Domingo XXXIII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Em tudo ser fiel

Fra Angelico, Anunciação
Converter-se significa não se fechar na procura do próprio sucesso, do próprio prestígio, da própria posição, mas fazer que em cada dia, nas pequenas coisas, a verdade, a fé em Deus e o amor se tornem a coisa mais importante.
As provas a que a sociedade atual submete o cristão são muitas e atingem a vida pessoal e social.
Não é fácil ser fiel ao matrimónio cristão, praticar a misericórdia na vida quotidiana, deixar espaço à oração e ao silêncio interior.
Bento XVI. 2013
A pureza de intenção
São Francisco de Sales, Tratado do amor de Deus

Henryk Siemiradzki, Cristo com Marta e Maria
Nosso Senhor, segundo dizem os antigos, tinha o costume de dizer aos seus: Sede bons negociantes.
Quando uma moeda não é de ouro de lei, ou, não tendo peso, quando não tem a marca do ouro, rejeitamo-la por não ser aceitável. Uma obra de boa espécie, se não estiver ornada de caridade, se a intenção não for piedosa, não será recebida entre as obras boas. Se eu jejuo, mas o faço para poupar, o meu jejum não será de boa espécie; se for por temperança, mas tiver um pecado mortal na alma, faltará peso a esta obra, porque é a caridade que dá peso a tudo o que fazemos; se for apenas por conveniência e para me acomodar aos meus companheiros, esta obra não traz a marca de uma intenção reta. Se, porém, jejuar por temperança, e estiver na graça de Deus, e tiver a intenção de agradar a sua Divina Majestade com essa temperança, a obra será moeda boa, própria para aumentar em mim o tesouro da caridade.
Fazer excelentemente as ações pequenas é fazê-las com grande pureza de intenção e uma grande vontade de agradar a Deus; essas obras santificam-nos enormemente. Há pessoas que comem muito e estão sempre magras e extenuadas, porque não têm boa capacidade digestiva; e há outras que comem pouco, mas estão fortes e vigorosas, porque têm um estômago saudável.
Da mesma maneira, há almas que fazem muitas obras boas e crescem muito pouco na caridade, porque as fazem com frieza ou com preguiça, ou mais pelo instinto e a inclinação da natureza do que por inspiração divina ou por fervor celeste; pelo contrário, há quem faça muito pouca coisa, mas com uma vontade e uma intenção tão santas que faz um progresso extremo no amor: estas almas têm poucos talentos, mas gerem-nos com tal fidelidade que o Senhor as recompensa grandemente.
Pequenina e santa
Papa Francisco, 2014
Deus é o Senhor da história e também da paciência. Ele caminha connosco: por isso, o cristão é chamado a não ter medo das coisas grandes e a prestar atenção também às coisas pequenas.
Deus fez as coisas – todas – e deixou que fossem em frente com as leis internas, interiores, que ele deu a cada um, para que se desenvolvessem, para que chegassem à plenitude. Portanto, o Senhor deu autonomia às coisas do universo, mas não independência. E assim a criação foi em frente durante séculos e séculos, até quando chegou à forma como é hoje.
No que diz respeito ao homem o discurso muda. Quando no sexto dia daquela narração chega a criação do homem, Deus concede outra autonomia, um pouco diferente, mas não independente: uma autonomia que é a liberdade. E diz ao homem para ir em frente na história: fá-lo o responsável da criação, também para que domine a criação, para que a leve em frente e chegue deste modo à plenitude dos tempos. A plenitude dos tempos é o que Ele tinha no coração: a chegada do seu Filho.
Segundo S. Paulo, Deus predestinou-nos, todos, para ser conformes com a imagem do Filho. E este é o caminho da humanidade, é o caminho do homem: Deus queria que nós fôssemos como o seu Filho e que o seu Filho fosse como nós.
Assim a história progrediu, como é evidenciado também pelo trecho do Evangelho de Mateus, que apresenta a genealogia de Jesus: «Este gerou aquele; este gerou aquele, e assim por diante… Mas é a história. E nesta lista há santos e também pecadores; mas a história avança porque Deus quis que os homens fossem livres. Todavia, no dia em que o homem usou mal a sua liberdade, Deus expulsou-o do paraíso. A Bíblia diz-nos que Ele fez uma promessa e o homem saiu do paraíso com esperança: pecador, mas com esperança.
Esta lista da história leva em frente os problemas, as guerras, a inimizades, os pecados, mas também a esperança. Não percorrem sozinhos o seu caminho: Deus caminha com eles. Porque Deus fez uma opção: fez a opção para o tempo, não para o momento. É o Deus do tempo, é o Deus da história, é o Deus que caminha com os seus filhos até à plenitude dos tempos, ou seja, quando o seu Filho se faz homem.
Esta narração um pouco repetitiva tem em si esta riqueza: Deus caminha com os justos e os pecadores. E se o cristão se reconhecer pecador, sabe que Deus caminha também com ele, com todos, para chegar ao encontro definitivo do homem com Ele. Aliás, o Evangelho, que há séculos narra esta história, termina em algo pequeno, uma pequena aldeia, com a história de José e Maria: ela ficou grávida por obra do Espírito Santo. Por conseguinte, o Deus da grande história está também na pequena história, ali, porque quer caminhar com todos.
Na Summa theologiae São Tomás pronuncia: Não ter medo das coisas grandes, mas também ter em conta as pequenas. Porque Deus está nas coisas grandes, mas também nas nossas coisas pequeninas.
Podemos olhar para Nossa Senhora, pequena, santa, sem pecado, pura, escolhida para se tornar a mãe de Deus, e também olhar para esta história passada, de séculos.
Como caminho eu na minha história? Deixo que Deus caminhe comigo ou quero caminhar sozinho? Deixo que Ele me acaricie, me ajude, me perdoe, me leve em frente para chegar ao encontro com Jesus Cristo?