Domingo II do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Últimas palavras de Maria no Evangelho são as primeiras de cada cristão
Papa Francisco, Junho 2016
As palavras que Maria dirige aos servos coroam o quadro esponsal de Caná: «Fazei o que Ele vos disser».
É curioso: são as suas últimas palavras narradas pelos Evangelhos. São a herança que nos entregou a todos.
Também hoje Nossa Senhora nos diz: «Fazei o que Ele vos disser».
Trata-se de uma expressão que evoca a fórmula de fé utilizada pelo povo de Israel no Sinai em resposta às promessas da aliança: «Faremos tudo o que o Senhor disser!».
E com efeito, em Caná, os servos obedeceram. «Jesus ordena-lhes: Enchei as ânforas de água. Eles encheram-nas até cima. Tirai agora, disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E levaram».
Nestas núpcias, foi deveras estabelecida uma Nova Aliança e aos servos do Senhor, isto é, a toda a Igreja, foi confiada a nova missão: «Fazei o que Ele vos disser!».
Servir o Senhor significa ouvir e praticar a sua Palavra. Foi a recomendação simples mas essencial da Mãe de Jesus e é o programa de vida do cristão. Para cada um de nós, beber da ânfora equivale a confiar-nos à Palavra de Deus para sentir a sua eficácia na vida.
Então, juntamente com o chefe dos serventes que experimentou a água que se transformou em vinho, que também nós possamos exclamar: «Guardaste o vinho melhor até agora». Sim, o Senhor continua a reservar aquele vinho bom para a nossa salvação, assim como continua a brotar do lado trespassado do Senhor.
As necessidades dos nossos irmãos
Escrivá de Balaguer, É Cristo que passa
Não é possível mantermos uma relação filial com Maria e pensarmos apenas em nós mesmos, nos nossos problemas.
Não podemos permanecer em relação intima com a Virgem e ter problemas pessoais carregados de egoísmo. Maria leva a Jesus, e Jesus é primogénito entre muitos irmãos.
Conhecer Jesus é, portanto, compreender que não podemos ter outro sentido para a nossa vida a não ser o da entrega ao serviço do próximo. Um cristão não pode deter-se apenas nos seus problemas pessoais, mas deve viver de olhos postos na Igreja Universal, pensando na salvação de todas as almas.
Os problemas dos outros devem ser problemas nossos. A fraternidade cristã deve estar tão arreigada no fundo da alma, que nenhuma pessoa nos seja indiferente.
Maria, Mãe de Jesus – a quem Ela criou, educou e acompanhou durante a sua vida terrena, e com quem está agora nos céus -, ajudar-nos-á a reconhecer Jesus que passa ao nosso lado, que Se nos torna presente nas necessidades dos nossos irmãos, os homens.
Quando pouco é muito e o inútil se torna essencial
Ermes Ronchi, In Tu és Beleza, ed. Paulinas
O milagre do vinho em Cana, na sua rica simbologia, revela um Deus atento ao gratuito, que alinha com o vinho, com algo que não é vital como o pão, não necessário excepto à festa e à qualidade da vida.
Este Deus não é o vértice explicativo do cosmos, a resposta a todas as nossas perguntas, mas é a profundidade que revela à sua volta outras profundidades, incremento da vida, crescimento de humano, estímulo para a criatividade, amor para a dádiva gratuita que engendra alegria.
Sem dúvida, Deus é igualmente resposta, legislador, vértice da pirâmide da existência. Tudo isto é importante, mas esquecemos que Deus é também gratuito – como o perfume de Betânia, como o vinho de Caná -, sob o signo da festa, do banquete, da amizade, do inútil e amado perfume, e que as coisas gratuitas – como o amor, a amizade, a beleza – são também as mais necessárias para bem viver.