XII Domingo do Tempo Comum (PDF)  TEXTO

 

Sorolla, Na praia

Quem é que não conhece o mar das calmarias e das tempestades?

Neste Domingo de Verão muitos cristãos poderão, contemplando o espectáculo do Oceano, repassar no seu coração o Evangelho ouvido na Assembleia dominical.

Oxalá que, fazendo férias, reencontrando a força e a alegria de viver no contacto com a natureza e no recreio do convívio familiar e amigo, não voltem as costas ao Criador da Natureza e Senhor da Vida.

Aqui estamos. Com Jesus, ancorados nEle.

Nuno Westwood, Celebração Litúrgica

Tempo de reajustar a rota da vida

Papa Francisco, 27 de Março de 2020

Rembrandt, Cristo na tempestade

À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento.

E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer», assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos. (…)Procuremos compreender. Em que consiste esta falta de fé dos discípulos, que se contrapõe à confiança de Jesus?

A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projectos, os nossos hábitos e prioridades; (…) e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos.
Avançámos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-te: “Acorda, Senhor!”

”Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (…)Chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros.
Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio.

O Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e activar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar. (…) Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós.

Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora actual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade.

Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar..

 

Preparar as férias

Salvatore Mazza/Avvenire

Beatrix Whistler, Rapariga a descansar no sofá

Não uma coisa de ricos, nem um tempo de ausência – como indica a etimologia da palavra em francês, “vacances”, ou italiano, “vacanze” –, mas como explicou o Papa Francisco a 6 de Agosto de 2017, algo de importante para todos, porque todos precisam de um tempo útil para retemperar as forças do corpo e do espírito, aprofundando o caminho espiritual.

A subida dos discípulos ao monte Tabor induz-nos a reflectir na importância de afastar-se das coisas mundanas para realizar um caminho para o alto e contemplar Jesus.
Trata-se de nos dispormos à escuta atenta e orante do Cristo Filho amado do Pai, buscando momentos de oração que permitam o acolhimento dócil e feliz da Palavra de Deus.

Somos chamados a redescobrir o silêncio pacificador e regenerador da meditação do Evangelho, da Bíblia, que conduz a uma vida rica de beleza, de esplendor e de alegria tomados pelo ritmo cada vez mais veloz da vida quotidiana, temos todos necessidade de vez em quando de fazer uma pausa e de nos repousarmos, concedendo-nos um pouco mais de tempo para reflectir e orar.

Apresentando-nos o Senhor que abençoa o dia dedicado por excelência ao repouso, a Bíblia quer fazer notar a necessidade que o ser humano tem de dedicar uma parte do seu tempo à experiência da liberdade das coisas, para reentrar em si mesmo e cultivar o sentido da sua grandeza e dignidade enquanto imagem de Deus.

As férias, portanto, não devem ser vistas como uma simples evasão, que empobrece e desumaniza, mas como momentos qualificantes da própria existência da pessoa.

Interrompendo os ritmos quotidianos, que afadigam e esgotam fisicamente e espiritualmente, a pessoa tem a possibilidade de recuperar os aspectos mais profundos do viver e do agir.

Nos momentos de repouso, e, em particular, durante as férias, o ser humano é convidado a tomar consciência do facto de que o trabalho é um meio, e não a meta da vida, e tem a possibilidade de descobrir a beleza do silêncio como espaço no qual se reencontrar a si mesmo para se abrir ao reconhecimento e à oração.
É-lhe espontâneo, então, considerar com um olhar diferente a sua existência e a dos outros: livre das prementes ocupações diárias, ele tem maneira de redescobrir a sua dimensão contemplativa, reconhecendo os vestígios de Deus na natureza, e sobretudo nos outros seres humanos

 

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