Domingo da Ascensão (PDF) TEXTO

Subiu aos Céus

Hans Süss von Kulmbach, Ascensão

A Ascensão não indica a ausência de Jesus, mas diz-nos que Ele está vivo no meio de nós de modo novo; já não se encontra num lugar específico do mundo, como era antes da Ascensão; agora está no Senhorio de Deus, presente em cada espaço e tempo, próximo de cada um de nós.

Na nossa vida nunca estamos sozinhos: temos este advogado que nos espera e nos defende.

O Senhor crucificado e ressuscitado orienta-nos; juntamente connosco existem muitos irmãos e irmãs que, no silêncio e no escondimento, na sua vida de família e de trabalho, nos seus problemas e dificuldades, nas suas alegrias e esperanças, vivem todos os dias a fé e, juntamente connosco, anunciam ao mundo o Senhorio do amor de Deus, em Jesus Cristo ressuscitado que subiu ao Céu.

Papa Francisco, 2013

 

 

 

Ascensão: Tão longe e tão próximo

Ermes Ronchi, in Avvenire, 2017

Dosso Dossi, Ascensão

O último encontro de Jesus com os seus é sobre um monte na Galileia, a terra onde tudo tinha começado.

Os montes são como dedos apontados para o infinito, a terra que se adentra no céu, banquinho para os pés de Deus, morada da revelação da luz: sobre os montes, com efeito, pousa o primeiro raio de sol e se demora o último.

Quando O viram, prostraram-se. Todavia duvidaram. Jesus deixa a Terra com um balanço deficitário: só ficaram 11 homens amedrontados e confusos e um pequeno núcleo de mulheres tenazes e corajosas. Seguiram-no durante três anos pelas estradas da Palestina, não compreenderam muito, mas amaram-n’O muito, e foram todos ao encontro na última montanha.

E esta é a única garantia de que Jesus precisa. Agora pode voltar ao Pai, seguro de ser amado, ainda que nem de todo compreendido, e sabe que nenhum deles O esquecerá.

Jesus realiza um acto de amor, ilógica confiança em homens que continuam a duvidar, não fica a explicar e a voltar a explicar. O Evangelho e o mundo novo, que sonharam juntos, confia-os à sua fragilidade, e não à inteligência dos primeiros da aula: é a lei do grão de mostarda, da pitada de sal, dos pequenos que podem ser fermento e talvez até fogo, para contagiar de Evangelho e de nascimentos aqueles que encontrarem.

Há uma passagem surpreendente nas palavras de Jesus: a Mim foi dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois. Este “pois” é belíssimo: para Jesus é óbvio que cada coisa que é sua é também nossa. Tudo é para nós: a sua vida, a sua morte, a sua força. Ide, pois. Fazei discípulos todos os povos… Com que propósito? Alistar devotos, fazer crescer o movimento com novos adeptos? Não, mas para um contágio, uma epidemia divina a derramar sobre a Terra. Ide, perfumai de céu a vida que encontrardes, ensinai a arte de viver, assim como vistes fazer a Mim, mostrai-lhes o quanto são belos e grandes.

E depois as últimas palavras, o seu testamento: Eu estou convosco, todos os dias, até ao fim do mundo; convosco, sempre, até ao fim.

É destas palavras que compreendemos o que é a ascensão. Não foi para longe ou para o alto, para qualquer canto remoto do cosmo, mas Jesus fez-se mais próximo do que antes. Se antes estava junto dos discípulos, agora estará dentro deles. Não foi para além das nuvens mas para além das formas. Ascendeu ao profundo das coisas, no íntimo do criado e das criaturas, e de dentro impulsiona como força ascensional para uma vida mais luminosa.

Esse Jesus que tomou para si a cruz para me oferecer em cada meu sofrer centelhas de ressurreição, para abrir brechas nos muros das minhas prisões, é Ele o meu Deus perito em evasões!

 

Maria e o Mistério da Ascensão do Senhor

Natalino Ueda, in Canção Nova, 2017

Ascensão de Jesus Cristo, Evangeliário de Rabbula

Na solenidade da Ascensão, quarenta dias após o Domingo da Ressurreição, é significativo que meditemos sobre a presença discreta da Santíssima Virgem Maria. A sua presença foi importante não somente para os discípulos de Cristo que estavam naquele momento, mas também para todos os membros da Igreja de todos os tempos.

A Virgem Maria foi testemunha da entrada do Filho de Deus neste mundo pelo Mistério da Encarnação em seu ventre. Da Virgem de Nazaré, o Verbo eterno recebeu a carne que agora é levada à glória do Reino dos Céus e é introduzida para sempre no seio da Santíssima Trindade.
Maria Santíssima aparece como testemunha da humanidade de Cristo, que é glorificada.

Da mesma forma que a Virgem de Nazaré sentiu o Filho do Altíssimo se encarnar em seu seio, ela também foi digna de vê-l’O subir para a Sua glória aquele Corpo que passou por tantos sofrimentos. Desde modo, encerra-se a presença visível do seu Filho Jesus Cristo na Terra. Mas, o Verbo de Deus encarnado faz-se presente visivelmente nos Sacramentos da Igreja.

Nas cartas apostólicas, ficamos intrigados com a ausência de passagens que mencionem a Mãe do Senhor. Depois da narrativa dos Actos dos Apóstolos (cf. At 1, 14), não encontramos nenhuma menção a respeito da Mãe de Jesus. Na Carta aos Romanos, encontramos certa Maria, mas esta não é a Mãe do Senhor (cf. Rm 16, 6). A Virgem Maria desaparece no mais profundo silêncio. “Depois de Pentecostes, é como se ela tivesse entrado para a clausura”.

A vida de Maria “está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3, 3). O silêncio de Nossa Senhora inaugura um novo tempo na Igreja. “Maria inaugurou na Igreja aquela segunda alma, ou vocação, que é a alma escondida ou orante, ao lado da alma apostólica ou activa”.

Depois do Pentecostes, os Apóstolos começam a pregar, depois partem em missão, fundando e dirigindo igrejas. A respeito de Nossa Senhora nada se fala, pois ela permanece em oração unida com as mulheres no Cenáculo, mostrando que na Igreja a actividade, mesmo pelo Reino, não é tudo, sendo indispensáveis as almas orantes que a sustentam. Maria é o protótipo desta Igreja orante.

O ícone da Ascensão de Jesus Cristo ao Céu fixa o momento da ida do Senhor à glória celeste, mas também nos mostra qual é o carisma e o lugar de Maria Santíssima no tempo da Igreja. A Virgem está de pé, com os braços abertos em atitude orante, isolada do restante da cena pela figura dos dois anjos em vestes brancas. Ao redor dela, os Apóstolos estão com um pé ou uma mão levantados, em movimento, representando a Igreja activa, que está em missão, que fala e age. Maria está imóvel, debaixo de Jesus, no ponto exato de onde ele subiu, quase como para manter viva a sua memória e a sua espera.

 

 

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