Domingo VI da Páscoa (PDF)  TEXTO

Ruland Frueauf, Madonna

 

Mãe do silêncio, que conservas o mistério de Deus, liberta-nos da idolatria do presente, à qual se condena quem esquece.

Purifica os olhos dos Pastores com o colírio da memória: voltaremos ao vigor das origens, para uma Igreja orante e penitente.

Mãe da beleza, que floresce da fidelidade ao trabalho quotidiano, desperta-nos da inércia da indolência, da mesquinhez e do derrotismo.

Reveste os Pastores daquela compaixão que unifica e integra: descobriremos a alegria de uma Igreja serva, humilde e fraterna.

Mãe da ternura, que cobre de paciência e de misericórdia, ajuda-nos a dissipar a tristeza, a impaciência e a rigidez de quantos não conhecem a pertença. Intercede junto do teu Filho para que sejam ágeis as nossas mãos, os nossos pés e os nossos corações: edificaremos a Igreja com a verdade na caridade.

Mãe, seremos o Povo de Deus que peregrina rumo ao Reino. Amém!

Papa Francisco, Maio 2013

 

A nossa identidade e força é sermos amados por Deus

Papa Francisco, 15 de Maio de 2022

Luca Signorelli, Jesus distribui a comunhão

Esta verdade pede-nos uma conversão da ideia de santidade que frequentemente possuímos. Às vezes, insistindo muito sobre o nosso esforço para praticar boas obras, criamos um ideal de santidade demasiado fundado em nós mesmos, no heroísmo pessoal, na capacidade de renúncia, nos sacrifícios feitos para se conquistar um prémio. Às vezes temos uma visão demasiado pelagiana da vida, da santidade.

Deste modo fizemos da santidade uma meta inacessível, separamo-la da vida de todos os dias, em vez de a procurar e abraçar na existência quotidiana, no pó da estrada, nas aflições da vida concreta e – como dizia Teresa de Ávila às suas irmãs – «entre as panelas da cozinha». Ser discípulo de Jesus e caminhar pela via da santidade é, antes de mais nada, deixar-se transfigurar pela força do amor de Deus. Não esqueçamos o primado de Deus sobre o próprio eu, do Espírito sobre a carne, da graça sobre as obras.

Às vezes damos mais peso, mais importância ao próprio eu, à carne e às obras. Não está certo, mas há de ser a primazia de Deus sobre o eu, a primazia do Espírito sobre a carne, a primazia da graça sobre as obras.

O amor que recebemos do Senhor é a força que transforma a nossa vida: dilata-nos o coração e predispõe-nos a amar. Por isso – e passamos ao segundo ponto – Jesus diz «assim como Eu vos amei, amai-vos também vós uns aos outros.

Este assim como não é apenas um convite a imitar o amor de Jesus; mas significa que só podemos amar porque Ele nos amou, porque dá aos nossos corações o seu próprio Espírito, o Espírito de santidade, amor que nos cura e transforma. Por isso podemos decidir-nos a praticar gestos de amor em toda a situação e com cada irmão e irmã que encontramos, porque somos amados e temos a força de amar. Assim como sou amado, eu posso amar. Sempre, o amor que partilho está unido ao de Jesus por mim: «assim como». Assim como Ele me amou, assim também eu posso amar. A vida cristã é assim simples, tão simples! Nós tornamo-la mais complicada, com tantas coisas, mas é simples assim.

E que significa, concretamente, viver este amor? Antes de nos deixar este mandamento, Jesus lavou os pés aos discípulos; depois de o ter pronunciado, entregou-Se no madeiro da cruz. Amar significa isto: servir e dar a vida. Servir, isto é, não colocar os próprios interesses em primeiro lugar; desintoxicar-se dos venenos da ganância e da preeminência; combater o cancro da indiferença e o caruncho da auto-referencialidade, partilhar os carismas e os dons que Deus nos concedeu. Perguntando-nos o que fazemos em concreto pelos outros. Isto é amar: viver as tarefas de cada dia em espírito de serviço, com amor e sem alarde, sem nada reivindicar.

Primeiro servir, depois dar a vida. Aqui não se trata só de oferecer aos outros qualquer coisa, alguns bens próprios, mas dar-se a si mesmo. Gosto de perguntar às pessoas que me pedem conselho: «Diz-me uma coisa: tu dás esmola?» – «Sim, padre, eu dou esmola aos pobres» – «E quando dás esmola, tocas a mão da pessoa, ou deitas a esmola e fazes assim [esfrego as mãos uma na outra] para te limpares?». E elas coram: «Não, eu não toco». «Quando dás a esmola, fixas nos olhos a pessoa que ajudas, ou olhas para o outro lado?» – «Eu não olho».

Tocar e olhar, tocar e olhar a carne de Cristo que sofre nos nossos irmãos e irmãs. Isto é muito importante. Dar a vida é isto. A santidade não se faz de alguns gestos heróicos, mas de muito amor diário. «És uma consagrada ou um consagrado [hoje aqui há muitos]? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado [ou casada]? Sê santo [e santa], amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador[, uma mulher trabalhadora]? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos [e lutando pela justiça a favor dos teus companheiros, para que não fiquem sem trabalho, para que tenham sempre o salário justo]. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. [Diz-me:] estás investido em autoridade? [Aqui temos muitas pessoas que têm autoridade – pergunto-vos: estás investido em autoridade?] Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais» (cf. Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 14). Esta é a estrada da santidade: ver sempre Jesus nos outros.

Servir o Evangelho e os irmãos, oferecer a própria vida sem retribuição – fazê-lo em segredo: oferecer sem esperar retribuição –, sem buscar qualquer glória mundana, mas escondido humildemente como Jesus: a isto somos chamados também nós.

Os nossos companheiros de viagem, hoje canonizados, viveram assim a santidade: abraçando com entusiasmo a sua vocação – uns de sacerdote, outras de consagrada, e outros ainda de leigo –, gastaram-se pelo Evangelho, descobriram uma alegria sem par e tornaram-se reflexos luminosos do Senhor na História. Um santo ou uma santa é isto: um reflexo luminoso do Senhor na História.

Tentemos fazê-lo também nós: não está fechado o caminho da santidade, é universal, é uma chamada para todos nós, começa com o Baptismo, não está fechado o caminho. Tentemos também nós, porque cada um de nós é chamado à santidade, a uma santidade única e irrepetível. A santidade é sempre original, como dizia o Beato Carlos Acutis: não há santidade de fotocópia, a santidade é original, é a minha, a tua, a de cada um de nós. É única e irrepetível.

Sim, o Senhor tem um plano de amor para cada um, tem um sonho para a tua vida, para a minha vida, para a vida de cada um de nós. E que posso dizer-vos eu?
Levai-o para diante com alegria.

Vinde Espírito Santo

Luigi Verdi, In La realtà sa di panel

Ao Espírito que sopra como o vente leve e imprevisível dos anoiteceres de Primavera, peço que não me deixe que eu me engane ao viver o passado ou o futuro sem viver o hoje.

Peço ao Espírito para ser como o fogo que me aquece nos dias de Inverno, esse fogo que me impele a ser forte comigo e com a vida, de me fazer violência quando o desejo não se torna vontade, e quando não forço o sonho a tornar-se realidade.

Peço ao Espírito que me faça falar com amor, com aquela única linguagem que todos compreendem, amigos e não amigos, crianças e idosos, crentes e não.

Peço ao Espírito Santo a unidade nas nossas diversidades, porque só se estivermos unidos o mundo se desarmará; um Espírito que desça sobre todos e seja para todos, que congregue as pequenas labaredas espalhadas neste mundo.

Peço ao Espírito a coragem de romper as nossas atitudes de defesa, o nosso estar atrás dos muros, o nosso medo que escondemos por trás das leis e das normas.

Peço aquele espírito nascido do último respiro de Jesus na cruz, que beija o mundo e nos recorda quanto é difícil permitir a Deus que nos ame.

O Espírito cria cada dia, é novo cada dia. Não devemos temer o novo que vem ao nosso encontro; aquilo que verdadeiramente devemos temer é uma vida sem um sentido e que não dá mal-estar a ninguém, uma vida tranquilizante que deixou de ter vontade de lutar.

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