós, porque é o Espírito do amor, é o Espírito do amor de Deus derramado nos nossos corações. Sentimos este amor dentro de nós.

O primeiro Pentecostes é muito belo, quando os discípulos se juntaram, todos aterrorizados. Perguntavam-se: «E agora, o vai acontecer? Temos os pés amarrados pelo medo, não sabemos nada, não podemos fazer nada, temos mais ansiedades que certezas, temos mais dúvidas que fé. O que vai acontecer agora?». O cristianismo é possível apenas porque o Espírito Santo desce. E quando o Espírito Santo desce sobre cada um deles, começaram a falar línguas. Podemos interpretá-lo desta maneira: o Espírito Santo faz-me falar uma língua nova. Não só uma outra língua, mas uma língua outra. E que língua é a do Espírito Santo?

É a língua dos seus dons, a língua do amor, a língua da alegria, a língua da fortaleza, que é uma língua universal; é a linguagem do bom conselho, da exortação, da protecção, do abraço, que é uma linguagem universal.
A língua do Espírito Santo não é como o italiano ou o francês ou o chinês, é uma língua universal que todos compreendem e todos têm a capacidade de falar.

Que o Espírito Santo possa vir sobre nós.
Peçamo-l’O do profundo dos nossos corações «Vem, vem! Vem à terra árida da minha vida, vem à minha solidão, vem à minha dúvida, vem ao meu silêncio, vem à minha fragilidade, vem.
Vem e torna-me o teu instrumento, torna-me o teu canal, torna-me o teu artesão, o teu apresentador».

Transformação pastoral

Papa Francisco, 2023

A assembleia sinodal em curso no Vaticano insere-se na dinâmica de mudança iniciada por São João XXIII, numa transformação essencialmente pastoral.

Não se trata apenas de mudar a moda, mas de uma mudança de crescimento e em favor da dignidade das pessoas. E aí é que está o progresso teológico, da teologia moral e de todas as ciências eclesiásticas, incluindo a interpretação das Escrituras, que têm progredido de acordo com o sentir da Igreja.

O núcleo da mudança é essencialmente pastoral, sem negar o essencial da Igreja. Quaisquer mudanças, na Igreja, devem acontecer sempre em harmonia, porque as rupturas não são boas.

Gosto de usar a imagem da árvore e as suas raízes: a raiz recebe toda a humidade da terra e puxa-a para cima através do tronco. Quando alguém se separa disso, acaba seco e sem tradição. Tradição no bom sentido da palavra.

O progresso é necessário e a Igreja deve inserir estas novidades com uma reflexão muito séria, do ponto de vista humano. Tem de estar muito atenta, com os seus pensadores em diálogo. Devemos dialogar com todo o progresso científico.
A Igreja deve dialogar com todos, mas a partir da sua identidade, não a partir de uma identidade emprestada.

Ao longo da história, a Igreja tem mudado em muitas coisas, na forma de propor uma verdade que não muda. Ou seja, a revelação de Jesus Cristo não muda, o dogma da Igreja não muda, mas cresce, desenvolve-se.

Quem não está neste caminho é aquele que dá um passo atrás e se fecha em si mesmo. As mudanças na Igreja ocorrem neste fluxo de identidade, que tem de ir mudando à medida que os desafios se vão apresentando.
A consciência religiosa cresceu muito, é outra coisa, amadureceu, mas a forma de me expressar com Deus é sempre simples.

 

Arquivo de Folhas Informativas anteriores a 25.11.2018