IV Domingo do Advento (PDF) TEXTO
O “estremecimento” de alegria de João Baptista no seio de Isabel é o sinal de que o mundo espera com ânsia uma proposta verdadeiramente libertadora. Nós, os cristãos, somos verdadeiramente o veículo desta mensagem?
A proposta libertadora de Deus para os homens alcança o mundo através da fragilidade de uma mulher que aceita dizer “sim” a Deus. É necessário ter consciência de que é através dos nossos limites e da nossa fragilidade que Deus alcança os homens e propõe o seu projecto ao mundo.
Maria parte ao encontro de Isabel e fica com ela, solidária com ela, até ao nascimento de João. Temos consciência de que acolher Jesus é estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades?
Dehonianos
A lição do Magnificat
Papa Francisco, 2017, Mensagem para as Jornadas Mundiais da Juventude
Maria, depois de ter acolhido o anúncio do anjo respondendo «sim» à vocação de Se tornar mãe do Salvador, levanta-Se e vai, apressadamente, visitar a prima Isabel, que está no sexto mês de gravidez (cf. 1, 36.39). Maria é muito jovem; aquilo que Lhe foi anunciado é um dom imenso, mas inclui também desafios muito grandes; o Senhor garantiu-Lhe a sua presença e o seu apoio, mas há ainda muitas coisas obscuras na sua mente e no seu coração.
No entanto, Maria não Se fecha em casa, não Se deixa paralisar pelo medo ou o orgulho. Vendo que servia uma mão à sua prima idosa, Ela não perde tempo e põe-Se imediatamente a caminho. Certamente as jornadas de viagem ajudaram-Na a meditar sobre o acontecimento maravilhoso em que estava envolvida.
O encontro entre as duas mulheres, a jovem e a idosa, é repleto da presença do Espírito Santo e cheio de alegria e maravilha (cf. Lc 1, 40-45). As duas mães, bem como os filhos que trazem no ventre, quase dançam de felicidade. (…) um dos grandes dons recebidos pela Virgem foi o dom da fé. Acreditar em Deus é um dom inestimável, mas requer também ser acolhido. (…)
Podemos definir revolucionária esta oração de Maria (Magnificat): o cântico duma jovem cheia de fé, consciente dos seus limites mas confiante na misericórdia divina. A fé é o coração de toda a história de Maria. O seu cântico ajuda-nos a compreender a misericórdia do Senhor como motor da história, tanto a história pessoal de cada um de nós como a da humanidade inteira.
Quando Deus toca o coração dum jovem, duma jovem, estes tornam-se capazes de acções verdadeiramente grandiosas. As «maravilhas» que o Todo-poderoso fez na existência de Maria falam-nos também da viagem da nossa vida, que não é um vagar sem sentido, mas uma peregrinação que, não obstante todas as suas incertezas e tribulações, pode encontrar em Deus a sua plenitude. (…)Quando o Senhor nos chama, não Se detém naquilo que somos ou no que fizemos. Pelo contrário, no momento em que nos chama, Ele está a ver tudo aquilo que poderemos fazer, todo o amor que somos capazes de desencadear. Como a jovem Maria, podeis fazer com que a vossa vida se torne instrumento para melhorar o mundo. Jesus chama-vos a deixar a vossa marca na vida, uma marca que determine a história, a vossa história e a história de muitos.
A nossa história pessoal insere-se numa longa esteira, no caminho comunitário dos séculos que nos precederam. Como Maria, pertencemos a um povo. E a história da Igreja ensina-nos que, mesmo quando ela tem de atravessar mares borrascosos, a mão de Deus guia-a, fá-la superar momentos difíceis. A Igreja traz consigo uma longa tradição, que se transmite de geração em geração, enriquecendo-se ao mesmo tempo com a experiência de cada indivíduo. Fazer memória do passado é útil também para acolher as intervenções inéditas que Deus quer realizar em nós e através de nós. E ajuda a abrir-nos para sermos escolhidos como seus instrumentos, colaboradores dos seus projectos salvíficos. Também vós, jovens, podereis fazer maravilhas, assumir responsabilidades enormes, se reconhecerdes a acção misericordiosa e omnipotente de Deus na vossa vida. (…)
Como é que «salvais» na vossa memória os acontecimentos, as experiências da vossa vida? (…) A alguns, particularmente feridos pelas circunstâncias da vida, poderia vir a vontade de valer-se do direito ao esquecimento. Mas queria lembrar-vos que não há santo sem passado, nem pecador sem futuro. Com o seu amor, Jesus pode curar os nossos corações, transformando as nossas feridas em verdadeiras pérolas. O Senhor pode manifestar a sua força através das nossas fraquezas. Tarefa difícil, mas necessária, é descobrir o fio condutor do amor de Deus que une toda a nossa existência.
Nestes nossos tempos, há necessidade de recuperar a capacidade de reflectir sobre a própria vida e projectá-la para o futuro. (…) Quantas (recordações) são significativas para os nossos corações e ajudam a dar um sentido à nossa existência?
Diz-se, de Maria, que guardava todas as coisas, meditando-as no seu coração.
No fim de cada dia, podemos deter-nos alguns minutos a lembrar os momentos belos, os desafios, o que correu bem e o que correu mal. Assim, diante de Deus e de nós mesmos, podemos manifestar os sentimentos de gratidão, arrependimento e entrega, inclusivamente anotando-os num caderno, uma espécie de diário espiritual. Isto significa rezar na vida, com a vida e sobre a vida, e ajudar-vos-á certamente a perceber melhor as maravilhas que o Senhor faz em favor de cada um de vós.
Ao ler o Magnificat, damo-nos conta do grande conhecimento que Maria tinha da Palavra de Deus. A jovem mãe de Jesus conhecia bem as orações do seu povo. Maria reúne o património de fé do seu povo e recompõe-no num cântico todo seu. (…) Daí a importância de conhecer bem a Bíblia, lendo os acontecimentos diários à luz daquilo que o Senhor vos diz nas Sagradas Escrituras. Na oração e na leitura orante da Bíblia, Jesus abrasará os vossos corações, iluminará os vossos passos, mesmo nos momentos sombrios da vossa existência. Na dinâmica da vida, as súplicas de hoje tornar-se-ão motivos de agradecimento amanhã.
Saber fazer memória do passado não significa ser nostálgicos ou ficar presos a um período determinado da história, mas saber reconhecer as próprias origens, para voltar sempre ao essencial e lançar-se com fidelidade criativa na construção de tempos novos. Seria um mal e não beneficiaria ninguém cultivar uma memória paralisante, que levasse a fazer sempre as mesmas coisas da mesma maneira. É um dom do céu poder ver que muitos de vós, com as vossas dúvidas, sonhos e perguntas, vos opondes àqueles que dizem que as coisas não podem ser diferentes.
Uma sociedade que valoriza apenas o presente, tende também a desvalorizar tudo aquilo que se herda do passado, como, por exemplo, as instituições do matrimónio, da vida consagrada, da missão sacerdotal. Estas acabam por ser vistas como sem sentido, como formas ultrapassadas. (…)Deus veio ampliar os horizontes da nossa vida, em todas as direcções. Ele ajuda-nos a dar o devido valor ao passado, para melhor projectar um futuro de felicidade: mas isto só é possível, se se viverem experiências autênticas de amor, que se concretizam na descoberta da vocação do Senhor e na adesão a ela.
E isto é a única coisa que nos torna verdadeiramente felizes.
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