Domingo XII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
A Folha Informativa volta a sair em papel. Está disponível à saída da Igreja.
O projecto de Jesus, vivido com radicalidade e coerência, não é um projecto “simpático”, aclamado e aplaudido
por aqueles que mandam no mundo ou que “fazem” a opinião pública; mas é um projecto radical, questionante, provocante, que exige a vitória sobre o egoísmo, o comodismo, a instalação, a opressão, a injustiça…
A nossa época inventou formas de reduzir ao silêncio os discípulos: ridiculariza-os, desautoriza-os, calunia-os, corrompe-os, massacra-os com publicidade enganosa de valores efémeros…
Como a comunidade de Mateus, também nós andamos assustados, confusos, desorientados, interrogando-nos se vale a pena continuar a remar contra a maré. A todos nós, Jesus diz: “não temais”.
Dehonianos
Transmitir a Fé
Papa Francisco, Maio 2020
O Senhor revelou-Se como Salvador, como o único Filho de Deus; a todo Israel, ao povo, de modo mais minucioso especialmente aos apóstolos.
Mas antes de partir, quando apareceu aos Onze, disse-lhes: «Ide por todo o mundo, anunciai o evangelho a toda a criatura». É a missionariedade da fé.
A fé, ou é missionária ou não é fé. A fé não é algo só para mim, para que eu possa crescer na fé: esta é uma heresia gnóstica. A fé leva-nos sempre para fora de nós mesmos. A fé deve ser transmitida, oferecida, especialmente com o testemunho: «Ide, para que as pessoas possam ver como viveis» .
Um sacerdote europeu disse-me: “Há tanta incredulidade, tanto agnosticismo nas nossas cidades, porque os cristãos não têm fé. Se a tivessem, certamente transmiti-la-iam ao povo”.
Porque na origem há uma carência de convicção: “Sim, sou cristão, sou católico…”. Como se se tratasse de uma atitude social. No documento de identidade chamamo-nos assim ou assado… e “sou cristão” é um dado do documento de identidade. Isto não é fé! Trata-se de um aspecto cultural. A fé leva-nos necessariamente a sair, faz-nos doar: essencialmente, a fé deve ser transmitida. Não é quieta.
Uma vez, um estudante universitário perguntou-me: “Na universidade, tenho muitos companheiros ateus. O que devo dizer-lhes para os convencer?” – “Nada, amigo, nada! A última coisa que é preciso fazer é dizer algo. Começa a viver, e quando virem o teu testemunho, perguntar-te-ão: Por que vives assim?”.
A fé tem de ser transmitida: não para convencer, mas para oferecer um tesouro. “Está ali, vedes?”.
Como posso ter a certeza de que, ao sair de mim, serei frutuoso na transmissão da fé? «Anunciai o Evangelho a toda a criatura», fareis maravilhas. E o Senhor estará connosco até ao fim do mundo. Acompanhar-nos-á. Na transmissão da fé, o Senhor está sempre connosco. Na transmissão da ideologia haverá professores, mas quando tenho uma atitude de fé que deve ser transmitida, o Senhor acompanha-me.
Átrio dos gentios
Rui Martins, Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
Desde a sua inauguração, em Paris, a 24 e 25 de Março de 2011, o Átrio dos Gentios pôde desbravar muitos territórios, onde o debate entre “laicos” e católicos é considerado uma prioridade. Estes temas são os da liberdade, da responsabilidade social e do bem comum, da legalidade e da consciência, das belas-artes, da Criação e da transcendência. O seu terreno é o da verdade, onde se encontram e discutem ciência, filosofia e fé.
Os importantes acontecimentos organizados pelo Átrio desenvolvem-se em torno das colunas da cultura, abordando os grandes temas da existência humana e os principais desafios da sociedade, tendo sempre em conta a especificidade simbólica dos lugares onde decorrem os encontros.
Tal como a Praça de S. Pedro, também o Átrio tem a sua “colunata”, não com santos, mas com grandes pensadores cujas ideias e obras são centrais nos debates que se desenvolvem durante as numerosas iniciativas. Estas representam o caleidoscópio de uma cultura que, desde os tempos da antiga Grécia, nunca cessou de se interrogar sobre a relação entre a razão e a fé, “mythos” e “logos”.
Assim, no encontro de Bucareste falou-se de Cioran, “o místico sem fé”, e de Ionesco, “o agnóstico apaixonado pelos místicos”; em Marselha, de Camus, “o ateu que falava aos cristãos”, e de Ricoeur, “o cristão de expressão filosófica”; em Bolonha de Rosseau, “o cristão sem fé”, e em Buenos Aires de Borges, “o teólogo ateu”.
Também S. Francisco inspirou vários Átrios em Assis: sobre a sua “irmã nossa Mãe Terra”, derivado do Cântico das Criaturas, sobre a “paz” e sobre o “diálogo inter-religioso”, em referência ao seu encontro com o sultão, outro sobre “economia de comunhão”, inspirado na sua pobreza, e finalmente um sobre “humanidade”, evocando a sua capacidade de reconhecer o homem também no leproso.
Santo Agostinho e Pascal foram frequentemente consultados nos Átrios, tal como Erasmo e Dante, Nietzsche e Florenskij, Simone Weil e Maritain, Hannah Harendt e Etty Hillesum. A par de Cacciari, outros mestres vivos, como Marion, Kristeva e Bauman, dialogaram sob a ampla “colunata” do Átrio dos Gentios.
Foram igualmente criados dois Átrios especiais: um para os estudantes e outro para as crianças, cuja realização mais conhecida é a visita ao papa e ao Vaticano de meninas e meninos de regiões desfavorecidas, organizada anualmente, em parceria com escolas e a companhia ferroviária estatal italiana.
Génese e identidade
O Átrio dos Gentios é uma estrutura do Conselho Pontifício da Cultura constituída para favorecer o encontro e o diálogo entre crentes e não crentes.
A denominação tem um valor simbólico, referindo-se ao espaço que no antigo templo de Jerusalém era reservado aos não-judeus (os gentios). Enquanto escutavam os cantos e seguiam a liturgia do culto, podiam interrogar os mestres da Lei sobre o mistério e a transcendência, a religião e o Deus a eles “desconhecido”.
À distância de mais de dois mil anos o papa Bento XVI quis repropor a actualidade e a função daquele “espaço”, para que pessoas com diferentes culturas e experiências possam encontrar o sentido de uma autêntica fraternidade e as respostas às grandes perguntas do nosso tempo.
É significativo que a ideia tenha sido proposta num discurso à Cúria Romana (21 de Dezembro de 2009) após a sua viagem à República Checa, onde, apesar de a maior parte da população se declarar agnóstica, encontrou um vivo interesse em relação aos seus discursos.
«Penso que a Igreja deveria também hoje abrir uma espécie de “átrio dos gentios”, onde os homens pudessem de qualquer modo agarrar-se a Deus, sem o conhecer e antes de terem encontrado o acesso ao seu mistério, a cujo serviço está a vida interna da Igreja. Ao diálogo com as religiões deve acrescentar-se hoje sobretudo o diálogo com aquelas pessoas para quem a religião é uma realidade estranha, para quem Deus é desconhecido, e contudo a sua vontade não é permanecer simplesmente sem Deus, mas aproximar-se d’Ele pelo menos como Desconhecido», afirmou então Bento XVI.
O acto de nascimento do Átrio dos Gentios remonta a 2011, quando em Paris foi organizado o primeiro grande evento na sede da UNESCO, na Sorbonne e na Academia Francesa. Novo estímulo foi acrescentado em Março de 2013, com o pensamento do papa Francisco, que também à luz das suas origens e da sua cultura sublinhou o valor do diálogo, inclusive «com quantos não se reconhecendo parte de alguma tradição religiosa, procuram sinceramente a verdade, a bondade e a beleza que para nós encontram a máxima expressão e a sua fonte em Deus».
Ao longo deste percurso, o Átrio dos Gentios tem sido o desejo profundo da procura «que permite revelar as razões profundas da esperança do crente e da expectativa do agnóstico», como escreveu o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura.
Hoje o Átrio dos Gentios tornou-se uma realidade, uma nova “fronteira” onde adultos, estudantes, crianças e personalidades comprometidas nos âmbitos da cultura e da fé creem que do diálogo possa nascer uma comunidade mais acolhedora e fraterna.