Domingo IV da Páscoa ou do Bom Pastor (PDF) TEXTO
Não são os meios verbais nem as técnicas de comunicação que dão conteúdo e força à profecia. Profetas há que salvaram e salvam muita gente sem saber falar ou escrever; falaram e escreveram palavras de vida.
A profecia é gratuidade e a sua primeira expressão é reconhecer que a vocação recebida é toda ela dom, não é alguma coisa que nós mesmos fabricámos.
É excedência, e aquele que foi chamado não é o dono da voz. A única palavra de que o profeta precisa é «aqui estou».
A perceção subjetiva (e por vezes objetiva) da própria incapacidade para realizar a tarefa a que se é chamado é o primeiro sinal de autenticidade de uma vocação.
Duvidar da própria voz é essencial para acreditar na verdade da Voz que nos chama.
Sem dor, os abraços, escutas, fraternidades, poderá fazer-se um pouco de filantropia ou lançar-se uma campanha mediática. Mas verdadeiras libertações nascem de um grito, de uma escuta, de uma dor e de um «aqui estou».
Luigino Bruni, 2015
A mansidão e ternura do Bom Pastor
Papa Francisco, maio de 2020
Quando há um bom pastor que leva em frente, há o rebanho que vai em frente.
O bom pastor ouve o rebanho, guia o rebanho, cura o rebanho.
E o rebanho sabe distinguir os pastores, não erra: o rebanho confia no bom pastor, confia em Jesus.
Só o pastor que se assemelha a Jesus dá confiança ao rebanho, porque Ele é a porta.
O estilo de Jesus deve ser o estilo do pastor, não há outro.
Ele era manso.
Um dos sinais do bom Pastor é a mansidão.
O bom pastor é manso. Um pastor que não é manso não é um bom pastor.
Ele tem algo escondido, porque a mansidão se mostra como é, sem se defender.
Pelo contrário, o pastor é terno, tem essa ternura da proximidade, conhece todas as ovelhas pelo nome e cuida de cada uma como se fosse a única, a ponto que, ao chegar a casa depois de um dia de trabalho, cansado, percebe que lhe falta uma, sai para trabalhar outra vez para a procurar e [encontrá-la] leva-a consigo, carrega-a sobre os ombros.
Este é o bom pastor, este é Jesus, que nos acompanha a todos no caminho da vida.
E esta ideia do pastor, esta ideia do rebanho e das ovelhas, é uma ideia pascal.
A Igreja, na primeira semana da Páscoa, canta aquele lindo hino para os recém-batizados:
“Estes são os novos cordeiros”.
É uma ideia de comunidade, de ternura, de bondade, de mansidão.
É a Igreja que Jesus quer, e Ele salvaguarda esta Igreja.
Este é um domingo bonito, é um domingo de paz, é um domingo de ternura, de mansidão, porque o nosso Pastor cuida de nós.
«O Senhor é meu pastor, nada me faltará».
Chamados a semear a esperança e a construir a paz
Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, 2024
O Dia Mundial de Oração pelas Vocações convida-nos, cada ano, a considerar o precioso dom da chamada que o Senhor dirige a cada um de nós, seu povo fiel em caminho, pois dá-nos a possibilidade de tomar parte no seu projeto de amor e encarnar a beleza do Evangelho nos diferentes estados de vida.
A escuta da chamada divina, longe de ser um dever imposto de fora, é antes o modo mais seguro que temos de alimentar o desejo de felicidade que trazemos no nosso íntimo: a nossa vida realiza-se e torna-se plena quando descobrimos quem somos, as qualidades que temos e o campo onde é possível pô-las a render, quando descobrimos que estrada podemos percorrer para nos tornarmos sinal e instrumento de amor, acolhimento, beleza e paz nos contextos onde vivemos.
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Assim, este Dia proporciona-nos sempre uma boa ocasião para recordar, com gratidão, diante do Senhor o compromisso fiel, quotidiano e muitas vezes escondido daqueles que abraçaram uma vocação que envolve toda a sua vida. Penso nas mães e nos pais que não olham primeiro para si mesmos, nem seguem a tendência dum estilo superficial, mas organizam a sua existência cuidando das relações com amor e gratuidade, abrindo-se ao dom da vida e pondo-se ao serviço dos filhos e seu crescimento.
Penso em todos aqueles que realizam, dedicadamente e em espírito de colaboração, o seu trabalho; naqueles que, em diferentes campos e de vários modos, se empenham por construir um mundo mais justo, uma economia mais solidária, uma política mais equitativa, uma sociedade mais humana, isto é, em todos os homens e mulheres de boa vontade que se dedicam ao bem comum.
Penso nas pessoas consagradas, que oferecem a sua existência ao Senhor quer no silêncio da oração quer na atividade apostólica, às vezes na linha de vanguarda e sem poupar energias, servindo com criatividade o seu carisma e colocando-o à disposição de quantos encontram.
E penso naqueles que acolheram a chamada ao sacerdócio ordenado, se dedicam ao anúncio do Evangelho, repartem a sua vida – juntamente com o Pão Eucarístico – pelos irmãos, semeiam esperança e mostram a todos a beleza do Reino de Deus.
Deixai-vos fascinar por Jesus, dirigi-Lhe as vossas perguntas importantes, através das páginas do Evangelho, deixai-vos desinquietar pela sua presença que sempre nos coloca, de forma benfazeja, em crise. Ele respeita mais do que ninguém a nossa liberdade, não Se impõe mas propõe-Se: dai-Lhe espaço e encontrareis a vossa felicidade no seu seguimento e, se vo-la pedir, na entrega total a Ele.
Não somos ilhas fechadas em si mesmas, mas partes do todo. Por isso, o Dia Mundial de Oração pelas Vocações traz gravada a marca da sinodalidade: há muitos carismas e somos chamados a escutar-nos reciprocamente e a caminhar juntos para os descobrir discernindo aquilo a que nos chama o Espírito para o bem de todos.
Além disso, no momento histórico presente, o caminho comum conduz-nos para o Ano Jubilar de 2025. Caminhamos como peregrinos de esperança rumo ao Ano Santo, para, na descoberta da própria vocação e pondo em relação os diversos dons do Espírito, podermos ser no mundo portadores e testemunhas do sonho de Jesus: formar uma só família, unida no amor de Deus e interligada pelo vínculo da caridade, da partilha e da fraternidade.
Este Dia é dedicado de modo particular à oração para implorar do Pai o dom de santas vocações para a edificação do seu Reino